Pais pedem volta às aulas em Marília apenas no ano que vem
Um abaixo-assinado foi criado no último final de semana pedindo que a volta das aulas da rede municipal de ensino de Marília não ocorra em 2020 devido à pandemia do novo coronavírus. Na manhã desta segunda-feira eram quase 400 adesões.
A reivindicação é referente especificamente às Escolas Municipais de Ensino Infantil (Emeis) e Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs).
A solicitação é pela “retomada das aulas para 2021, caso a pandemia da Covid-19 esteja controlada e todas as crianças vacinadas contra o coronavírus”.
No entanto, ainda não é possível cravar quando vacinas estarão disponíveis para aplicação em massa, apesar de algumas pesquisas estarem bastante avançadas.
A reportagem do Marília Notícia conversou com cerca de dez mães de alunos da rede municipal e a maioria delas concorda que a retomada das aulas em 2020 seria perigosa, tanto para as crianças quanto para membros das famílias que são dos grupos de risco.
A questão, porém, não é unanime entre as entrevistadas. Também foram ouvidas professoras da Prefeitura, que falaram sobre dificuldades para se evitar aglomerações e também os desafios encontrados no contato com os pais e alunos via WhatsApp, por exemplo.
Medo
“Tenho um filho de sete anos no segundo ano da Emef Edméa Braz Rojo Sola. Este ano meu filho não volta pra escola até ter uma vacina”, disse uma mãe que preferiu não se identificar.
A microempreendedora individual Maria Augusta, 42 anos, também concorda. Seu filho de nove anos não deve voltar às aulas na Emef Américo Capelloza este ano, garante.
“Não pretendo mandar às aulas, caso retorne esse ano. Até mesmo minha filha de 14 anos que estuda em escola particular, se voltar eu não vou permitir a ida às aulas presencias este ano”, comentou Maria Augusta.
De acordo com ela, a preocupação é “por ainda não haver a vacina e nem tratamento, e sabemos que crianças não sabem se proteger como deve ser feito”. “E há preocupação com os avós que são do grupo de risco”, completou.
Outra mãe de aluno, identificada apenas como Manuela, comentou que “em casa estou tendo os cuidados necessários para a segurança das crianças”. “Somente irei deixar voltar se realmente me passarem tudo que será feito para garantir a segurança”.
A diarista Michele afirma que não concorda com a retomada da aulas em 2020 também pela dificuldade em garantir que as crianças respeitarão as regras sanitárias e de comportamento que podem evitar o contágio.
Dificuldade
Outra mãe que preferiu não ter seu nome divulgado afirmou que concorda com o retorno às aulas presenciais “se realmente tiver já controlada a disseminação da Covid-19”.
“Eu trabalho o dia todo e tenho que pagar uma pessoa para ficar com meu filho ou deixar com a avó. Poderiam voltar aos poucos com uso de máscara ou redução, uma turma duas vezes na semana, pois tá bem difícil trabalhar e ainda ensinar os filhos em casa”, comentou.
Identificada apenas como Celina, mãe de aluna no último ano da rede municipal, afirma que “infelizmente este vai ser um ano perdido”.
“As professoras fizeram grupo no WhatsApp para as crianças fazerem as vivências. Na minha opinião não é uma coisa tão produtiva para uma criança. Eu estou me sentindo uma péssima mãe por não poder estar acompanhando, pois trabalho o dia todo, só estou em casa depois das 19h. Está difícil não só pra mim, mas para outros pais que não estão conseguindo seguir também”.
Professora
Uma professora conversou com a reportagem sob a condição de anonimato e comentou que tem um grupo de WhatsApp com 220 crianças, mas “infelizmente são poucos os que têm acesso”.
“Já cansei de ligar para os pais e alguns não atendem mais e falam que este ano deveria ser deletado”, comentou.
“Em relação às aulas online, a Secretaria da Educação, juntamente com a Prefeitura, deveriam fazer um chamamento maior, pois ficou toda a responsabilidade em cima da gente e muitas crianças não tem acesso à internet. Estamos nos desdobrando para fazer de tudo para que os alunos procurem a escola, mas está muito difícil”, completou.
Ela também se preocupa com uma eventual volta às aulas ainda este ano. “Não tem como a gente dar distanciamento entre as crianças, isso é impossível. Dou aula em escola integral, não tem espaço nem em sala de aula quanto mais no refeitório ou qualquer outro lugar”, afirmou.
“Pra você ter uma ideia, no refeitório cabem duas turmas e um sentado ao lado do outro. Se fizermos horários diferentes para o almoço ou recreio, é o dia todo e as crianças irão almoçar muito tarde”, completou a professora.
Prefeitura
Após questionamento do site, o secretário da Educação de Marília, Helter Bochi, afirmou que o município está alinhado ao Plano São Paulo e às recomendações das autoridades da Saúde.
“Não há como o município agir isoladamente, uma vez que temos na mesma faixa etária alunos da rede municipal e estadual. O retorno deve abranger todos os alunos que estudam em Marília, independente de qual sistema pertencem”, afirmou Helter.
“O que podemos afirmar é que, conforme orientação do prefeito Daniel Alonso (PSDB), esse retorno deverá ser realizado de forma a preservar a integridade da saúde de todas as crianças de Marília”, finalizou.
Na última sexta-feira (17) o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou que está mantida a volta às aulas no início de setembro para as cidades que estiverem por mais de 28 dias na ‘fase 3 – amarela’ do Plano São Paulo de flexibilização das restrições.
Marília foi anunciada na ‘fase 2 – laranja’ no dia 10 de julho. Um eventual avanço para a ‘fase 3 – amarela’ pode acontecer na próxima sexta-feira (24), caso a cidade tenha índices para isso.