Transferência de padre negro por bispo de Marília causa revolta
Moradores de Adamantina (141 quilômetros de Marília) se revoltaram com a decisão da Igreja Católica de substituir um padre negro, vítima de preconceito racial e de fiéis insatisfeitos com sua forma de administrar a Paróquia Santo Antônio, a principal da cidade.
Além do preconceito, o padre Wilson Luís Ramos enfrenta a resistência dos católicos conservadores e ricos, que discordam do seu jeito simples e do fato de ter atraído pessoas pobres e excluídas – além de muitos jovens, entre eles usuários de drogas – para dentro da Matriz da cidade, onde chegou em 2012.
Incomodado com o padre, um grupo reclamou com o bispo que, depois de fazer uma consulta na cidade, decidiu pela troca de padre, alegando que ele dividiu a paróquia. Mas a decisão do bispo de Marília, Dom Luiz Antônio Cipolini, tomada em 28 de novembro, revoltou os moradores, que foram às redes sociais e às ruas fazer manifestações para tentar manter Ramos na cidade.
Um abaixo-assinado de apoio ao padre recebeu 5 mil assinaturas em dois dias. Na Câmara Municipal, todos vereadores declararam apoio ao padre e até pastores da Igreja Evangélica declaram apoio e criticaram abertamente a decisão do bispo. Uma campanha nas redes sociais com a hashtag#ficapadrewilson também foi criada.
“Passei por diversos momentos de preconceito, que me causaram humilhação e sofrimento. Ainda outro dia flagrei duas senhoras na frente da igreja comentando que deveriam trocar o galo que está lá em cima, na cúpula, por um urubu”, contou padre Wilson.
O bispo também tem conhecimento do preconceito sofrido pelo padre. “Sabemos que ele tem sido vítima de preconceito por parte de fiéis, mas sabemos que ele tem vencido esse preconceito, que não é a principal causa de sua saída”, afirmou Dom Luiz Cipolini. “O verdadeiro motivo é a divisão que ele causou na paróquia. É isso. E não podemos deixar que isso ocorra”, completou o bispo.
Dom Luiz contou que, ao tomar conhecimento das reclamações, pediu ao padre que escolhesse outra paróquia, o que foi negado por padre Wilson. Para apurar melhor o que estava acontecendo em Adamantina, o bispo pediu ao Conselho de Presbíteros que fizesse uma consulta popular. “Após essa consulta, o padre decidiu por deixar a paróquia. Foi ele quem pediu”, afirmou o bispo. “Não é uma divisão qualquer, há uma parte muito grande da paróquia que é pela sua saída”, disse.
Padre Wilson diz que não é bem assim. “Depois de ser humilhado e passar por muito sofrimento por conta do preconceito e de sofrer muita pressão por parte do bispo para deixar a paróquia, eu não tive escolhe a não aceitar essa saída”, contou à reportagem. “Essa divisão que ele fala, não existe. O que existe é um pequeno grupo de fiéis que é contra meu trabalho, pessoas que estavam havia 13 anos na coordenação das pastorais que não gostaram de ser substituídas”, contou. “Mas sempre defendi o entendimento como saída para este problema e há possibilidade de entendimento”, afirmou.
Com informações do Terra