Publicitária de Marília enfrenta quarentena na Argentina
A publicitária e colunista social Alê Custódio, amplamente reconhecida por seu trabalho na cidade com o site Giro Marília, está há mais de um mês na Argentina com sua filha Thayná, que foi ao país vizinho estudar. Juntas elas enfrentam em Buenos Aires o desafio do isolamento social longe da família, com uma língua diferente e pessoas desconhecidas.
Em entrevista ao Marília Notícia, Alê falou sobre como tem passado os dias após o cancelamento de seu voo de volta para o Brasil, a interlocução com o Governo Federal e a decisão de continuar com sua filha até que a situação se estabilize.
Ela também comparou a quarentena argentina com a brasileira e falou sobre situações que vêm chamando sua atenção. Leia abaixo.
Marília Notícia – Há quanto tempo está na Argentina e o que houve para não conseguir deixar o país?
Alê Custódio – Chegamos dia 27 de fevereiro, logo após o carnaval, já havia preocupação em aeroportos e nas ruas, mas sem medidas de restrição. Em meados de março o governo argentino decretou quarentena rigorosa. Aqui é proibido estar na rua exceto para serviços essenciais, como supermercados, farmácias, saúde ou bancos. Fronteiras e aeroportos foram fechados. Tinha passagem de volta comprada, mas o voo foi cancelado.
MN – E qual era o objetivo da viagem?
AC – Vim acompanhar minha filha, que vai fazer um ano de curso na Argentina, e ajustar detalhes sobre alimentação, documentação, acomodações e outros. Estamos em um apartamento alugado.
MN – Tem expectativas sobre o retorno, solicitou apoio ao Governo Federal?
AC – Não [tenho expectativas ainda] por não saber quando os voos ou linhas regulares de transporte vão ser reabertos. Mandei um pedido de informações. O governo ofereceu a alguns brasileiros um ônibus para 60 pessoas que deixaria o grupo na divisa com o Rio Grande do Sul. Não aceitei porque minha filha ficaria sozinha aqui na quarentena e pelos problemas de logística: aglomeração sem informações de controle, chegar ao Brasil a 1.300 km de casa sem saber como seriam custos, prazos e formas do trajeto final.
MN – Quais as diferenças entre a quarentena brasileira e a argentina?
AC – Aqui é rigorosamente proibido sair de casa. Estamos em frente a uma grande avenida, ao lado de universidades e praça e está tudo vazio. O governo já apreendeu veículos, já fez detenções em aglomerações, há muito rigor contra a movimentação de pessoas.
MN – Como os argentinos estão encarando a situação?
AC – Temos pouco contato. A decretação de quarentena foi uma medida que uniu o governo e a oposição na cidade. Há uma preocupação geral, mas também houve situações de produtos sumirem das prateleiras nos primeiros dias. Toda as noites são feitos panelaços em apoio às equipes de saúde.
MN – Qual é o “clima” por aí? O emocional das pessoas? O sentimento é de otimismo ou não? Existe confiança nas ações do governo?
AC – A mídia tem dado suporte, havia mais confiança até o dia em que foram feitos pagamentos aos aposentados com uma concentração brutal de pessoas nas ruas, aproximação de idosos, idosos com mal-estar, provocou algum desgaste. Os jornais falam muito sobre o Brasil e em tom muito crítico ao governo federal.
MN – Você teve notícia de outros brasileiros que estão na Argentina também?
AC – Sabemos [de outros brasileiros] por alguns grupos de WhatsApp, há muita troca de informações, especialmente sobre produtos e serviços.
MN – Como tem sido sua rotina por aí nessas circunstâncias?
AC – Como boa parte do meu trabalho é pela internet, tento manter postagens diárias nas minhas contas de Instagram e Facebook, ajudo na divulgação do material do Giro [portal de notícias em que ela atua], então isso toma bastante tempo. Minha filha estuda bastante para aperfeiçoar o idioma e compreender o funcionamento das instituições e serviços do país. Revezamos as saídas para compras e banco, para que as duas possam tomar algum ar de vez em quando, sempre com medidas de cuidado, escolhemos lugares com menos filas, mesmo que não sejam os melhores para as compras. Muito tempo na TV e internet vendo notícias, cuidados com a casa, coisas assim.
MN – Como você se sente em relação à situação?
AC – É uma mistura de emoções. Preocupação por nós aqui, dificuldade em manter uma quarentena rigorosa assim, há anos frequento academia diariamente, tenho uma rotina agitada de gravações para programas de TV e para as páginas do Giro Marília, então as restrições causam alguma angústia. Preocupação com a família no Brasil, o desencontro de informações no país, as dificuldades econômicas, oferecer alternativas aos clientes e tornar o Giro pró-ativo para que as empresas sejam ajudadas neste momento. Ninguém pode ou deveria estar confortável na situação, não estamos de férias, a epidemia preocupa, a economia preocupa, as pessoas que podem ser atingidas preocupam demais. Procuramos fazer nossa parte nos hábitos do dia-a-dia e no trabalho do Giro.
MN – Conta pra gente sobre situações que te chamaram a atenção na Argentina.
AC – Encontramos diferentes reações nas ruas e nos serviços. Em uma ida ao supermercado, a leitora do cartão deu erro e a funcionária recusou a passar de novo, pediu pagamento em dinheiro, que eu não havia levado, compro todo dia ali com cartão. Perdemos um tempo enorme discutindo, fila se formando, até ela passar de novo e o pagamento ser feito. Por outro lado, em uma compra de alimentos em uma casa de massas, o dono não estava aceitando cartão. Tentei devolver a compra. Ele não deixou. Mandou eu levar, alimentar minha filha e voltar quando pudesse pagar. Estamos enfrentando algumas diferenças de hábitos. Produtos como frutas com preços muito altos, o doce de leite mais gostoso que já provamos, vinhos a preços muito baixos, dificuldade em encontrar pipoca ou suplementos que eu uso pelo programa de exercícios e atividade de saúde. Fazemos treinos físicos em casa com apoio da personal Jamile Farath, que é de Marília, mas atua em São Paulo e está oferecendo atividades pela internet. Enfim, nos adaptando às novas exigências e às novas relações que a epidemia cria.