Xiaomi Mi Note10: Vale a pena? Confira a ficha técnica
A Xiaomi ganhou corações e mentes dos brasileiros com uma fórmula bem sedutora: aparelhos relativamente baratos e com boas especificações. Mas a fabricante chinesa não é só isso: ela é capaz também de produzir aparelhos mais avançados, que não fazem feio na disputa pela coroa de rei dos Androids contra competidores como a Samsung.
No Brasil, temos um pequeno sabor disso, já que a DL, empresa mineira que toca oficialmente a operação da marca no País, prefere não apostar em topos de linha por conta dos preços altos – o volume não compensaria a importação. Ainda assim, a companhia decidiu abrir uma exceção e trouxe em dezembro de 2019 o Mi Note 10, primeiro celular a chegar ao mercado com uma câmera de 108 megapixels (MP). O modelo é vendido atualmente por até R$ 7 mil, caso a compra seja parcelada (à vista cai para R$ 6.440).
Por esse valor, espera-se que ele entregue especificações altíssimas, mas, pelo visto, o dólar alto puxou o tapete do aparelho no Brasil. Ele não poderia apresentar valores tão altos dadas algumas de suas características.
A maioria dos componentes são “intermediários avançados”. O armazenamento é de 128 GB, sem suporte a cartão de memória, e a memória RAM é de 6 GB. Ele conta com o processador Snapdragon 730G, um processador classificado pela própria Qualcomm como intermediário avançado. Veja bem, nada disso é ruim – a performance com games, vídeos e apps é bem suave. Mas é possível encontrar modelos da Samsung, como o Galaxy Note 10, por valores bem inferiores – cerca de R$ 4 mil.
Agora, se você é fã da marca e não foi embora ainda, vamos falar de coisa boa. A tela de Amoled de 6,47 polegadas e resolução de 2.340 x 1.080 tem cores muito bonitas e um brilho excelente. Ainda mais bacana de usar é o sensor de leitor digital que fica sob o vidro da tela. É só posicionar o dedo no local indicado e o desbloqueio é feito (alô, Apple, vem cá aprender um pouco). Funciona bem, até quando o dedo está mais úmido.
Outro ponto positivo, é a presença da entrada para fones de ouvido. Enquanto a maioria das marcas engata numa jornada cega para eliminar o componente, e assim vender fones sem fio fadados a rapidamente virarem lixo eletrônico, a Xiaomi mantém a entradinha P2 – você pode até ser louco, mas é melhor ser um louco consciente.
Voltando ao painel, ele é curvado – aquele design que a Samsung popularizou como “borda infinita”. O entalhe para a câmera frontal é uma suave gota. Não incomoda, diferentemente do espaço retangular que o iPhone dedica para o componente, mas confesso que gosto mais do estilo “furo”. É um belo cartão de visitas, mas o design curvado não é para todo mundo.
Se, assim como eu, seus dedos se assemelham a tocos de árvore, você vai ficar encostando na borda curvada, acionando comandos aleatoriamente. Na maioria das vezes, não incomoda. Mas em dias de mau humor, você vai odiar o telefone – principalmente quando estiver jogando. Nas configurações, é possível aumentar a área ‘insensível’ da borda para evitar que isso aconteça, mas não funcionou comigo. Mesmo com a área mais larga, continuei me atrapalhando. Problemas no meu design, certamente.
Já que estamos falando de design, o Mi Note 10 tem a traseira feito com Gorilla Glass 5, vidro de alta resistência, que, de fato, transmite sensação de alta resistência. Além de preto e branco, o dispositivo também está disponível em ‘verde chavoso’ – um verde espelhado que faz lembrar o tipo de óculos escuros tão populares nos anos 90, época em que grupos de pagode, a banheira do Gugu e as camisetas da SidePlay experimentavam o seu auge. Para alegria da reportagem, pois confere muito estilo, essa foi a unidade disponibilizada para o teste.
Na traseira, há ainda um pequeno calombo preto que acomoda três das cinco câmeras. E para terminar de descrever o dispositivo, ele tem um aro de alumínio, também em verde chavoso, que sustenta todo o corpo. Na base, além da entrada para fones e para o carregador USB-C, há uma caixinha de som bem potente – dá para ficar sem a JBL do Neymar. Ou quase isso.
Bateria
A bateria do Mi Note 10 vale o destaque: finalmente aqui o preço mais alto pode fazer sentido. São 5.260 mAh, uma das maiores do mercado. Supera, por exemplo, o Moto G8 Power, o Motorola Edge e o Galaxy S20 Ultra. Perde apenas para o Galaxy M31, da Samsung. E ela dura.
Sem utilizar muito o GPS e a rede móvel, pois estou em casa por causa da pandemia (espero que você esteja também), o Mi Note me entregou dois dias de autonomia mesmo com jogatina, navegação e consumo intenso de vídeos – algo entre 14 e16 horas. Além disso, o aparelho tem um carregador de 30 Watts com tecnologia de carregamento rápido. Nos nossos testes, demorou apenas 55 minutos para encher o tanque do aparelho. Mas aqui vale uma belíssima ressalva.
A tecnologia de carregamento rápido está apenas presente no carregador que acompanha o aparelho. Se você tentar com outros não vai funcionar. E vale ficar atento para possíveis defeitos no carregador oficial. Inicialmente, a Xiaomi enviou para testes uma unidade do Mi Note 10 cujo carregador não funcionava no carregamento rápido. Dessa maneira, a recarga era lenta e dolorosa – demorava duas horas para carregar 20% e quase um dia todo para atingir 100%. Uma busca em fóruns da marca me retornou usuários com o mesmo problema.
A Xiaomi foi informada do problema e uma segunda unidade foi reencaminhada para testes. Dessa vez, estava funcionando bem. Como saber se o seu está funcionando ou não? Além da demora, se o seu estiver com problema você não encontrará a frase “Charge Turbo” na tela de carregamento quando conectar o fio ao aparelho.
Câmera
Aqui temos uma outra área que pode justificar o investimento. O Mi Note 10 tem um conjunto com cinco lentes. Além da grande angular de 108 MP, há uma ultra angular de 20 MP, duas teleobjetivas de 12 MP e 5 MP e uma lente macro de 2 MP.
Sobre o sensor principal, vale notar que, por padrão, o modo de 108 MP não está ativado, e sim um modo de 27 MP. É, talvez, um cuidado do fabricante para evitar os arquivos enormes produzidos em 108 MP, mas também é um fator que desincentiva o uso do recurso. No geral, o modo de 27 MP produz boas cores – em alguns momentos vai passar a sensação de exagero no processamento. Mas é possível tocar a vida. O nível de detalhe é bastante satisfatório.
Quando ativado, o sensor de 108 MP produz imagens enormes e com um grau de detalhe muito alto. Pode ser útil para recortar e dar zoom em pequenas partes de uma imagem enorme. Uma outra opção para fazer isso é ativar o zoom óptico de 2x da lente de 12 MP. Em algumas situações, especialmente em luz baixa, os resultados são melhores do caçar detalhes na foto de 108 MP.
Falando de falta de luminosidade, o Mi Note 10 brilha. O modo noturno consegue resultados muito bons, próximos aos do iPhone 11 Max Pro. É um dos mais interessantes disponíveis no mercado. Já a lente macro não acrescenta muito ao aparelho, e poderia até ter ficado de fora para, quem sabe, dar uma barateada.
Agora já falando de software, o telefone tem o “modo estúdio”, que desfoca o fundo. Além de funcionar bem, permite um grau de controle após a foto ter sido tirada – é possível deixar o nível de desfoque muito alto ou bem leve, a depender do gosto do freguês. O iPhone faz isso também, mas o acesso ao recurso da Xiaomi é mais fácil.
Detalhes tão pequenos
E já que a conversa aqui é software, o Mi Note 10 vem com Android 9 e a interface MIUI 11, criada pela fabricante. Ela traz algumas personalizações, como a já conhecida aparência de iOS, e alguns recursos extras – como permitir a utilização de dois apps ao mesmo tempo (embora a divisão de espaço na tela não seja confortável em um telefone e faça mais sentido em tablets).
São poucos os apps pré-instalados, mas na unidade enviada para os testes, o aparelho já contava com TikTok e o Kwai, app chinês altamente inspirado em seu conterrâneo mais famoso. Se você pretende utilizar, sem crise. É só logar e sair aceitando desafios musicais. Se você não pretende usar, jamais clique neles, pois a sequência de notificações que ocorre é sufocante – mesmo que você não tenha logado elas vão acontecer para tentar te convencer a se cadastrar. É uma espécie de versão virtual de “Você já fez o seu cartão C&A?”.
Outro pequeno detalhe da MIUI que merece atenção por ser muito ruim: apps promovidos em pastas. O aparelho sugere aplicativos para serem baixados em algumas de suas pastas, tipo C6 Bank e Shell Box, então exibe prévias dos logos desses apps. Para se livrar disso, é necessário alterar a seguinte configuração: clique suavemente no nome da pasta como se fosse alterar renomeá-la. E desative a chave de apps promovidos. É possível que o comando para renomear não funcione de primeira, mas insista. De nada.
Vale?
Primeiro a real: não vale a pena comprar nenhum celular atualmente, pois o dólar alto encareceu muito até os aparelhos mais modestos. Se ainda estivesse na faixa dos R$ 4 mil ou R$ 5 mil, o Mi Note 10 seria um baita competidor, especialmente pela bateria, pelas câmeras e pela estileira do design. Para os fãs da marca é um deleite, pois é um dos modelos mais avançados da Xiaomi no País. Mas a R$ 7 mil fica difícil recomendar.
Alguns de seus componentes são apenas “intermediários avançados” e não justificam o preço. São muitos detalhes que deixam a desejar – da sensibilidade na curvatura do vidro, passando pelas pastas patrocinadas, à incompatibilidade de carga rápida com carregadores de terceiros. O Mi Note 10 vai acumulando pequenos pontos contra que, somados, não justificam o valor. Por R$ 7 mil, o consumidor espera a menor quantidade de imperfeições possíveis, o que não acontece com o dispositivo.
Nesse sentido, o Mi Note 10 parece deslocado do mantra de “bom e barato” que consolidou a Xiaomi entre os brasileiros. A própria marca tem opções mais interessantes em seu portfólio. Uma pena.