Grupo rouba carro de clínica, vem para Marília e fala em maus tratos
Após roubarem o carro de uma clínica de reabilitação particular em Presidente Alves (distante 99 quilômetros), no último sábado (28), sete internos se entregaram na noite deste domingo (29) na CPJ (Central de Polícia Judiciária) de Marília.
O grupo composto por dois adultos, de 27 e 31 anos, e cinco menores de idade, entre 14 e 17 (um deles morador de Marília), acusa a unidade de tratamento de supostos maus tratos. A Polícia Civil investiga o caso.
Dos setes internos, quatro menores e um maior, K.K. de 27 anos, estavam internados por determinação judicial (internação compulsória) e os outros dois de forma voluntária, V.P.R de 31 anos, e o adolescente de Marília.
O mais velho, V.P.R, que estava em sua segunda passagem pela clínica, acionou a família, que é de Uberlândia (MG), relatando a suposta situação de violência na unidade de tratamento. A equipe do Marília Notícia entrevistou os internos e familiares no plantão policial.
Antes dos pacientes se entregarem na CPJ de Marília, o diretor da clínica de reabilitação química de Presidente Alves já havia registrado uma ocorrência de roubo do veículo, o Chevrolet Corsa levado durante a fuga.
Segundo o Boletim de Ocorrência, V.P.R teria feito o diretor de refém com uma faca. Após escapar do local, no sábado (28), o grupo seguiu de carro até Marília, onde abandonou o veículo na rua Piratininga, região central da cidade.
V.P.R teria informado familiares sobre a localização do automóvel e seus parentes entraram em contato com a clínica de reabilitação para repassar o endereço.
Eles também aguardaram contato do Conselho Tutelar e permaneceram de um dia para o outro em uma praça no centro de Padre Nóbrega, distrito de Marília.
Relatos
Segundo a família de V.P.R, que percorreu 470 quilômetros (entre Uberlândia e Marília), no domingo, para acompanhar a entrega dos interno à polícia, o filho pediu para ser internado no último dia 7 deste mês em decorrência do uso de drogas. A primeira internação ocorreu em 2009, quando ele ficou em tratamento durante quatro meses.
“Em uma ligação, após 15 dias de internação, ele disse que a clínica não recuperaria ninguém. ‘Aqui não é o mesmo lugar de antigamente. Não vou ficar aqui, eu quero ir para outra clínica’ ele me disse”, comenta a irmã de V.P.R.
“Todas as ligações eram acompanhadas dos enfermeiros. Se alguém fizesse alguma denúncia de maus tratos, o responsável era punido com socos, chutes e tortura”, denuncia.
Ainda segundo a família, a mensalidade cobrada mensalmente pela clínica de Presidente Alves chegava à R$ 1,2 mil. Os supostos maus tratos no tratamento dos dependentes químicos estariam acontecendo desde uma mudança na gestão da unidade de tratamento para dependentes.
De acordo com V.P.R, a fuga do grupo não foi planejada. “Não podíamos ficar mais naquele lugar. Ali ninguém estava recebendo tratamento para superar as drogas. Os quartos estavam superlotados, não tinha palestras e nem atividades físicas”, disse.
Em recuperação há três anos na clínica, K.K., de Porto Primavera, distrito de Rosana, garante que o tratamento violento ocorre desde que entrou, em 2016.
“Lá acontece de tudo, coisas que nenhum ser humano merece. É comum eles medicarem os internos com altas doses e depois largarem de cueca, amarrados, em um quarto frio durante toda madrugada. Os menores são obrigados a trabalhar carregando toras de madeira em um regime de 12 horas”, afirma K.K.
Devido ao envolvimento de menores na ocorrência, o Conselho Tutelar foi acionado. “Nosso procedimento é com os menores de idade. O Conselho buscará abrigo e entrará em contato com os familiares, pois a maioria não é de Marília. Depois é o juiz quem tomará as providências”, explicou a conselheira Rosimeire Leal de Oliveira.
De acordo com o Conselho Tutelar, somente a família do adolescente de Marília atendeu as ligações. Nenhum dos maiores foi preso na ocorrência.
O delegado plantonista acatou a ordem judicial existente e reencaminhou os quatro menores e K.K para a clínica de reabilitação particular em Presidente Alves. Os dois internos voluntários, o mariliense e V.P.R, se recusaram a voltar e retornaram para as famílias.
Outro lado
O MN encaminhou questionamento para a clínica, mas nenhuma resposta foi obtida até a publicação desta reportagem.