PM volta para Marília após salvar pacientes com Covid-19
A cabo Juliana Accarini Paes de Assis é fisioterapeuta no 9º Batalhão de Polícia Militar do Interior, localizado em Marília, e acaba de retornar do Centro Médico da Polícia Militar em São Paulo, onde atendeu pacientes internados na UTI de infectados pela Covid-19.
Ela chegou em São Paulo em 6 de abril e voltou para Marília no dia 3 de maio. Em entrevista, cabo Accarini relatou ao Marília Notícia que não se tratou de uma convocação da PM e sim de um ato voluntário. Nos primeiros dias no hospital, foi necessário treinamento antes de poder começar a atender os pacientes.
“Fazia tempo que não trabalhava em hospital, então a princípio fiquei em treinamento, para reaprender o que já sabia. De início fiquei mais auxiliando outros fisioterapeutas, até que me sentisse segura e começasse a trabalhar sozinha”, explicou.
Equipamentos de segurança
O Centro Médico da Polícia Militar tem parceria com o SUS, mas o setor em que ela estava só atendia policiais militares. Cabo Accarini contou que ficou preocupada com o vírus, no entanto, a experiência foi menos pesada do que supunha.
“A gente fica assustado com o vírus, mas é tranquilo. Tinha todo o equipamento de segurança e a gente passou por treinamento para não se contaminar. Tudo é feito de uma maneira que evite a propagação”, disse.
Segundo ela, no hospital não há falta de equipamentos de segurança, o que a deixava mais calma, já que os fisioterapeutas trabalham diretamente com o paciente, principalmente no fortalecimento da parte respiratória.
Máscaras, óculos de proteção, protetores faciais, jalecos descartáveis impermeáveis, luvas de procedimento, protetores de pés. Todo o necessário é fornecido e trocado com frequência.
Emoção
Cabo Accarini relatou como inesquecível o atendimento solo de seu primeiro paciente. Ele já estava entubado e assim permaneceu por cinco dias.
“Eu auxiliei no treinamento para desentubar, até ele ir para o quarto e receber alta. A esposa do paciente havia me contado que ele possui uma chácara, com galinhas. Eu conversava com o paciente todos os dias e dizia que, além da família, seus animais estavam esperando por ele”, contou a cabo ao MN.
O curioso é que essas conversas aconteciam enquanto o paciente estava sedado. Ou seja, Accarini falava e não tinha certeza se era ouvida.
“Quando o paciente acordou, entrei no quarto e falei ‘bom dia’. Na hora ele lembrou que eu conversava com ele sobre os animais. Isso marcou porque o paciente estava sedado, mas lembrava tudo que eu tinha falado nesse meio tempo. Ele acabou se recuperando e teve alta, isso foi muito gratificante”, contou a cabo.
Família
A policial militar disse que não foi fácil controlar a saudade que sentia da família, e principalmente da filha Giulia, de oito anos. Entretanto, a cabo recebeu muito apoio pelo que estava fazendo: cumprir sua missão como militar e ser humano.
Até mesmo a filha Giulia surpreendeu com a resposta dada para a mãe quando soube da viagem para São Paulo.
“Quando fui pra lá, conversei com minha filha e disse que estava indo atender pacientes com coronavírus. Me surpreendi com a resposta”, contou a militar.
“Mamãe, nós temos Deus no coração e quem tem Deus no coração não precisa ter medo de nada. A gente fica forte”, disse a criança para sua mãe.
Enquanto Accarini estava em São Paulo, Giulia sempre perguntava se ela já havia salvado alguém. “Eu respondia que sim. Ela falava ‘então tá bom mamãe, você é uma heroína’. Apesar da saudade e do choro, ela me deu muita força”.
Pacientes
A maioria dos pacientes do Centro Médico da Polícia Militar em São Paulo atendidos pela cabo Accarini era composta de pessoas com complicações.
“O coronavírus afeta mais as pessoas que têm alguma doença de base. Geralmente era esse tipo de paciente ou pessoas idosas que ficavam sob meus cuidados”, falou.
A policial não sabe especificar quantos pacientes atendia por dia. O sistema de trabalho funcionava na modalidade 12 horas de serviço no hospital com 36 horas de descanso.
“A gente perdia pacientes, mas tinha mais recuperações do que perdas. Faleceram pessoas idosas e com grandes complicações de saúde. Mas graças a Deus, ali no Hospital Militar as estatísticas são favoráveis”, relatou.
Conscientização
Accarini acredita que, tanto a população do interior, quanto da Capital do Estado, está com medo do vírus de igual maneira. No entanto, o fato é que a população de São Paulo é bem maior e por isso o número de infectados lá é grande.
A policial e fisioterapeuta falou que passou por uma grande experiência de vida, na qual aprendeu a valorizar mais certas coisas e, principalmente, a família. E apesar da saudade de casa, Accarini garantiu que voltaria para o hospital caso necessário.
De acordo com ela, é preciso que a população tenha consciência de que é preciso se cuidar, fazer a prevenção como o Ministério da Saúde diz, usar máscara, higienizar os materiais, mãos, celular e cumprir demais procedimentos recomendados.
“Se nos cuidarmos não vamos pegar, eu sou prova disso. Fiquei 30 dias lá cuidando de pacientes positivos e não peguei a doença. Antes de voltar já fiquei em resguardo e quando voltei para Marília fiquei uma semana isolada. Fiz o teste e deu negativo”, explicou.
Accarini acredita que, se cuidando, a sociedade vai vencer o coronavírus. Porém, para que isso ocorra, também é necessário otimismo, em sua análise.
“Eu falava muito para os pacientes, às vezes deprimidos, longe da família, que o ‘bichinho’ gosta de pessoas tristes. Por isso, era importante eles terem fé, pensar em coisas boas, que o corpo iria reagir”.
A policial finalizou a entrevista ao MN com uma mensagem de otimismo.
“A gente tem que ter medo, exitem vários vírus mortais. Mas o mais importante é a gente se cuidar e aproveitar esse momento em que estamos ficando em casa para estar com a família. A vida passa e a gente não sabe o dia de amanhã. Vamos nos apegar às coisas boas da vida. Hoje dou muito mais valor a essas coisas, porque lá no hospital vi como é difícil ficar longe da família, como é difícil estar doente, ter medo, ficar sozinho.”