Entidades desconhecem números da crise e impacto no emprego
A emergência na saúde pública e na economia vai completar dois meses na próxima semana. Entretanto os sindicatos e entidades do setor produtivo ainda não conseguiram fazer os cálculos da retração econômica e do fechamento de postos de trabalho.
Indeterminados, nos cálculos da pandemia, estão pessoas como Mayara Santos Silva, de 27 anos, que trabalhava em um café. Ela foi demitida ainda no final de março.
Mãe solteira, moradora do Jardim Bandeirantes, a jovem conta que usou o dinheiro da rescisão para uma “boa compra” e antecipação de alguns meses de aluguel. O dinheiro acabou, os alimentos também estão no fim e este mês ela recebeu doação de uma cesta básica.
“Não vou ter seguro desemprego, porque fiquei pouco tempo nesse último trabalho. Fiz o cadastro no auxílio emergencial, mas ainda está ‘em análise’. Tenho um menino de dez anos e uma menina de três. Preciso trabalhar. O medo é pelo que está por vir”, afirma.
O decreto de situação de calamidade pública no município de Marília está em vigor desde o dia 20 de março. No período, poucas mudanças, que excluíram restrições a alguns serviços, como feiras livres – para adequar a norma local às diretrizes do Estado.
Já o decreto que estabeleceu “medida de quarentena” no Estado de São Paulo foi publicado no dia 22 de março e está em vigor desde o dia 24. Apesar da mudança nas definições federais de serviços essenciais, nas cidades atreladas à decisão estadual, pouca coisa mudou.
Caged
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), principal banco de dados de contratações e demissões de trabalhadores com carteira assinada, teve divulgação para os meses de janeiro e de fevereiro suspensa pelo Ministério da Economia.
Na época foi alegado que “diversos empresários não estão enviando as notificações”, o que levaria a números distorcidos, principalmente de demissões.
A desmotivação para a continuidade da pesquisa foi do próprio governo, que publicou Portaria da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho em outubro do ano passado, desobrigando o envio de dados a partir de janeiro de 2020.
Indústria
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), por meio da regional Marília, informou ter iniciado um levantamento no setor, com base em dados de março, para verificar o nível de atividade. O estudo ainda não foi divulgado.
O órgão aguarda conclusão do levantamento referente a abril, para comparação entre os dois períodos. A pesquisa não deve apontar empregos, apenas dados referentes aos níveis de produção, no terceiro e quarto meses do ano, sob efeito total e parcial da pandemia.
O único dado do segmento industrial veio do Sindicado dos Trabalhadores nas Indústrias Metal-mecânicas de Marília e Região, que apontou cerca de 1,4 mil trabalhadores impactados por suspensão de contratos ou redução de jornada de trabalho. A entidade não relatou demissões.
Comércio
O Sindicato dos Comerciários de Marília e Região informou que também está compilando dados – demissões, suspensões de contratos e redução de jornada – relativos às notificações enviadas pelas empresas.
No segmento comercial, um dos subsetores que mais emprega é o de hotéis, restaurantes, bares e similares. São cerca de 10 mil trabalhadores em Marília, segundo o sindicato patronal.
A entidade também não tem estimativas do impacto, mas acredita que a cidade pode ter repetido, proporcionalmente, os efeitos catastróficos que ocorreram no país, desempregando em Marília pessoas como Mayara, que falou ao Marília Notícia e foi mencionada no início da reportagem.
“A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes nos informou que, desde o início da quarentena, mais um milhão de trabalhadores foram demitidos no setor no país e 20% dos negócios foram fechados”, disse Sinval César Gruppo, presidente do sindicato da categoria.