Tato completa 20 meses de ruptura e R$ 230 mil de salário no cargo
Vice-prefeito de direito, mas não de fato, Antônio Augusto Ambrósio, o “Tato” (MDB), completa em agosto deste ano 20 meses de distanciamento da Prefeitura de Marília. Ele ultrapassa R$ 230 mil recebidos de salário – R$ 11,5 mil por mês – sem exercer o cargo para o qual foi eleito.
O empresário anunciou ruptura política com o prefeito Daniel Alonso (PSDB) em novembro de 2018. Em coletiva de imprensa, comunicou o afastamento da Prefeitura, mas disse que não renunciaria ao cargo público. Nas palavras dele, atuaria como um “fiscal” do governo – embora não tenha sido eleito vereador.
O Marília Notícia conversou com o vice-prefeito. Tato disse que que não vê problemas em não representar oficialmente o município e receber salário. Ele negou ter se afastado do governo por vontade própria e alegou que seu gabinete foi “desmontado” por ordem de Daniel.
“Não tenho sala. Vou sentar onde para trabalhar? Desmontaram minha sala. Mas eu não preciso estar na Prefeitura para trabalhar pela população. Não preciso ‘aparecer em fotos’. Estou trabalhando diariamente”, garante.
Em uma confusão entre o público e o privado, misturando o salário de vice-prefeito e os serviços públicos que a municipalidade é obrigada a prestar, o empresário diz que investe dinheiro do bolso para atender pedidos dos moradores.
“Eu coloco, todo mês, três, quatro mil reais do meu bolso a mais do que recebo da Prefeitura e gasto tudo com a população. Eu não preciso ficar saindo na foto com as pessoas que eu ajudo. Eu dei uma ponte metálica de mais de R$ 200 mil, coloquei uma em estrada rural. Quero ver se vão me devolver esse dinheiro. Tem uma família com uma criança doente, por mês são dois mil reais. A Prefeitura não está fazendo nada, eu faço”, se defende.
O político diz ainda que recebe reclamações dos moradores, pedidos de ambulância e serviços públicos. “Eu ligo, vou atrás, resolvo, sem precisar ir na Prefeitura. Estou trabalhando”, garante.
Pai da criança
O vice-prefeito afirmou ao site ter sido responsável por atrair à cidade R$ 8 milhões para os hospitais, em função da pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, foi uma indicação do deputado federal Baleia Rossi (MDB).
Conforme já havia noticiado o MN, o recurso referido é, na verdade, resultado de um fundo federal de R$ 2 bilhões de socorro do Ministério da Saúde aos hospitais filantrópicos e instituições estaduais do país.
O dinheiro foi liberado por meio de duas portarias do Ministério, por ato do Poder Executivo, sem interferência de parlamentares.
O vice-prefeito também reivindica a conquista de ambulâncias – para Marília e Pompeia – que seriam resultado da intervenção do seu partido.
Os veículos, recebidos pelas prefeituras, fazem parte do processo de criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu-Regional) e estão vinculados a atos do Poder Executivo – Ministério da Saúde.
“Quem ligou para Brasília para conseguir? O prefeito (Daniel Alonso) vai dizer que foi ele, porque é a assinatura dele no requerimento, mas quem vai atrás do deputado, para liberar? Temos feito esse trabalho, mas isso não aparece”, garante.
Eleições
Apesar do sumiço público, o vice-prefeito assegura que está em paz com o eleitorado e afirma que tem sido procurado por muitos partidos para alianças. Ele diz acreditar, porém, que as “eleições estão longe e agora é hora de trabalhar, resolver o problema da pandemia”.
“Eu não sou carta fora do baralho. Fui procurado por muitos, mas não estou pensando nisso agora. Talvez no final desse mês tenha alguma novidade. A população vai saber reconhecer”, espera.
Tato Ambrósio, que retornou chamada telefônica do MN de sua empresa – nesta quarta-feira à tarde – encerrou a entrevista dizendo que a preocupação dele no momento é trabalhar.
O vice-prefeito anunciou que estaria saindo de viagem ao Mato Grosso e resumiu. “Vamos trabalhar, pegar obra para fazer”, sem detalhar se pública ou privada.