Paciente de cirurgia cardíaca volta ao hospital 40 anos depois
Um reencontro, após 40 anos, “revirou” o baú de memórias da doméstica Maura da Silva, 59 anos, e de parte da equipe responsável pela cirurgia cardíaca na Santa Casa de Marília.
Ela foi a primeira paciente a ser operada pelo serviço cirúrgico criado em 1974. Na última quarta-feira, dia 10, passou por novo procedimento. As duas cirurgias foram realizados pela rede pública. Com boa evolução, a paciente espera a alta médica na certeza de que, mais uma vez, driblou a cardiopatia e poderá manter sua qualidade de vida.
Na época, a equipe recém-criada estava sob a responsabilidade do cirurgião boliviano Miguel Mendoza Claros. O atual coordenador da cirurgia cardíaca, Rubens Tofano de Barros, era estudante de medicina, um dos mais interessados na especialidade e acompanhou com curiosidade o momento histórico de Marília. “Até então, no Interior de São Paulo, cirurgias cardiológicas eram feitas apenas em Ribeirão Preto, Campinas e São José do Rio Preto. A Santa Casa foi uma das pioneiras, nas mãos do competente professor, hoje aposentado”, conta o médico.
Maura, adolescente, sofria com uma estenose mitral em consequência de uma doença reumática. Com a tecnologia da década de 70, a comissurotomia mitral era considerada uma intervenção complexa. Graças aos aprimoramentos nas técnicas e recursos cirúrgicos, foi realizada, desta vez, com mais tranquilidade. Maura foi diagnosticada com reestenose mitral e insuficiência tricúspide. Passou por nova comissurotomia mitral e plastia da válvula tricúspide.
Foi um procedimento de aproximadamente 3h30, com respaldo posterior da REC (UTI – Recuperação Cardiológica). Menos de uma semana depois, já em leito convencional de internação, Maura faz palavras cruzadas em suas últimas horas no hospital. “Só tenho a agradecer. Os médicos e o pessoal da enfermagem são nossos anjos da guarda. Não queria ter voltado, mas já que voltei fiquei feliz em ser tão bem atendida e relembrar histórias com o doutor Rubens”, conta a doméstica.
A paciente atribui a reincidência da doença ao fato de nunca ter feito acompanhamento (exames ou consultas). Ela conta que morava na zona rural, onde o acesso à saúde ainda era precário. Após o susto inicial da doença e a qualidade de vida restabelecida, entendeu que poderia viver sem preocupações. “Sem remédios, sem nem o cardiologista. O resultado é que tive que voltar. Só descobri que não estava bem do coração, inclusive, porque passei por exame para trabalhar numa empresa e fui reprovada. Agora vou me cuidar melhor e buscar auxílio da previdência”, disse.
Entre as duas intervenções cardiológicas de Maura no centro cirúrgico da Santa Casa passaram mais do que 40 anos. Passaram 15 mil pessoas, segundo estimativas do cirurgião coordenador do serviço. “Temos uma história de sucesso graças ao empenho e a coragem de muitos profissionais. É uma alegria fazer parte dessa história”, disse Rubens Tofano de Barros.