Ex-governador critica Doria em encontro do PSDB em Marília
É batido, mas já dizia o ditado: dois bicudos não se bicam. Pois bem, durante o encontro regional do PSDB em Marília, neste sábado (8), ficou ainda mais evidente que o ex-governador Geraldo Alckmin e o atual, João Dória, vivem um confronto de gerações e de visões que podem resgatar ou implodir o partido.
Para quem achou que ele era “carta fora do baralho”, Alckmin tem reunido apoios importantes e tentado “colar sua imagem” a um ativista da social democracia, diferente do “governador vitalício” que parecia, em meio aos mandados sucessivos e alternados de tucanos.
Nestes novos tempos da política, ele ainda não está sendo fotografado ajudando os garis nas ruas da Capital, mas já encara uma viagem de Marília a São Paulo no Expresso de Prata numa boa. Com as ‘sandálias da humildade’, o ex-governador tenta recuperar o tempo e os votos perdidos.
Na fila do guichê, na tarde deste sábado, o político chamou a atenção de outros passageiros, ao embarcar na linha mais usada de Marília. A chegada à cidade foi num voo comercial e o trajeto até a Acim – sede do encontro – foi de táxi.
A simplicidade do ex-governador revela também mudança de estratégia. Nos bastidores, o Marília Notícia apurou que a falta de espaço no ninho tucano está em ponto de ebulição. Se os reformistas saírem vencedores, pode ser que no futuro não exista mais ninho e nem tucanos.
Bicos-duros
“Não abrimos mão das nossas cores, da nossa história, do legado do governador Franco Montoro, da nossa raiz, de onde surgimos (ala intelectualizada do antigo MDB)”.
O discurso é do Coordenador Regional da legenda, médico de Pompéia, Roberto Mauro Borges, conhecido como “Tareco”. Soou como música aos ouvidos do ex-governador.
Na presença de Alckmin, expressões “tucano raiz” e “bico duro” são comuns, para invocar a tradição da social democracia que governou São Paulo de 1995 até 2018, quando Alckmin afastou-se para tentar o Planalto.
Na gestão de João Dória, muitos tucanos parecem não se reconhecer. E já deixam claro essas diferenças. Alckmin foi enfático ao defender um Estado “que cuide melhor das pessoas”, usando um de seus bordões. O super liberalismo de Dória soa-lhe estranho, perto da social-democracia idealizada, capaz de atrair votos de quem ainda não viu o país melhorar, sob a influência da Escola de Chicago.
Aos jornalistas, o ex-governador preocupou-se mais em falar sobre Bom Prato, Rede Lucy Montoro, reforma de R$ 30 milhões na urgência do Hospital das Clínicas. Para honrar o anfitrião Daniel Alonso, também foi o mais municipalista dos políticos.
Quando a conversa chegou à sucessão no Planalto e no Bandeirantes, o médico – atualmente professor em duas instituições de Ensino Superior – desconversou. Acabou o tempo para entrevistas.
Enquanto o PSDB decide o que quer ser, em âmbito estadual, quem fica em “saia-justa” são os prefeitos, como o próprio Daniel Alonso, que precisa de ambos os PSDBs para sair vivo da eleição deste ano.
Nos bastidores dos bastidores, o empurra-empurra no ninho tucano é ainda mais complicado para os prefeitos, que precisam lidar, inclusive, com tucanos neófitos alinhados ao reformista João Dória, “infiltrados” entre os bicos-duros.