Marília registra 23 suicídios em pouco mais de 10 meses
O alto número de suicídios cometidos em Marília vem preocupando a sociedade de modo geral. De 1 de janeiro de 2019 até hoje, dia 4 de novembro, a cidade já registrou 23 casos desta natureza.
De acordo com os dados da Secretaria Municipal da Saúde, foram 17 homens e seis mulheres que tiraram a própria vida na cidade somente em 2019.
Novembro mal começou e neste domingo (3) mais duas pessoas cometeram o ato, entrando para a estatística das 23 ocorrências.
O primeiro caso foi logo no início da manhã no bairro Trieste Cavichiolli, na zona Norte. Um homem que não aceitava o fim do relacionamento amoroso, armado com uma pistola, disparou contra a ex-companheira e o atual namorado dela e cometeu suicídio em seguida.
O segundo caso ocorreu no início da noite na Rodovia do Contorno. Um médico psiquiatra teria estacionado o carro no acostamento e se atirado na frente de um caminhão.
O número este ano já é maior do que o registrado em 2018, quando 18 pessoas perderam a vida.
Dados históricos
Segundo o DataSus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) de 1996 a 2017 foram registrados 284 casos de suicídio em Marília.
O ano com mais ocorrências foi 2013, quando 27 pessoas tiraram a própria vida. De 2013 para 2016 os números caíram bastante. Foram 14 em 2014, 13 em 2015 e nove em 2016.
Entretanto os números voltaram a subir a partir de 2017, quando 17 suicídios foram registrados. Em 2018, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, foram 18 casos.
A ideação suicida
O Marília Notícia conversou com Marina Cristina Zotesso, psicóloga, Doutora e Mestre pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e docente do departamento de psicologia da Unimar. Segundo ela o suicídio ou ideação suicida não está necessariamente ligado à depressão.
“Sabe-se que em alguns casos a comorbidade da depressão leva a um enfraquecimento psicológico e desencadeiam em comportamentos de risco e/ou comportamentos de finalização da vida. Contudo ao falarmos em suicídio deve-se levar em consideração uma gama de fatores que são associados, em especial as variáveis ambientais de cada indivíduo, visto que não podemos generalizar a condição do suicídio ou da ideação para todos, uma vez que cada um tem seu histórico de vida, suas dificuldades e seus ‘motivos’ para tal ato”, disse a psicóloga.
Conforme a profissional há hipóteses do ponto de vista psicológico que podem explicar alguns casos. Contudo a temática é teoricamente nova, do ponto de vista do alto número, e não há dados empíricos que possam levar a explicações concretas.
“Outro ponto importante a se ressaltar é o fato de que para os pesquisadores e estudiosos da área, em Marília em especial, não existe uma relação direta com uma amostra especifica da população, ou seja, as faixas etárias, condições socioeconômicas, por exemplo, são distintas.”
“Porém, algumas possíveis hipóteses, como mencionado anteriormente, estão lincadas à pressão social, cobranças profissionais e familiares, baixo suporte social, rompimento de relacionamento, entre outros motivos que desencadeiam a desesperança e ausência de reforçadores na vida”, explicou Zotesso.
Ajuda
Marina ressalta que podem ser desenvolvidos inúmeros trabalhos para redução dos índices de suicídio. “Contudo o principal deles é atentar-se as pessoas que estão ao nosso redor, uma vez que comportamentos de desesperança, baixa autoestima e isolamento são indicadores para preocupação. Essas pessoas necessitam de atenção por parte dos familiares, amigos e escolas, para que a ideação, tal como a concretização do suicídio, não se torne a alternativa para redução de dores psicológicas.”
A psicóloga ainda explica que existe o CVV (Centro de Valorização da Vida), que acolhe as pessoas em situações de crise e urgência, dando suporte e orientação por telefone através do número 188.
“Outra alternativa bastante eficaz é a busca por terapia. Na qual se promove estratégias de enfrentamento das dificuldades cotidianas e nova visualização sobre situações conflitosas que muitas vezes, frente a dor e ao sofrimento, não temos repertorio de ação”, finalizou.
Programas de prevenção municipais
O site questionou ao poder público local sobre o que é feito pelo município para tentar conter os casos de suicídio.
“A Prefeitura de Marília, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, da Assistência e Desenvolvimento Social, do Fundo Social de Solidariedade, da Cultura e de outros serviços que estão relacionados à qualidade de vida da população, oferece inúmeros serviços que visam a promoção da vida. Tem ainda parcerias com a sociedade civil organizada, como por exemplo a associação CVV (Centro de Valorização da Vida), Núcleo Marília”, diz nota enviada ao MN.
“Importante ressaltar que o suicídio é um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades e orientações sexuais. Como tal, não pode ser abordado e tratado somente pelo ‘eixo do processo saúde-doença’. O suicídio pode ser prevenido, mas para isso é preciso que a pessoa procure/receba ajuda de familiares, amigos, profissionais/serviços de saúde e apoio social”, diz o comunicado.
Veja a relação de serviços públicos municipais da saúde que lidam com tema:
– Rede básica de saúde – acolhimento e encaminhamento adequado. As pessoas podem ainda participar de grupos de atividades físicas, oficinas de produção artesanal e grupos de convivência.
– Caps Com-Viver – para adultos (exceto usuários de drogas).
– Caps-I (Infantil) Catavento – crianças e adolescentes
Estas unidades são indicadas a pessoas com transtornos mentais graves ou moderados, sendo os principais esquizofrenia, bipolaridade, TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, Transtorno Opositor Desafiador e outras psicopatologias como depressão e comportamentos de automutilação.
Em caso de emergência:
– SAMU 192, UPA Norte, PA Sul
Também estão instaladas na cidade serviços do Estado, da iniciativa privada e sociedade civil.
– Pronto-Socorro do HC e Hospitais
– Caps AD (Álcool e outras drogas)
– CVV – Ligue 188