Estado mantém silêncio e confunde população sobre questão do AME
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou nesta quarta-feira (25) ao Marília Notícia que o chamado Bloco 10, prédio localizado no Jardim Universitário, na zona Oeste de Marília, foi escolhido para a instalação do Ambulatório Médico de Especialidades (AME).
No entanto, as principais perguntas feitas pela reportagem ficaram sem resposta oficial: por que especificamente aquele prédio público que pertence ao município foi escolhido? Não há outros que podem abrigar a unidade? Há dinheiro para concluir a obra este ano?
O silêncio que deixa a população sem respostas vem gerando uma série de confusões e pré-julgamentos sobre o caso entre os marilienses nos últimos dias.
“O DRS [Diretoria Regional de Saúde] de Marília identificou um imóvel da Prefeitura para a criação do AME na cidade, trata-se do bloco 10 no bairro universitário”, diz a nota enviada nesta quarta-feira ao MN.
“O governador Márcio França autoriza o AME tão logo a prefeitura concorde com a utilização do imóvel, que está desocupado. Se a tramitação começar agora, o AME poderá entrar em funcionamento em janeiro de 2019”, conclui o posicionamento de dois parágrafos do Estado.
Entenda a polêmica
A polêmica começou na sexta-feira (22) quando o deputado estadual Abelardo Camarinha (PSB) e seu filho, o ex-prefeito Vinícius Camarinha (PSB), estiveram em reunião com o prefeito Daniel Alonso (PSDB) sobre o tema.
Representantes da DRS também participaram do encontro e junto com os Camarinhas, que dizem representar o governador Márcio França (PSB), informaram que a vinda do AME para Marília estava condicionada à cessão do Bloco 10.
Daniel afirma, porém, que devem ser esgotadas todas as alternativas apresentadas com “argumentos técnicos, e não políticos”. Ele assinou ofício endereçado ao governador oferecendo outros prédios, por não considerar o Bloco 10 o mais adequado.
O assunto já rendeu troca de insultos e vídeos nas redes sociais feitos tanto por Daniel, quanto por Abelardo.
Acusação de Camarinha
Em entrevista ao Marília Notícia sobre a polêmica do AME, o deputado Abelardo Camarinha afirmou que o prefeito Daniel “não quer ceder o Bloco 10” porque pretende “vender o prédio para algum amigo em um leilão de cartas marcadas”.
Abelardo também disse que “os diretores da Faculdade de Medicina [de Marília, a Famema] e do Hospital das Clínicas de Marília se propuseram a acomodar o AME no Hospital São Francisco”, a unidade 3 do HC.
As salas de atendimento, exames e cirurgias ficariam em um espaço ocioso do São Francisco. O parlamentar acredita que a gestão também poderia ficar por conta do HC/Famema, mas a decisão seria da Secretaria da Saúde em um segundo momento. “Vamos levar a proposta do São Francisco ao governador”.
O prefeito Daniel retrucou ao saber que a unidade 3 do HC surgiu como alternativa ao Bloco 10, depois do alvoroço causado pelo tema nos últimos dias.
“Meu Deus, o que está acontecendo com o deputado Camarinha? Ontem disse que o único imóvel que comporta o AME é o Bloco 10”, disse o atual prefeito.
Camarinha afirma que a proposta dos diretores do HC/Famema veio depois da “negativa do prefeito Daniel”.
Questionado sobre qual seria o argumento que sustentava a reivindicação específica do Bloco 10, o deputado estadual explicou que se trata de “um prédio horizontal, com a construção do jeito que eles [Secretaria de Saúde] querem, que caiba os equipamentos, perto do Hospital da Unimar, perto de uma faculdade de medicina e num lugar seguro que não vão ter que se preocupar com segurança, com logística”.
O parlamentar alegou ainda que “a área médica, a área de engenharia, que deu o parecer”. “Não vou discutir. Agora quer que coloque em uma cadeia velha, não cabe, no Cefam não cabe”, citando alguns prédio sugeridos por Daniel.
“Não pode ter muito elevador, não pode ter muita escada. Eles fizeram um negócio dentro dos padrões do AME no estado inteiro. Agora ele [Daniel] não quer [ceder o Bloco 10], porque ele quer vender para algum amigo dele”, acusou Abelardo.
Estado tem ou não tem dinheiro?
Outro ponto sobre a polêmica tratado na entrevista do MN com o deputado estadual, trata-se da correspondência enviada pela Casa Civil do Estado de São Paulo no dia 13 de junho em resposta a ofício do presidente da Câmara vereador Wilson Damasceno (PSDB).
Na carta um assessor técnico da pasta esclarece que sobre o AME Marília, “foi definido o local onde será instalado”. “Um imóvel da Faculdade de Medicina, pertencente à Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, que está em tratativas com a Secretaria da Saúde para transferi-lo”.
“Já o início das atividades [do AME Marília]”, diz o documento, “depende de dotação orçamentária não disponível no momento”. Esse também foi um dos pontos não respondidos pela assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do Estado ao MN, ou seja, há dinheiro ou não para o investimento no momento?
Já Camarinha apresentou seus argumentos sobre o posicionamento oficial do Estado expedido um mês antes da novidade apresentada por ele em reunião na última sexta-feira.
Afinal, no final de junho existia um prédio definido – e não era o Bloco 10. E também não havia dotação orçamentária. Agora a informação oficial é de que o AME já poderia entrar em funcionamento no começo do ano que vem.
“Para o Geraldo Alckmin não tinha [dotação orçamentária”, mas para o [governador] Márcio tem. Porque governar é eleger prioridade. A prioridade do Alckmin era o ‘rouboanel’. A do Márcio é o hospital”, argumentou Camarinha.
Ele cita o ex-governador Geraldo Alckmin que era o gestor quando foi feito o questionamento pela Câmara de Marília, em fevereiro.
A resposta da Casa Civil, porém, foi dada quando o vice do tucano, Márcio França, já havia assumido o governo do Estado. “Mas nós ainda não tínhamos pedido para ele”, argumentou o deputado.
Com a palavra Daniel
O Marília Notícia também pediu um posicionamento atualizado do prefeito Daniel Alonso.
“Nunca fui contra a instalação do AME, só pedi um tempo para pensar e sugerir prédios que estão abandonados pelo próprio governo e que serviriam para abrigar o ambulatório. Me causa muita estranheza eles [Camarinhas] chegarem e imporem um determinado local, sendo que existem outras possibilidades. Por qual motivo? De qualquer forma reafirmo, se comprovar através de laudos técnicos que somente o bloco 10 é viável, ele será cedido sem problema algum”, disse.
Vale lembrar que o prefeito tem a intenção de vender o espaço e usar o dinheiro para recompor o caixa do Ipremm (Instituto de Previdência do Município de Marília), destruído por administrações anteriores.
Outra ideia é de abrigar empresas da primeira etapa do Parque Tecnológico, em instalação na cidade.
HC/Famema – São Francisco
O HC/Famema também se manifestou sobre o interesse de abrigar o AME.
“A Diretoria da Famema e a Superintendência do HCFAMEMA declaram intenção de disponibilizar espaço físico que poderá servir, a julgamento das esferas competentes, para a instalação do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) em Marília.
Ofício neste sentido foi enviado à Secretaria de Estado de Saúde, através do DRS IX.
A implementação do AME é de interesse da Instituição para ampliação da oferta de serviço, bem como, melhoria da qualidade do atendimento prestado à população de Marília e região.
O ofício com a disponibilização de espaço físico para o AME é assinado pelo Diretor Geral da Famema, Dr. Valdeir Fagundes de Queiroz e pela Superintendente do HCFAMEMA, Dra. Paloma Aparecida Libanio Nunes”.