Luta contra o cigarro: “Não tenho mais dores e sinto o sabor da comida”
Nesta quinta-feira (29) é o Dia Nacional de Combate ao Fumo, que tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.
A data foi criada em 1986 pela Lei Federal 7.488 e inaugura a normatização voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva.
Em Marília, a Santa Casa tem um programa de combate ao tabagismo. O programa funciona há 13 anos e atende aproximadamente 160 pacientes por mês.
É o caso da cabeleireira Sueli Barreiro Gomes. “Parei de fumar há dois meses e já me sinto bem melhor. Não tenho mais dores nas pernas e sinto o sabor da comida. O primeiro mês foi o pior, mas com o medicamento e o adesivo estou conseguindo ficar sem o cigarro”.
Os pacientes passam por triagem, consulta e por um grupo de acompanhamento. A porcentagem deles que param de fumar nestes grupos é de 60%.
Como funciona
O paciente vai até a unidade de saúde de seu bairro e pede o encaminhamento ao médico. A rede de saúde encaminha o pedido para a Secretaria da Saúde e assim que houver o agendamento, o paciente é encaminhado até a Santa Casa para triagem.
Sem seguida ele passa pelo médico e é inserido no grupo para a liberação da medicação. Depois de um mês que para de fumar, o paciente é inserido no grupo de manutenção de 15 em 15 dias.
O captador de imóveis, Rogério dos Santos Thabet, também está no programa há seis meses e conseguiu parar de fumar. Ele foi fumante por 32 anos e consumia até dois maços de cigarro por dia.
“Já tentei parar várias vezes, não conseguia, dava uma mês eu voltava. Aí minha mãe conseguiu o tratamento para mim e eu consegui (…) Eu melhorei muito, eu tô comendo bem mais, quando eu fumava eu comia bem pouco, não sentia o gosto da comida. Pra mim esse tratamento está sendo uma maravilha”, disse em entrevista ao Marília Notícia.
O impacto negativo do cigarro para quem não fuma
O Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo, grupo de pesquisa vinculado à UNESP de Marília, publicou uma pesquisa de revisão na revista inglesa International Archives of Medicine, a qual mostra os malefícios do cigarro para as pessoas que não fumam.
As pesquisas foram feitas entre 2011 e 2017. Os dados publicados foram coletados de 120 voluntários. O conjunto de pesquisas incluiu animais para experimentos científicos mais invasivos aprovados pelo comitê de ética. Todos os sujeitos de pesquisa foram avaliados durante a exposição à fumaça do cigarro.
“Foram investigadas variáveis fisiológicas relacionadas ao sistema cardiovascular e sistema nervoso central. Como resultado, foi observado que a fumaça do cigarro inalada leva cerca de um minuto para chegar até a corrente sanguínea. Quando depositadas na corrente sanguínea, as mais de 4.700 substâncias tóxicas do cigarro atingem o coração, vasos sanguíneos, rins e pioram a função dos pulmões”, disse o coordenador da pesquisa Vitor Engrácia Valenti.
A fumaça também entra em contato com neurônios situados na parte de dentro do nariz, causando um estresse e aumentando a produção de radicais livres. Isso gera reflexos cardiovasculares que induzem doenças no coração, como a hipertensão, por exemplo.
“Além disso, a fumaça do cigarro é depositada na roupa, pele, cabelos, pratos e copos. O contato com esses objetos contaminados pelo cigarro desencadeia um estresse celular em nível de pulmões e coração, o que colabora para o surgimento de doenças desses sistemas. Portanto, a pessoa que é exposta à fumaça do cigarro sofre muito mais do que imaginamos”, finalizou Vitor.
Os malefícios dos cigarros eletrônicos
Muita gente tenta parar de fumar fazendo uso de cigarros eletrônicos, porém especialista alertam que os e-cigarros, como são conhecidos, aumentam a dependência e o uso dos cigarros tradicionais.
Esses equipamentos estão se popularizando entre os usuários do tabaco pela crença errônea de que trariam menos prejuízo à saúde. Mas, assim como os cigarros comuns, eles têm o mesmo potencial para causar dependência e diversos tipos de câncer, além de aumentar o risco de mutações genéticas.
Os e-cigarros também são apontados como uma das possíveis causas de uma doença pulmonar grave, a pneumonite.
Apesar de não terem tabaco, esses equipamentos evaporam quantidades de nicotina similares às do cigarro comum.
Os cigarros eletrônicos consistem em uma bateria que liga o aparelho, um tanque que contém o líquido e um sistema capaz de aquecê-lo, transformando-o no vapor que é inalado para dentro dos pulmões. Esse líquido contém a mesma quantidade de nicotina que o cigarro tradicional e, portanto, potencial para causar os mesmos malefícios à saúde de quem o consome.
O aerossol desses cigarros pode causar danos agudos às células das paredes dos vasos sanguíneos, e os efeitos a longo prazo são desconhecidos. Alguns compostos químicos presentes no aerossol – tais como formaldeído e acroleína – são capazes de causar dano na estrutura dos genes e consequentes mutações.