Marília entra em grupo de risco da leishmaniose
Um comunicado interno da Vigilância Epidemiológica de Marília alerta para a mudança da classificação do município de “transmissão esporádica” para “transmissão intensa” nos casos de leishmaniose visceral entre humanos a partir de 2017.
O Marília Notícia teve acesso ao documento enviado no dia 2 de janeiro para as Unidades de Saúde do município.
Os dados são da classificação epidemiológica realizada pelo Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral e levam em conta 10 casos registrados em Marília em 2016, concentrados principalmente na zona Norte.
Até os últimos dias de 2016 a última administração falava em nove ocorrências. Uma criança de dois anos confirmada com a enfermidade chamou a atenção no final do ano.
Em alguns pontos da cidade quase metade dos cães possuem leishmaniose, como no Jânio Quadros. Os animais servem de reservatório do protozoário [leia mais aqui].
As informações que o MN trás agora consideram dados por triênios e a cidade alcançaria o patamar superior a 4,4 casos a cada 100 mil habitantes, segundo os dados oficiais. Municípios nessa faixa são enquadrados como “transmissão intensa”.
Na última classificação epidemiológica, realizada em 2014, Marília apresentava a classificação “transmissão esporádica”, de acordo com o comunicado. Mas o pico do ano passado parecem ter mudado as coisas.
Nota da assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde do município no dia 15 de dezembro dizia que “Marília está classificada atualmente como município endêmico para leishmaniose com transmissão moderada”.
A cidade apresenta contaminação em humanos desde 2011, quando foi registrado um caso de leishmaniose visceral. Em 2014 foram outras duas ocorrências e em 2015 mais uma. Em 2016 o número explodiu: foram 10 casos.
A maior parte dos pacientes é tratada no Hospital das Clínicas de Marília, mas alguns também ficam no Hospital Materno Infantil.
Dados da Vigilância Epidemiológica mostram que duas mortes por causa da doença foram registradas nos últimos anos: uma pessoa de 81 anos no dia 21 de novembro do ano passado e outra pessoa de 44 anos em outubro de 2014.
O comunicado divulgado pelo órgão municipal aponta ainda que no bairro Jânio Quadros – onde também existe alta concentração de cães com a doença – cinco pessoas ficaram doentes em 2016.
A ruas onde vivem as pessoas que foram contaminadas são: rua Flauzina Martins Siriani, Maria Casadei, Octavio Roberto Ramos, Nicolau Felix e Julia de Moraes.
Outros bairros onde moram pessoas que tiveram leishmaniose no ano passado são o Parque das Azaleias – dois casos, inclusive a idosa que morreu por conta da doença – JK, Santa Antonieta e Palmital.
Vale lembrar que o mosquito-palha, que transmite a doença dos cães para os humanos, coloca seus ovos em restos de alimentos orgânicos e fezes de animais, locais onde a larva se desenvolve. A cidade vive um caos na coleta de lixo desde o final do ano passado. Só agora o problema parece começar a ser resolvido.
Combate à leishmaniose
De acordo com o comunicado a que o MN teve acesso, “fica evidente a necessidade de ampliarmos o olhar para a doença. Para isso, é necessário que o município se organize e comece a trabalhar a doença, assim como faz com outras doenças endêmicas”.
No documento destinado às Unidades de Saúde, a Vigilância Epidemiológica solicita aos profissionais que lidam com a questão “ciência e conhecimento da doença, assim como medidas de prevenção e manejo clinico sobre a leishmaniose”.
O departamento também avisa que transmitirá os dados sobre a leishmaniose visceral através de boletins, assim como é feito com a dengue. A promessa é de que os dados serão divulgados para a equipe e comunidade.
“Os dados deverão ser trabalhados em reuniões de equipe e com a comunidade para planejamento colegiado de ações”, diz o alerta.
Na manhã desta segunda-feira (9) a reportagem do MN entrou em contato com a assessoria de imprensa da administração municipal para saber quais medidas estão sendo tomadas no controle da doença e solicitou entrevista com os responsáveis pelo assunto.
A informação dada é de que “tanto a Vigilância quanto a Zoonoses vão poder se manifestar na quarta-feira, dia 11 [de janeiro], no período da tarde, pois pela manhã haverá uma reunião sobre as ações que serão tomada ao longo do ano”.
Metodologia de classificação
A estratificação epidemiológica dos municípios é realizada com base na avaliação de período de três anos. Anualmente, na construção da estratificação de cada triênio, é subtraído o ano mais antigo e em seguida é acrescentado um ano mais recente.
Assim municípios com média menor que 2,4 casos em cada triênio são estratificados como “transmissão esporádica”, média de 2,4 a 4,4 casos é “transmissão moderada” e média maior do que 4,4 casos vira “transmissão intensa”.
A transmissão da leishmaniose visceral no Brasil é considerada um importante problema de saúde pública. Segundo o Ministério da Saúde, em média, cerca de 3,5 mil casos são registrados anualmente, representando um coeficiente de incidência de 2 casos a cada 100 mil habitantes.
Nos últimos anos a letalidade vem aumentando gradativamente, passando de 3,1% em 2000 para 7,1% em 2012.