Crise castiga setor de alimentação fora de casa e dizima empregos
A pandemia do novo coronavírus atinge em cheio os segmentos de alimentação fora de casa e pelo menos um terço dos empregos do setor já foram perdidos em Marília, conforme estimativa do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Marília (Sinhores).
Marília tem 737 negócios registrados na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), a maioria enquadrada como microempresa – com faturamento bruto de até 30 mil por mês, com menos de 10 funcionários.
A Classificação Nacional de Atividades Econômicas que abrange bares e restaurantes é ampla, o que acaba incluindo também padarias e casas de assados, menos impactadas pela pandemia.
Se a estimativa de empregos perdidos é desoladora, ainda é incerto o número de estabelecimentos que podem ter fechado as portas de forma definitiva.
O presidente do sindicato patronal da categoria, Sinval César Gruppo, afirma que as sondagens aos estabelecimentos são incapazes de detectar, no momento, a mortalidade das empresas.
“Recebemos notícias sobre um outro que não vai mais abrir, mas não dá para saber quem realmente encerrou. Para formalizar, fechar uma empresa, também é preciso pagar. Então fica para depois, fica enrolado, mas não aparece no cadastro como empresa encerrada”, explica.
O sindicato patronal que representa a categoria tem uma base com cerca de 1.600 estabelecimentos em Marília e 4,9 mil na região, porém, tem aproximadamente 250 filiados.
Natimorto pela crise
Com 12 anos de atuação em Marília, a pizzaria e restaurante da família Micheletti, já viveu momentos econômicos diversos no país. Mas a crise provocada pelo coronavírus, além de não ter precedentes, chegou sem avisar e em péssima hora. O momento era de crescimento.
“Estávamos montando uma nova pizzaria, fizemos um financiamento no banco para levantar o dinheiro para o investimento”, relata Rafael Micheletti, da Saldoce Restaurante e Pizzaria.
Ele conta que a ampliação geraria pelo menos mais 15 empregos. “Fomos para Botucatu fazer treinamento, para trazer para Marília pizza frita, com um parceiro forte… um sonho de cinco anos”, relata.
O habite-se da Prefeitura saiu no dia 11 de março e o aluguel começou a contar no dia 20 do mesmo mês, início da pandemia. “O prédio já estava com todos os móveis, bancadas de inox, coifa. Em abril tentamos que a imobiliária intervisse com o proprietário para não cobrar o aluguel, mas infelizmente não foi aceito naquele momento. Devolvemos o prédio”, lamenta o investidor.
Sem socorro
O empresário vê ainda falta de amparo e política pública do Estado. “Quando o governo decretou o início da quarentena, não tivemos a oportunidade nem de trabalhar no final de semana. Houve uma grande perda de insumos, pois o que seria para 15 dias, passou para mais de 90 dias”, conta.
Mesmo com as incertezas, segundo Micheletti nenhum dos 22 trabalhadores – todos registrados – foi demitido. “Recorremos ao governo federal, com a suspensão do contrato de trabalho e agora com a redução da carga horária”.
“O governo federal foi o único que nos deu condições de manter nossos colaboradores recebendo um salário, para poder colocar a comida em sua mesa”, destaca.
A próxima etapa da gestão de crise, para evitar colapso, pode ser um corte de 50% da equipe. “Sem algum apoio estadual, não temos receita suficiente para bancar a todos, porque hoje estamos trabalhando somente com o delivery”.
A modalidade responde por cerca de 20% do faturamento da pizzaria, que aguarda ansiosa a possibilidade de voltar a receber os clientes.
“Estamos sendo massacrados (comerciantes) pelo aumento do Covid-19, sendo que ficamos abertos apenas uma semana. Mercados, bancos e lotéricas, todos os dias lotados, mas quem está pagando um preço muito alto somos nós, do setor de restaurantes. A culpa não é nossa”, defende o empresário.