Dia do alfaiate: “Tirei umas três férias na vida, não sinto necessidade”
Nesta sexta-feira (6) é comemorado o dia do alfaiate. A data homenageia uma das profissões mais antigas do mundo. Esses profissionais são especialistas em criar, costurar ou reformar roupas artesanalmente.
O Marília Notícia entrevistou o alfaiate José Ferreira Neto, de 72 anos. Ele está na profissão desde os 13 anos e contou que começou a atividade quase que forçado. Os pais disseram que ele precisava trabalhar ou estudar e ele escolheu o trabalho.
“Comecei com 13 anos. Foi quase que forçado, eu precisava trabalhar e o que pintou foi isso, acabei gostando e estou até hoje”, disse ‘Seu Ferreira’, como é conhecido, ao MN.
Seu Ferreira é natural do Paraná, veio adolescente para Marília onde aprendeu o ofício. Ele também morou em São Paulo por 30 anos, onde chegou a ter cinco pessoas trabalhando para ele. Depois voltou para Marília onde exerce a profissão até hoje, quase 60 anos depois.
O alfaiate conta que “o prazo para aprender era de três anos, para você chegar a profissional. Eu aprendi antes porque houve um problema de dispensa da pessoa e acelerou o aprendizado. Eu aprendi com um ano e meio. Fazia paletó e depois fui aprendendo sozinho e evoluindo”.
Quando perguntado se ele já imaginou ter outra profissão, seu Ferreira acabou confessando que tinha o sonho de ser caminhoneiro.
“Eu tinha um sonho de ser caminhoneiro, mas não deu certo, casei muito jovem. Mas eu adoro minha profissão, gosto muito mesmo. Tirei umas três férias na vida mais ou menos, não sinto necessidade”.
Seu Ferreira gosta de desafios e não sabe dizer quantas peças já fez ou consertou durante tantos anos de trabalho como alfaiate.
“Eu já fiz de tudo, já arrumei até pantufa. Eu tinha uma cliente que o sapateiro não quis pegar a pantufa para arrumar, aí ele pediu pelo amor de Deus para eu arrumar, era um trabalho manual, eu acabei fazendo. Adoro desafios. Ela estava com 30 anos de casada e a pantufa era da lua de mel. Ela tinha um carinho especial”, contou com um sorriso no rosto.
O alfaiate disse também que uma vez uma pessoa pediu para fazer uma capa de carrinho de boneca. “Eu falei que ficava mais caro que comprar o carrinho, mas ela disse que a filha queria aquele então pagou caro, mas fez.”
“É menos estressante consertar, porque é uma coisa mais rápida, você pega termina logo e está livre. Fazer já é mais complexo, é mais demorado e o trabalho de alfaiate é quase todo artesanal. Eu prefiro consertar. Hoje eu até aconselho alguns clientes que eu vejo que tem uma certa dificuldade financeira, a comprar e trazer para arrumar”.
Para seu Ferreira para ser alfaiate a pessoa precisa ter o dom. “Sem dom não tem jeito. Tem que ter vontade. É muito detalhe, muda de um cliente para o outro”.
De acordo com ele, hoje em dia, procura o alfaiate quem tem dificuldade para encontrar peças e é obrigado a fazer sob medida.
“Em Marília hoje não passa de dez alfaiates. Antigamente tinha muito alfaiate, todo pai gostava que o filho aprendesse a profissão de alfaiate. Mas a indústria veio e consumiu como várias outras profissões. Mas tem coisa que a máquina não consegue fazer”, finalizou.