Estacionamento do futuro quer ir além da vaga de garagem
Pense a respeito de todos os usos que a maioria dos motoristas normalmente associam a um estacionamento:
Pense também, no entanto, se alguém pudesse usar um smartphone ou outro dispositivo não apenas para encontrar uma vaga de garagem em um aplicativo de mapas, mas também para assegurar que um espaço possa ser reservado. Isso seria uma boa ideia, pois ao lado do edifício-garagem do quarteirão há uma casa de shows onde Billie Eilish se apresentará em uma hora. Precisa de um ingresso para o show? O aplicativo de garagens também pode ajudar com isso. E uma reserva para o jantar? Claro.
Empreendedores criativos estão imaginando o estacionamento como um “hub de mobilidade” ou “silo”, construído com uma boa dose de software avançado e tecnologia de hardware em torno de um mantra que é mais ou menos assim: “Perfeito, sem atrito e sem contato”. É um conceito que foi desenvolvido no último ano devido à pandemia e é provável que continue evoluindo.
Os donos da FlashParking, uma empresa de Austin, Texas, que fornece software e hardware para garagens, veem o futuro da direção – e, não por coincidência, do estacionamento – como uma plataforma digitalmente centrada que, em um sentido muito amplo (e bastante utópico), poderia aliviar o congestionamento, a poluição, a ansiedade e algumas outras coisas. Entre suas ideias está mover veículos que circulam muito ou ficam parados – como os carros de motoristas do Uber e os caminhões de entrega da Amazon – para uma vaga de estacionamento tranquila em um “silo” equipado com um banheiro e um food truck.
“Você só precisa passar por ali rapidinho para entregar dois pacotes?”, perguntou o executivo de marketing da Flash, Neil Golson. “Consegui uma vaga por 15 minutos e aqui está um preço especial. Essa é a evolução que estamos permitindo: tirar as pessoas das ruas e colocá-las no estacionamento.”
O CEO da Flash, Dan Sharplin, chamou o estacionamento de hoje de “uma experiência acidental”.
“Você está dirigindo pela cidade para fazer algo e, então, procura por um estacionamento”, disse ele.
“Mas nossa visão é que haverá pouquíssimos motoristas para essa experiência acidental no futuro. E que esses recursos de estacionamento podem ser convertidos em um hub dinâmico de uma ampla rede e conectado de forma digital por meio de aplicativos voltados para o consumidor. Só funciona se você alcançar o consumidor onde ele vive hoje: no celular.”
A empresa de Sharplin, que ele descreve como software como serviço (SaaS, na sigla em inglês), precisa de parceiros. Na verdade, a Flash não é dona das garagens ou dos milhares de outros locais de estacionamento em todo o país que ela oferece, disse ele.
“Mas”, acrescentou Golson, “nós possuímos a infraestrutura: o hardware que faz os portões subirem e descerem, os patinetes, as estações de carregamento de veículos elétricos”.
E há outros parceiros na jogada: as montadoras. A Flash está trabalhando com mais de uma dúzia delas para integrar aplicativos de estacionamento aos veículos, disse Golson.
“Mas não são necessariamente elas que estão criando a tecnologia”, acrescentou. “Queremos estar em cena como consultores de estacionamento, ao lado do Google, da Amazon e da Uber.”
Muitas garagens administradas pela SP Plus, uma empresa com sede em Chicago, empregam sistemas que dispensam o uso das mãos (hands-free) nos portões e pagamentos com celulares “para criar uma experiência sem contato”, disse Jeff Eckerling, diretor de crescimento da empresa. No geral, a empresa supervisiona “mais de 2 milhões” de vagas de estacionamento em milhares de locais diferentes, incluindo mais de 70 aeroportos, disse ele.
Apesar da tecnologia sem contato, as orientações para ficar em casa, impostas há mais de um ano por causa da pandemia de covid-19, causaram danos no negócio de estacionamentos. Uma vaga de estacionamento vazia é como um vagão de metrô sem passageiros, um estádio sem torcedores.
“Todo o nosso setor foi gravemente atingido, de hotéis a aeroportos e locais de eventos”, disse Eckerling.
Algumas partes do objetivo da Flash entraram em vigor recentemente em Hoboken, Nova Jersey, onde a empresa fez parceria com a LAZ Parking em uma de suas garagens. Câmeras de alta tecnologia nas duas entradas são programadas para ler placas para identificar carros cujos motoristas podem ter realizado pagamento adiantado pela internet, ou têm um contrato para uso mensal, ou querem apenas usar o espaço por hora. (Não há necessidade de puxar um tíquete de uma máquina, basta acenar para uma tela.)
Se a placa estiver encoberta, a câmera pode reconhecer o carro por uma “assinatura”: uma marca, um amassado ou um adesivo.
Parte do piso inferior armazenava alguns veículos de aluguel, já que a Avis mantém uma operação na garagem. (Muitas garagens trabalham com a empresa de compartilhamento de carros Zipcar e serviços semelhantes para guardar veículos e patinetes elétricos.) E um espaço aberto bastante grande no térreo estava sendo usado como “estacionamento” para algumas dezenas de bicicletas ergométricas, que pertenciam à franquia Soul Cycle e estavam reunidas ali para uma experiência pop-up dentro da garagem.
Uma das chaves para o sucesso econômico de uma garagem é a rotatividade.
“Gerenciar o estoque é fundamental aqui”, disse Omar Perera, gerente geral da garagem em Hoboken de oito andares e suas 1.440 vagas. “E como os dados estão na nuvem, posso gerenciá-los do meu iPhone em casa.”
Perera ajusta os preços periodicamente, dependendo da oferta e da demanda, afirmou.
Não havia patinetes ou food trucks. E ainda não havia estações de recarga para veículos elétricos, embora Perera me garantisse que elas estavam a caminho. Depois que um proprietário de veículo elétrico aparentemente desesperado tentou carregar seu carro ligando-o a uma tomada convencional no andar de cima, as tomadas do prédio foram bloqueadas. A garagem do futuro ainda é um trabalho em andamento.