Jovem que matou próprio pai passará por exame de saúde mental
A filha de Aloísio Tassara, acusada de matar o dentista em crime cometido no dia 23 de agosto deste ano, passou por uma audiência na Justiça de Marília nesta sexta-feira (29).
A sessão com o juiz designado para o caso teve início por volta das 13h e terminou aproximadamente às 16h30. Foram ouvidas 12 testemunhas entre acusação e defesa.
“Nós pela defesa entramos com pedido de incidente de insanidade mental, para apuração se naquele momento em que ocorreram os fatos, o crime em si, ela [a adolescente] tinha discernimento para entender a ilicitude do fato, dada a questão do surto psicótico em que ela se encontrava”, explicou o advogado de defesa da garota, Fábio Ricardo Rodrigues dos Santos.
O Marília Notícia apurou que o juiz deferiu o pedido da defesa e agora a jovem passará por exames. De acordo com o advogado, este laudo precisa ser emitido antes de eventual julgamento.
“Pode até ocorrer nova audiência, mas agora tem a decisão referente aos laudos, se necessário podem ser ouvidos os peritos. Tudo leva a crer que não [haverá nova audiência], que tudo vai se resolver com esse laudo”, explicou o advogado.
Caso os exames realmente apontem insanidade mental da jovem, a Justiça pode determinar uma internação em hospital psiquiátrico.
Fábio Ricardo Rodrigues dos Santos explicou ainda que “em cinco dias nós vamos apresentar os quesitos para os peritos e depois de recebido eles tem o prazo de 15 dias para entregar o laudo. Possivelmente não vai dar tempo de concluir antes do recesso da Justiça, deve ficar para janeiro”.
A jovem foi internada na ala psiquiátrica do Hospital das Clínicas em 23 de agosto, quando o pai foi assassinado, e teve alta no final de outubro. Em seguida o Ministério Público ouviu a jovem.
Na época dos fatos a garota estava com apenas 17 anos, portanto ainda era menor de idade. Ela completou 18 anos no início deste mês.
Procedimento
O procedimento que foi instaurado para apurar o assassinato do dentista Aloísio Tassara, de 51 anos, foi concluído pela Polícia Civil em 2 de outubro.
Foram ouvidas 19 pessoas e somente em 1º de outubro a jovem prestou depoimento ao delegado Valdir Tramontini, titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG). O depoimento aconteceu no Hospital das Clínicas, onde ela estava internada por ordem judicial, e demorou pouco mais de uma hora.
Na época o delegado da DIG concedeu uma entrevista ao Marília Notícia.
“Ela relatou todos os fatos, afirmou que se recordava de todos eles e falou de forma detalhada o que teria ocorrido. Eu já recebi os laudos médicos, os laudos de exame de corpo delito, o laudo pericial local e esse procedimento que envolve a adolescente. Encaminhei o relatório ontem (dia 2 de outubro) para a Vara da Infância e Juventude informando o que até então foi apurado. O procedimento agora está com vistas ao Ministério Público para decisão. Estamos no aguardo de qual a medida ele [MP] vai tomar”.
Também nesta semana citada, o advogado de defesa da jovem afirmou que o caso era uma tragédia familiar e que ela já vinha passando por problemas de ordem psiquiátrica. Inclusive passaria por uma consulta médica na data do crime.
“Eu afirmo que a própria declaração do Delegado Seccional, lá no primeiro dia, é o que realmente aconteceu. E reafirmo que foi uma tragédia familiar. Ela já vinha passando por alguns problemas de ordem psiquiátrica. Inclusive no dia dos fatos, estava com uma consulta pré-agendada com um profissional. Ela vinha fazendo acompanhamento com um e ia consultar outro. Infelizmente aconteceu isso. Ela está abatida por toda essa situação. Foi realmente um surto”.
A Polícia Civil já havia sugerido exame de sanidade mental para a jovem, como fez o advogado de defesa posteriormente. “Isso vai influenciar numa eventual aplicação de medida. Se estava plenamente capaz, sabia o que estava fazendo e não estava surtada, provavelmente vai para a Fundação Casa. No caso dela ser totalmente ou relativamente incapaz, pode ser aplicada uma medida de segurança para tratamento ambulatorial ou internação em unidade de tratamento psiquiátrico”, explicou o delegado.
“No início das investigações surgiram comentários de eventual participação de terceiros. Em virtude disso, por cautela, logo no início instaurei um outro procedimento apartado para apurar eventual participação de outras pessoas. Até o presente momento não há nada nesse sentido. Esse outro procedimento aguarda alguns laudos que foram enviados para São Paulo”, disse Tramontini.
Dinheiro
Tanto o delegado quando o advogado da família afirmaram que o dinheiro encontrado com o dentista na data do crime não tinha ligação com os fatos.
“O dinheiro era de origem lícita, fruto do trabalho dele. Ele já tinha essa tática de estar com dinheiro. Estava com alguns problemas financeiros, mas não tem nada de ilícito nessa situação”, disse o advogado.
“Ele há mais de ano andava com esse dinheiro para cima e para baixo. Era uma coisa costumeira dele. Inclusive ele tinha uma pochete. Um fato que era de conhecimento de toda a família e até de funcionárias de seu consultório. O dinheiro não tem nada a ver com o que aconteceu na casa. A priori seria desencadeado por um surto psicótico da menina”, explicou o delegado.
Entenda
Segundo as informações divulgadas pela Polícia Militar no dia do crime (23 de agosto), a adolescente teria problemas psiquiátricos e durante um surto na madrugada, pegou uma faca e desferiu um golpe no peito do próprio pai, que estava tentando contê-la.
O Samu foi acionado, mas ao chegar ao endereço nada pôde fazer, constatando apenas o óbito. Ao lado do corpo estava a faca usada pela adolescente.
O MN apurou que a primeira equipe da PM a chegar no local, encontrou a esposa da vítima desesperada, gritando por socorro e pedindo aos policiais que salvassem seu marido.
A garota foi encontrada pelos militares no telhado da vizinha, agarrada na chaminé, com outra faca na mão. Após muita conversa, os policiais teriam conseguido fazer com que ela descesse do local.
Ainda de acordo com o apurado pela reportagem, a jovem estava mentalmente desequilibrada e foi levada sedada até o Hospital das Clínicas, onde passou por atendimento médico.
A perícia foi acionada, sendo que apreenderam a faca encontrada ao lado do corpo com sangue e localizaram também no bolso da vítima a quantia de R$ 2.154,85 e na cueca R$ 16.550,00.