Faxineira termina supletivo e passa no vestibular da Unesp
A certeza de que a educação liberta vem da Antiguidade, mais especificamente do filósofo Epicteto. Uma arma com grande poder de transformação. Essa é a aposta da estudante universitária e faxineira mariliense Elisângela da Silva Almeida, de 29 anos.
Ela foi aprovada para cursar pedagogia no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília, após concluir o Ensino Médio no Centro Estadual de Educação para Jovens e Adultos (Ceeja).
Além do trabalho – desde os 12 anos – e dos estudos supletivos recém-concluídos, Elisângela encara a missão de educar os dois filhos, de nove e 13 anos.
Ela conta que o incentivo para estudar foi fortalecido durante o Ensino Médio, pelos professores e pelo coordenador. No trabalho, recebeu o apoio necessário para suportar a pesada rotina.
“Já tive alguns empregos que eram complicados. De sofrer humilhação mesmo. Mas há um ano e meio trabalho registrada, três vezes por semana, em uma casa onde me tratam muito bem, respeitam muito e fazem de tudo para me ajudar”, relata Elisângela.
Nos outros dois dias, ela trabalha para outra família. Com a “semana fechada”, consegue o suficiente para o sustento dos filhos, mas vive uma vida modesta e regrada.
Elisângela conta que, após todo o esforço para concluir os estudos, chegou para fazer a segunda prova do vestibular sem o documento pessoal. Havia esquecido o RG. “Meu irmão conseguiu me levar. Entrei faltando dez minutos para o portão fechar”, relembra.
Quando pegou a prova, outro susto. Percebeu que estava concorrendo a uma vaga no turno da manhã. Mesmo acreditando que jamais poderia cursar, fez seu melhor. O resultado, foi a aprovação.
“Minha patroa perguntou como tinha me saído. Falei meio desanimada, que não ia conseguir fazer, mesmo que passasse. Contei para ela do meu erro, preencher equivocadamente o formulário de inscrição”, conta a faxineira.
Os dias se passaram e Elisângela, ao ver seu nome na lista de aprovados, não se conteve. “Olhei a lista e não acreditei. Tirei print, olhei de novo, fiquei muito feliz”. A alegria foi ainda maior quando recebeu uma espécie de presente da sua empregadora.
“Ela é uma pessoa muito generosa. Olhou pra mim compartilhando minha alegria e disse que eu ia estudar sim. Mudou meu horário. Vou trabalhar a partir das 13h”, conta emocionada a universitária.
Elisângela está ansiosa com o início das aulas e sabe que não será fácil, mas valoriza os passos percorridos e tem visão de futuro. “Vou ser professora. Sempre tive o desejo de ensinar. Na igreja, eu ficava cuidando das crianças. Estou determinada a prosseguir”, avisa a futura educadora.