Festival de dança mobiliza detentas da Penitenciária de Pirajuí
Ansiedade, alegria e emoção marcaram a expressão das candidatas que disputaram a final do 1º Festival de Dança da Penitenciária Feminina “Sandra Aparecida Lario Vianna” de Pirajuí, no último dia 19.
Com figurino e maquiagem sob medidas, as reeducandas puderam sentir a liberdade que a arte é capaz de proporcionar: viram as grades e muros da unidade “se dissolverem” durante as duas horas que agitaram o público aos ritmos do funk, lambada, gospel, street dance e hip hop.
“É a primeira vez que me apresento em um evento com gente tirando fotos. Nem parece que estou presa. A felicidade que sinto é indescritível”, resume Larissa dos Santos, 20 anos.
Ela faz parte do grupo vencedor do torneio, que concorreu na categoria funk. De 70 detentas que se inscreveram para participar do concurso, 50 foram classificadas para a final, que premiou os dois primeiros colocados com a entrega de brindes.
Além de Larissa, a equipe campeã é formada por Caroline Rosana Joca, 21 anos; Laís Gonçalves, 22; e Beatriz Aparecida Ramos, 20 anos. A segunda colocação ficou com a dupla da lambada: Cristiane dos Santos, 41 anos; e Maria de Fátima de Lima, 30.
“Sou de Pernambuco, terra da lambada. Por isso, a escolha do ritmo que representa a cultura nordestina”, justifica Maria de Fátima. “Esse evento nos incentiva a ser pessoas melhores. Quando eu sair daqui, quero começar uma nova história”, acrescenta Cristiane.
Auto-estima
Com o tema “Quem Dança, Seus Males Espanta”, o festival tem como objetivo promover a ressocialização e o espírito de equipe entre as presas, proporcionando interatividade e entretenimento. Em meio a vários talentos, oito jurados – entre professores de dança e educadores – tiveram a difícil missão de escolher as vencedoras.
Larissa foi uma das concorrentes que se destacou no torneio. Ovacionada em sua performance, justificou que a paixão pela dança vem da infância.
“Sempre gostei de dançar. Aprendi sozinha. Inclusive, cheguei a dar aulas na escola”, lembra a jovem, que cumpre pena há sete meses por roubo, mas já faz planos para quando retornar à vida em sociedade. “Quero arrumar um trabalho e cuidar do meu filho de 2 anos. Gostaria de viver de dança, por que não?”, projeta.
Influenciada por Larissa, Caroline Joca começou a dançar na penitenciária e se surpreendeu com o primeiro lugar no torneio. “A gente não esperava. Me senti capaz”, exalta.
Diretora da unidade prisional, Graziella Fernanda Rodrigues Costa garante que o festival fará parte do calendário anual de atividades culturais do presídio.
“Além de incentivar as reeducandas a praticarem um exercício como a dança, podemos fazer com que elas criem suas coreografias e mostrem seus talentos, às vezes adormecidos após a prisão”, ressalta.