Residentes do HC anunciam greve e alertam para impacto

Os residentes de diversas especialidades cirúrgicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília (HCFamema) anunciaram greve por tempo indeterminado a partir desta sexta-feira (21). A paralisação envolve 46 profissionais das áreas de cirurgia geral, anestesiologia, gastro cirurgia, urologia, cirurgia plástica, ginecologia e obstetrícia e otorrinolaringologia. O movimento alega falta de condições adequadas de trabalho e escassez de anestesiologistas.
Segundo a categoria, o movimento grevista seria motivado por uma série de problemas estruturais que vêm se agravando desde novembro de 2024. O principal deles é a falta de anestesiologistas, o que tem inviabilizado a realização de cirurgias eletivas e gerado uma superlotação nos ambulatórios. O HCFamema, que é referência para mais de 1,2 milhão de habitantes em 62 municípios, possui sete salas cirúrgicas, mas a falta de profissionais tem limitado o atendimento a apenas algumas especialidades por vez.
Outro ponto crítico seria o cancelamento recorrente de cirurgias eletivas, que tem levado à formação de filas enormes e, em casos extremos, ao falecimento de pacientes que aguardam os procedimentos. Desde novembro de 2024, um rodízio cirúrgico teria sido implementado, com cada especialidade tendo apenas dois dias por mês para realizar cirurgias, o que estaria sendo insuficiente para atender a demanda.
Além disso, segundo o movimento grevista, a situação estaria prejudicando a formação dos residentes que, segundo eles, não estão conseguindo cumprir a carga horária cirúrgica necessária para sua capacitação. A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) estabelece que os programas de residência devem garantir prática supervisionada e formação adequada, mas a realidade atual no HCFamema seria de violação destas diretrizes.
IMPACTO DA GREVE
A ausência dos residentes durante a greve afetará significativamente a rotina do hospital. Os médicos assistentes das especialidades terão que assumir a demanda eletiva sem o apoio dos residentes, o que inclui atividades como atendimentos em enfermarias e ambulatórios, realização de exames endoscópicos, evolução de casos, prescrições e interconsultas. Apesar disso, os atendimentos de urgência e emergência devem ser mantidos, garantindo a segurança e a saúde dos pacientes.
Ao Marília Notícia, os residentes afirmam que tentaram diversas vezes dialogar com a direção do HCFamema e com o Conselho de Residência Médica (Coreme), mas as medidas implementadas até o momento seriam insuficientes para resolver os problemas. A greve é vista pela categoria como um último recurso após o esgotamento das vias de negociação.
O início da greve está previsto para as 7h da manhã do dia 21 de fevereiro, quando será realizada também uma manifestação em frente ao hospital. Os residentes, acompanhados de acadêmicos e apoiadores, agendaram um ato simbólico com faixas e cartazes, com o objetivo de chamarem a atenção para a gravidade da situação. Durante o período de greve, uma comissão será formada para conduzir as negociações e emitir pareceres oficiais.
OUTRO LADO
Em nota, o HCFamema e a Famema informam que o aviso de paralisação foi protocolado na última segunda-feira (17). “A preocupação com o ensino dos médicos residentes é certamente compartilhada pela gestão do Hospital das Clínicas da Famema. A demanda trata do impacto no ensino frente à redução de cirurgias eletivas, consequente à necessária priorização de atividades cirúrgicas de urgência e emergência bem como às cirurgias oncológicas, resultante da diminuição de profissionais de anestesiologia”, explica.
Ainda segundo as instituições, “a situação de dificuldade de contratação dessa especialidade profissional, embora longe de ser uma realidade exclusivamente local, foi um dos focos principais de atenção já diagnosticada e formalizada ao início da atual gestão em setembro de 2024. Durante esse período foram desencadeados mais de 10 processos seletivos pela Famar, porém, sem candidatos em número suficiente para atender à demanda.”
O HCFamema e a Famema afirmam ainda que “o tema tem sido alvo de diversas tratativas de soluções junto à Diretoria Regional de Saúde e à Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo, as quais tem sido de apoio incondicional nos caminhos direcionados à resolução definitiva da situação.”
Ambas as instituições apontam que foi realizada uma nova reunião com médicos representantes de grupo de anestesiologia no último dia 19, Superintendência do HCFamema, “onde estes manifestaram concordância em admissão pelo vínculo Famar, em vagas já previamente autorizadas e abertas para contratação de urgência, atualmente nesta data, em condução de assinaturas de contratos de trabalho e trâmites derivados, com previsão de início de atividades adicionais em 24 de fevereiro, em complementação à escala instalada e permitindo despressurização da demanda cirúrgica.”
O texto ainda afirma que foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), despacho do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), autorização permitindo a contratação temporária por tempo determinado de 208 funções atividades, entre técnicos de enfermagem e demais agentes técnicos de saúde, onde estão inclusos os que serão destinados ao reforço de urgência da atividade demanda cirúrgica.”
A nota diz ainda que “encontra-se em andamento avançado o processo que trata de pedido de contratação temporária de médicos anestesistas. Conforme andamento prévio está sendo autorizada pela Secretaria de Saúde a Suplementação Orçamentária, permitindo a contratação de empresa terceirizada de anestesiologia, a compor o serviço em caráter complementar ao quadro clínico de médicos especialistas e/ou professores.”
Por fim, as instituições reiteram que “as agendas ambulatoriais, visto estarem sob responsabilidade dos médicos contratados à assistência, e conforme reunião com as chefias dos serviços de especialidades cirúrgicas, permanecem mantidas sem alterações visando o atendimento sem prejuízo aos pacientes.”
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