Professor Cin indica três livros sobre a questão trans
A coluna Dicas da Semana desta quarta-feira (1º) conta com a indicação de três livros pelo professor Cin Falchi, que já teve parte de sua história e luta contada em reportagem do Marília Notícia.
Ele é doutor em Educação, professor da educação infantil, ensino básico e médio e ensino superior.
Cin também é palestrante sobre temáticas de gêneros e sexualidade, assuntos que permeiam suas indicações para a Dicas.
O objetivo da coluna é apresentar um pouco do gosto e do interesse de marilienses notáveis. E os leitores também podem participar, fazendo suas próprias indicações.
A Dicas da Semana tem duas edições semanais, às quartas e sextas-feiras. São dicas sobre livros, filmes, séries, cervejas, vinhos, viagens e muito mais. Acompanhe!
Viagem Solitária: memórias de um transexual trinta anos depois – escrito por João W. Nery
Sabe daqueles livros que você começa a ler e ao mesmo tempo e que quer saber mais e mais a respeito, também não quer que chegue ao fim? Apresento à vocês “Viagem Solitária: memórias de um transexual trinta anos depois” de João W. Nery, militante e homem trans brasileiro que lutou, até em seu leito de morte, para que vidas trans pudessem ter acesso à políticas públicas e esperança por dias melhores. Nesse livro, João relata um pouco de sua trajetória de vida e a partir de uma narrativa empolgante e cruel, nos traz o cotidiano ainda enfrentado por muitas vidas trans em busca da possibilidade de manter-se viva e vida. Advindo de uma classe média e pouco enquadrado aos padrões sociais, vivenciando um momento de ditadura em nosso país e chegando ao limite de falsificar sua identidade para permanecer sendo ele mesmo, perdendo assim seu diploma de psicólogo, João W. Nery relata, dentre tantas situações, sua busca pela primeira cirurgia de redesignação sexual, anos 27 anos, até seus dias atuais em não cessar de buscar possibilidade de vida para as pessoas trans brasileiras. Essa leitura requer força e abertura para repensarmos nossos lugares e nossas próprias trajetórias. O quanto conseguimos olhar para as diferenças não hegemônicas?
Eu trans: a alça da bolsa, relatos de um transexual – escrito por Jordhan Lessa
Não muito distante do modelo de livro de João W. Nery, temos em “Eu trans: a alça da bolsa, relatos de um transexual” de Jordhan Lessa, nosso grande amigo Jô Lessa, uma narrativa de vida que nos traz a tona a dor das ações que os humanos podem gerar para com as outras pessoas, ao mesmo tempo em que nos revela a potência em permanecer vivo e bem, que outros humanos buscam com tanto ardor e afinco. Em uma história de vida que revela momentos angustiantes de serem lidos, como “estupro corretivo”, mas comuns a uma parcela significativa de pessoas trans, podemos caminhar com Jô no percurso de seus passos e repensar de vida. Com diversos marcadores de negligência expressados profundamente em seu próprio corpo, Jô transmite esperança e possibilidade de ressignificarmos nossas dores e delas fazermos morada de nossas expectativas de um mundo melhor. Até os dias de hoje Jô Lessa é um referencial para a população trans masculina do Brasil, que deposita em seus poucos modelos de vida que permanecem vivos, a esperança do próximo passo rumo ao respeito para com nossas vidas.
Simplesmente Homem – Relatos sobre a experiência cotidiana de homens trans – escrito por Luiz Fernando Prado Uchôa
Um livro atual, com problemáticas nem tão atuais assim, “Simplesmente Homem – Relatos sobre a experiência cotidiana de homens trans” traz seis histórias que em um formato jornalístico-literário relata a vida de homens trans a partir de uma base de pesquisa intensa que culmina na luta pelo reconhecimento de vidas que se fazem na contramão dos padrões normativos de gênero e sexualidade. Luiz Fernando Prado Uchôa é um homem trans gay e a partir de seu TCC (trabalho de conclusão de curso) na área da Comunicação Social – Jornalismo, nos traz um livro que busca ser informativo para pessoas que pouco sabem sobre as vidas trans, na busca por compreensão das diferenças e acreditando assim que talvez consigamos diminuir os preconceitos e sofrimentos que a incompreensão sobre identidade de gênero pode vir a gerar em todas as pessoas, transgêneras e cisgêneras.