Apple mira privacidade em novos sistemas
A Apple anunciou nesta segunda-feira, 7, as novas gerações de seus sistemas operacionais para iPhone, iPad, Apple Watch e computadores. Em meio a novidades de configurações e recursos, a empresa enviou um recado claro ao mercado: privacidade agora é um dos seus principais produtos.
Em um evento de duas horas, que aconteceu de maneira digital pelo segundo ano consecutivo por conta da pandemia, a gigante revelou desde ferramentas para proteção das informações dos usuários em navegações na internet até mudanças no processamento de áudio da assistente de voz Siri.
“Acreditamos que privacidade é um direito fundamental”, disse durante o evento Craig Federighi – o vice-presidente de software da Apple foi o responsável por conduzir a maior parte da Worldwide Developer Conference (WWDC).
Entre os novos recursos, o iOS 15 (atualização do sistema do iPhone) contará com um aplicativo de e-mail que permite que o usuário esconda o endereço de IP e a localização. Será possível também omitir se o e-mail foi visualizado. Neste último quesito, a empresa também vai bloquear o recurso chamado de “tracking pixels”, que monitora o que acontece na tela do usuário para detectar comportamentos.
Uma das principais mudanças de privacidade apresentadas pela empresa se deu na Siri: a assistente de voz agora vai processar áudio no próprio aparelho e não mais em servidores na nuvem. É uma resposta às grandes críticas em relação a assistentes digitais, como Alexa e Google Assistente, de que o processamento de servidores abre muitas brechas para a violação de privacidade.
Na visão de Dan Ives, analista da consultoria americana Wedbush Securities, o lançamento do iOS 15 é uma solidificação da política de privacidade da Apple. Em abril, a fabricante implementou no iOS 14.5 um novo mecanismo de proteção de privacidade, que exige dos usuários de iPhone que escolham, explicitamente, se permitem ou não que aplicativos como o Facebook rastreiem sua atividade em outros apps.
“É uma sequência do lançamento do iOS 14.5, que reforçou os recursos de privacidade para o consumidor ao passo em que a Apple se coloca diretamente em rota de colisão com o Facebook quanto à capacidade dos usuários de bloquear o rastreamento de dados”, afirmou Ives em nota a investidores nesta segunda.
Para Márcio Kanamaru, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da consultoria KPMG, o investimento em privacidade é estratégico: “Quem investe em privacidade entende o direito dos seus consumidores e sabe que isso é fundamental para uma relação de confiança”, disse ao Estadão.
Pandemia
A Apple reagiu também a mudanças forçadas pela pandemia. Em meio ao boom das videoconferências, o FaceTime, serviço de chamadas da empresa, foi turbinado com diversos novos recursos, uma resposta ao crescimento de Zoom e Google Meet.
Um deles gera links para reuniões, o que permitirá usar o FaceTime no Android e no Windows pela web. Até então, o FaceTime estava disponível apenas para aparelhos da Maçã.
André Miceli, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que esse é um caminho natural. “A Apple não compete hoje em videochamadas. A empresa acabou unindo a oportunidade de crescer o serviço com a chance de atacar as críticas antitruste”, explica ele.
Briga em loja de apps passou batido
Apesar de ter dado um sinal positivo ao liberar o FaceTime para Android e Windows, a Apple ignorou o ponto mais sensível em relação à empresa atualmente: a porcentagem cobrada de desenvolvedores na App Store.
A dona do iPhone vive uma disputa nos tribunais com a produtora de jogos Epic Games, que acusa a gigante de concorrência desleal ao cobrar uma taxa de 30%.