Internautas de Marília e Garça são alvos de ‘lista antifa bolsonarista’
Pelo menos duas pessoas da região – um rapaz de Marília e uma jovem de Garça – tiveram seus dados de redes sociais expostos em uma lista que teria como objetivo “denunciar” pessoas que se identificam politicamente com a causa antifascista.
A lista tem sido compartilhada em redes sociais, depois da coleta de dados por internautas que teriam atendido o pedido do deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (PSL).
O mariliense de 32 anos exposto, que trabalha como porteiro, falou ao Marília Notícia com a condição de não ter seu nome revelado. Ele afirma que já registrou boletim de ocorrência e procurou um advogado para tomar medidas contra o que considera “exposição indevida”.
O rapaz conta que curtiu uma página de torcida organizada, que se identifica com a causa e acredita que seu nome tenha sido extraído da lista por desconhecidos. Nesta quinta-feira (4) foi avisado por amigos que estava na relação de “denunciados”.
“Sou contra todo tipo de manifestação de preconceito e eu curti a página do Palestra (Palmeiras) antifascista. É a única ligação que tenho com qualquer grupo intitulado nas redes sociais”, disse.
O internauta afirma considerar absurdo que algumas pessoas compartilhem a tal lista, como se estivessem expondo criminosos. Na visão dele, quem repassa está cometendo crime. Trata-se, no mínimo, de uma inversão de valores.
“É uma exposição indevida. Ideal político não é crime. Coloquei um advogado para fazer os trâmites legais. Como cidadão, eu me sinto vulnerável, uma vez que meus dados foram violados e liberados sem qualquer tipo de autorização”, disse.
O internauta, que trabalha como porteiro, defende que o antifascismo é um “movimento legítimo” e que toda forma de preconceito e de violência deve se reprovada. “Não me sinto mal por ser ligado ao antifascismo. Seria muito ruim ser ligado ao próprio fascismo ou nazismo”, afirma.
Na lista que circula nas redes sociais também foram expostos dados de uma jovem que mora em Garça. Ela disse ao MN, também sob anonimato, que vai tomar medidas judiciais cabíveis pela exposição.
A internauta também relatou não ter sofrido nenhuma ameaça, nem importunação após ser apontada como “antifascista” e disse que soube da exposição indevida por amigos.
Entenda
O movimento Antifa, que se contrapõem ao fascismo, é formado por diversos grupos identificados com a esquerda e está presente em vários países. A corrente política tornou-se um dos principais assuntos no mundo, em meio aos protestos nos Estados Unidos, como uma das faces da polarização política.
O presidente dos EUA, Donald Trump, classificou a Antifa como um grupo terrorista. O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, alinhado ideologicamente com o norte-americano, repetiu o discurso que condena os manifestantes antifascismo.
Na esteira do presidente, o deputado bolsonarista Douglas Garcia incentiva a perseguição política de opositores. Ele pediu em suas redes sociais que seus seguidores “denunciassem” antifascistas e foi atendido. Em seguida passou a divulgar uma lista, que agora circula em redes sociais.
Outro deputado federal, da mesma legenda, Daniel Silveira (PSL/RJ), apresentou projeto de lei que visa tipificar os grupos “antifas” (antifascistas) como organizações terroristas. O texto também pretende classificar “demais organizações com ideologias similares” na mesma categoria.