Ruas de Marília contam a história da Revolução dos Paulistas
Quem segue pela rua Nove de Julho, encontra sombra pertinho, na praça Saturnino de Brito. Do centro de Marília é possível chegar à zona Leste pela avenida Vicente Ferreira. Para ir até a zona Norte, uma boa opção é a Pedro de Toledo, com retorno pela Nelson Spielmann.
Marília está repleta de referências à Revolução Constitucionalista, a luta paulista por um país livre e democrático.
Somente aqui, no Estado de São Paulo, o dia 9 de julho é feriado. Este ano, em função da pandemia do novo coronavírus, nem a data comemorativa escapou – acabou antecipada para o dia 25 de maio, para forçar um lockdown à brasileira.
Bibliotecas e museus fechados não são pretextos para atropelar a história. A importância do dia Nove de Julho se impõe.
Até janeiro de 2017, quando morreu em Vera Cruz o professor Antônio Andrade, de 104 anos, conhecido como “Sr. Totó”, a revolução podia ser ouvida no relato de um lúcido ex-combatente. Mas agora, as ruas de Marília falam mais alto, através de cada personagem.
A Revolução Constitucionalista foi um movimento armado, que surgiu da revolta dos paulistas em 1932, após um golpe de Estado do então presidente Getúlio Vargas, dois anos antes. O governo central passou a nomear interventores e tirou a autonomia dos estados.
O maior conflito militar do país no século 20 começou no dia 9 de julho de 1932 e terminou com a rendição dos revolucionários paulistas em 2 de outubro.
Lutando contra as tropas federais, em um conflito militarmente desproporcional, o Estado de São Paulo foi vencido nos campos de batalha, porém o movimento acabou contribuindo para consolidar no Brasil valores preciosos, como a liberdade e a participação popular.
Marcas da História
Marília, mesmo tendo apenas três anos de emancipação, colaborou enviando combatentes. Segundo arquivo da Comissão de Registros Históricos, Vicente Ferreira e Nelson Spielmann foram dois moradores locais que partiram da cidade para o front de batalha.
Ambos morreram no conflito. Os corpos estão no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera, em São Paulo.
A cidade homenageia alguns constitucionalistas que ficaram famosos, como o agrônomo santista Augusto Saturnino de Brito, filho de um dos maiores sanitaristas brasileiros. Morreu após 37 dias em uma campanha na Serra da Bocaina, atingido por dois tiros.
Foi enterrado próximo ao campo de batalha e mais tarde teve o corpo trasladado para o túmulo da família, no Rio de Janeiro. O herói constitucionalista dá nome à praça em frente à Prefeitura de Marília.
Pedro de Toledo, que também dá nome à avenida em Marília, foi um dos constitucionalistas mais ilustres, possivelmente o mais poderoso. Herdeiro de uma família de tradição política, foi nomeado interventor (governador) de São Paulo pouco antes da revolução de 32.
Em uma jogada em que arriscou reputação, patrimônio e rompeu alianças políticas, ele acabou aceitando o convite dos líderes rebeldes para assumir a chefia civil do movimento, tendo sido declarado governador do Estado, independente da vontade de Getúlio.
Com os três meses de conflito e a rendição dos paulistas, Pedro de Toledo foi afastado do governo e preso, junto com outros líderes constitucionalistas. Acabou exilado em Portugal e só voltou ao Brasil após a nova Constituição, em 1934. Morreu no Rio de Janeiro, no ano seguinte.
Na capital do Estado, além da avenida Nove de Julho, ruas e praças com os principais nomes de heróis constitucionalistas, é possível encontrar registros da história no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera e na movimentada avenida 23 de maio.
A data marca o início da luta. Foi o auge do movimento de oposição, que culminou com a morte de cinco mártires da revolução, que ficou conhecido como MMDC, depois rebatizado de MMDCA.
A sigla é uma referência a Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Draúsio Marcondes de Souza, Antônio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga, mortos por forças federais durante um protesto.