Bombeiros admitem ‘subjetividade’ em vistoria no Abreuzão
Em entrevista exclusiva ao Marília Notícia na tarde desta segunda-feira (27), o comandante do 10º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Marília, major Marcelo Alves dos Santos, admitiu haver ‘subjetividades’ nas vistorias realizadas pelo órgão no Estádio Municipal Bento de Abreu Sampaio Vidal, o Abreuzão.
As duas vistorias mais recentes foram feitas na última quarta-feira (22) e sexta-feira (24), um dia antes da estreia do Marília Atlético Clube (MAC) no Campeonato Paulista da Série A3. A comissão de avaliação foi formada por três bombeiros; um de Marília e dois de Bauru.
Segundo ele, a avaliação – que pode variar de um especialista para outro – acontece em “aspectos não cobertos pela norma, ou por interpretação da norma”.
No jogo ocorrido sábado (25), em que o alviceleste estreou com derrota contra o Linense, a torcida maqueana teve direito a 300 ingressos e só pôde ocupar o chamado “tobogã de visitantes”.
Marcelo Alves disse ao MN que a escolha ocorreu por se tratar do espaço mais próximo de saídas de emergência, que “não implicariam nos torcedores percorrerem outras áreas do estádio”. Por isso, a entrada aconteceu somente pela rua 21 de Abril.
O comandante disse ainda que o parecer da Comissão listou todas as inconformidades verificadas. No entanto, o Corpo de Bombeiros recusou-se a fornecer o documento ao MN, alegando que o “interesse é particular das partes envolvidas”, no caso, o clube e a Prefeitura.
Sem revelar número de inconformidades, o comandante diz que “não são poucas” e grande parte está relacionado ao fluxo de pessoas até as rotas de fuga e o número de saídas de emergência.
Alves disse ainda que, em sua avaliação, o estádio tem melhorado e que a liberação deve ser gradual, conforme as melhorias forem feitas. “O aspecto geral do estádio está muito bom. Mas o problema não é aspecto visível, mas as questões próprias dos bombeiros, questões técnicas”, disse.
A liberação de 300 lugares no “tobogã de visitantes”, segundo ele, pode avançar no sábado para a estrutura completa, com total de 1,5 mil lugares. “Vai depender das adequações que conseguirem fazer”, afirmou.
Eventos anteriores
Segundo o comandante, o AVCB (Auto de Vistoria de Corpo de Bombeiros) do estádio teria vencido no dia 03 de janeiro. O MAC inclusive fez um jogo pela Copa São Paulo de Futebol Junior, contra o Timon do Maranhão, no dia 06 de janeiro, com o documento vencido. No dia 09 de janeiro, na partida contra o Santos, o estádio já havia sido interditado pela corporação.
Questionado se já não havia problemas no show realizado no ano passado pela Secretaria Municipal de Educação, quando, segundo a Prefeitura, cerca de 10 mil pessoas – principalmente crianças – foram ao estádio, o major afirmou ter havido recentes mudanças em legislação.
“Já está sob vigência o Novo Código de Segurança, lei estadual que traz novidades em relação à atuação do Corpo de Bombeiros. Antes éramos apenas um órgão consultivo, sendo que era necessário um pedido de vistoria, uma provocação. Agora temos poder de polícia e obrigação de fazer a fiscalização, tendo em vista o evento programado”, disse Alves.
Lei é antiga
A legislação mencionada pelo comandante é, na verdade, o Código Estadual de Proteção Contra Incêndios e Emergências de São Paulo, assinado pelo então governador Geraldo Alckmin há cinco anos.
A medida permite que os bombeiros vistoriem locais mesmo sem solicitação. Caso não esteja de acordo com as normas de prevenção contra incêndios ou haja algum problema estrutural que comprometa a segurança, o dono ou responsável pelo imóvel pode ser advertido, multado e ter o AVCB cassado. Portanto, no caso do Abreuzão, a vistoria poderia ter sido feita antes dos grandes eventos.
A nova vistoria, que poderá liberar até 1,5 mil lugares, não será feita pela Comissão. Segundo o oficial, os bombeiros de Marília vão apenas comparar os apontamentos do parecer com as melhorias realizadas. O documento recebido pelo clube, ainda segundo o comandante, relaciona as adequações a serem feitas e os respectivos assentos que serão liberados.
“Achar culpados não é uma visão correta”
Nos bastidores do MAC se fala em uma suposta perseguição política contra Daniel Alonso, prefeito da cidade e também gestor do clube.
No último sábado, muito nervoso com a situação, Daniel afirmou para assessores que está sendo perseguido politicamente. “Todos os anos tava tudo certo, é eu assumir o time que iria fechar as portas, ter coragem para salvar o MAC, que aparece um monte interessado”, disse o prefeito no calor da emoção.
Questionado sobre se havia um certo exagero na interdição, o major se posicionou. “Achar culpados não é uma visão correta. A preocupação com a segurança deve ser de todos e esse fato (interdição) não pode ser usado para atacar pessoas ou instituições. O fato é que as pessoas, em geral, só lembram dos bombeiros após uma ocorrência”, disse Alves, em referência à polêmica decisão.