‘Batchan Fitness’ revela segredos da longevidade aos 80 anos
Viver para sempre é um sonho que já morreu com várias gerações, mas viver bem e bastante tempo é uma realidade para muitos. Agora, fazer alongamento, três séries de 15 abdominais cada, caminhada, treino muscular com carga (livre e aparelhos), aos 80 anos, isso é para a dona Laura Ikemoto, a “Batchan” Fitness – avó em japonês.
Ela frequenta diariamente uma academia no centro de Marília e impressiona pela força e vitalidade.
Há apenas um ano e meio, essa simpática vovozinha, filha de imigrantes japoneses, descobriu a musculação. Foi sugestão da filha, para espantar o tédio e a falta de motivação que ela havia relatado à família. Antes dos treinos diários, apenas leves caminhadas.
Feirante há 42 anos, ela dedica pelo menos uma hora e meia do seu dia ao treino. Tolera a esteira e explora os equipamentos (máquinas e alteres). Vai além e utiliza as possibilidades do próprio corpo – para fazer as impressionantes séries de abdominais, por exemplo.
“Desde o primeiro dia que entrei aqui, não parei mais. Fui recebida com muito carinho. Eles (personal e outros frequentadores) cuidam de mim, dão atenção. Tem dia que eu venho duas vezes. Cuidar da minha saúde, hoje, é uma das principais prioridades da minha vida”, define Batchan.
Nascida na década de 1940 em Osvaldo Cruz (distante 125 quilômetros de Marília), Laura é filha de imigrantes japoneses. “Meus pais pensaram em colocar o nome Akari, que significa ‘luz’, mas era tempo de guerra – Segunda Guerra Mundial – e algumas famílias preferiam evitar nomes japoneses”, revela.
Movimentar o corpo nunca foi novidade para a “pequena grande mulher”, que afirma ter começado a trabalhar aos sete anos, nas lavouras de algodão. Na década de 70, como muitas famílias nipo-brasileiras, novos ares, com mudança às cidades e trabalho duro nas feiras livres.
“Sou feirante até hoje, não abro mão de trabalhar. Meu marido começou só com ovos, mas daí percebemos que era pouco. Comecei a fazer pastel. Era o melhor da cidade (Osvaldo Cruz), fazia muito sucesso. Aqui em Marília, continuamos. São 42 anos como feirante”, conta Batchan.
Saúde
A vovó fitness afirma não tomar remédios. Tem níveis de colesterol adequados, nada de diabetes ou hipertensão. Vai no oftalmologista e, segundo ela, já ouviu do médico que “está enxergando bem melhor do que ele”. Seu único diagnóstico desfavorável é a osteoporose.
Por isso, os exercícios são orientados. O personal Rodrigo Lucca acompanha a rotina de treinamento e revela um dos segredos de Batchan. “É o bom humor. A gente brinca o tempo todo. A vó adora fazer caras e bocas. Fazemos isso para testar a concentração dela e sempre acaba em gargalhada”, diverte-se Rodrigo.
Mas também tem a parte séria. Os exercícios aeróbicos favorecem o condicionamento e qualidade respiratória. Já os movimentos com carga, promovem desenvolvimento muscular, sempre supervisionados, com carga moderada.
“Eu tenho que ficar em cima, porque ela quer sempre mais. Ela é muito ativa, animada, não tem limites, mas é obediente. Acima de tudo, acredito que ela é uma pessoa sábia, que ama viver. A ‘Ba’ nos inspira muito”, afirma o personal.
E tem gente “no vácuo” da Batchan fitness. Tudo bem que ele tem dez anos a menos. Aos 70, o administrador aposentado Rui Ferreira vê na colega de treino uma motivação a mais para continuar. Ele frequenta academias há 15 anos.
“A Batchan é um exemplo pra gente. Com uma certa idade, você começa a perder massa muscular, além de todas as consequências que o corpo sente. Uma coisa puxa a outra. Fazendo exercícios, eu me preocupo em me alimentar melhor, preservo tônus e força física. Tenho diabetes sob controle e vou em frente”, disse.
Saber viver
Além dos novos amigos, os dois filhos motivam a vovó fitness. Aliás, de diferentes maneiras. Foi Sueli quem sugeriu que a mãe procurasse uma academia de musculação. Nem ela imaginava a facilidade de adaptação e a proporção dos benefícios.
Já Marcos, tem que pegar no pesado. “Começou a vir comigo. Eu incentivo ele a treinar porque está com sobrepeso e tem que cuidar da saúde. No começo, acho que não gostava muito, mas está se acostumando”, preocupa-se a mãe. “Tem que acompanhar, mas não é fácil. Ela tem mais ânimo que eu”, confessa o homem de 42 anos.
Aos 80 anos, viúva há sete, aluna de academia há menos de dois anos e com desempenho invejável na aptidão física, a vovó faz questão de compartilhar a “fórmula”, mas diz quem não é segredo. A maioria das pessoas já sabe, embora não pratique.
“Sempre andei muito a pé, fui muito ativa, me alimento bem e trabalho o suficiente. Não me preocupo com dinheiro. Ele vem. Deus provê. Outro dia me perguntaram na feira: Foi bom hoje? Eu disse sim, muito bom. A mesma pessoa perguntou: vendeu bem? Eu disse: Não, vendi o que Deus permitiu”.
Batchan diz ainda que o segundo e terceiro segredos são não guardar rancor e saber priorizar. “Você não pode ter raiva de ninguém. A gente também tem que ser inteligente. Hoje, a minha prioridade é cuidar da minha saúde. Não estou preocupada se tem louça suja. A louça espera, minha saúde não”, ensina.
Depois dos segredos da longevidade, um alerta. “Uma coisa que eu acho que o tempo não perdoa é a memória. Minha filha diz: ‘mãe, você precisa se organizar. Escreve tudo’. É o que eu estou fazendo. Eu anoto pra não esquecer. E isso funciona”, revela dona Laura.
Talvez seria essa a segunda queixa ao médico (além da osteoporose), revelada apenas no final da entrevista, mas até para as “fugas de memória”, a batchan fitness já encontrou uma forma disciplinada e inteligente de driblar. Quanta sabedoria de Laura! Aliás, o nome que os pais escolheram não deixou nada a desejar. Significa “vitoriosa”, merecedora de “láureas”.