Polícia apura contradições de PM acusado de matar casal
A Polícia Civil apura contradições no depoimento do policial militar da reserva Washington Luís Sá Freire Paulino, de 55 anos, preso pela morte do servente Júlio Barbosa, de 40 anos, e da companheira dele, Aline Aparecida Balbino, de 31.
O crime aconteceu na madrugada deste sábado (18), em uma chácara de Ourinhos (distante 97 quilômetros). Todos os envolvidos são de Marília.
O corpo de Júlio será sepultado no Cemitério de Padre Nóbrega, às 13h deste domingo (19). Já Aline será enterrada uma hora depois, no Cemitério da Saudade.
Ainda no sábado, Washington, que se aposentou da PM em Marília, foi preso em flagrante e encaminhado para o presídio militar Romão Gomes em São Paulo.
Ele teve a prisão em flagrante confirmada após perícia no local, que afastou – ao menos na fase inicial – a versão de legítima defesa.
O policial foi autuado no artigo 121 do Código Penal (homicídio), combinado com os incisos II (motivo fútil) e IV (crime praticado à emboscada, ou traição), sem que as vítimas tivessem chance de defesa.
Entenda o caso
Conforme a versão dos policiais militares que conduziram o ex-colega de farda no Plantão Policial, Washington se apresentou na sede do batalhão de Ourinhos às 5h de sábado, acompanhado de um sobrinho, que seria dono da chácara onde o crime aconteceu.
Ele teria relatado que Júlio trabalhava como pedreiro em sua chácara, que fica próxima a propriedade do sobrinho, onde estaria pernoitando com sua companheira Aline.
Na noite de sexta-feira (17), o casal, o policial e também o sobrinho teriam participado de um churrasco com ingestão de bebida alcoólica no local. O autor do crime relatou que, após seu parente ter se retirado, teria ocorrido uma briga entre o casal.
Disse ainda, em seu relato no quartel de Ourinhos, que ficou do lado de fora da casa e o casal se recolheu primeiro.
Ao tentar entrar no quarto onde iria dormir – lado oposto do mesmo imóvel – teria sido atacado por Júlio, que estaria armado com uma faca.
Washington relatou ainda que efetuou um disparo no braço do pedreiro e entrou em luta corporal com ele, caindo sobre o colchão onde Júlio dormia com Aline. Durante a confusão, o PM disse ter efetuado mais dois disparos, que atingiram a região do tórax.
A mulher então, teria avançado contra o PM com uma segunda faca, momento em que levou três tiros, disparado da mesma arma, um revólver calibre 38.
Ainda conforme o primeiro relato do policial mariliense, ele teria tentado acionar socorro, mas no local não havia sinal de celular.
Por isso, ele fechou a porta e foi até a casa do sobrinho, contou o que havia acontecido e ambos se deslocaram até o quartel da PM de Ourinhos. Antes, Washington fez uma foto da posição em que os corpos estavam, para mostrar aos policias, no ato de sua apresentação.
Uma das situações que será alvo da investigação é a posição em que os peritos encontraram Aline. A cena do crime para perícia foi diferente da foto apresentada pelo policial.
Outros detalhes, como o estado de conservação e o tipo de faca na mão de Júlio e próximo ao corpo da mulher também chamaram a atenção.
Diferente dos outros utensílios encontrados na casa, as facas eram novas e seriam de modelo usado para caça. Uma das lâminas estava (com o cabo) encostado na mão de Júlio e a outra entre o corpo de Aline e a parede.
Já na foto apresentada pelo PM, a arma branca que seria atribuída a mulher, estava perto do corpo, sobre a cama.
O médico legista também informou, após exame em Washington, que o policial não apresentava lesões visíveis que comprovem em um primeiro momento a versão alegada por ele.
O caso deve ter desdobramentos nos próximos dias, quando a defesa vai tentar o relaxamento da prisão. Laudos da perícia, nos corpos e também no local do crime, podem trazer novas revelações.