Fechado há mais de 1 ano, museu é reaberto na estação República em São Paulo
Foi reaberto nesta quarta-feira (29) em São Paulo o MDS (Museu da Diversidade Sexual), na estação República do metrô. O museu, vinculado à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo, estava fechado havia um ano e meio.
Com um investimento de R$ 5 milhões, a instituição retoma suas atividades em espaço ampliado – de 100 m² para 540 m² – e nova fase de atuação pautada no tema “O desafio da memória”.
De acordo com Amara Moira, coordenadora de educação, exposições e promoção cultural do MDS, neste primeiro momento o museu contemplará duas exposições “Pajubá: A Hora e a Vez do Close” e “Artes Discidentes: O Céu que Brilha no Chão”.
Para Amara, que é uma mulher trans, ocupar locais públicos é uma conquista da comunidade LGBTQIA+. “É importante para visibilizar a nossa existência, fazer com que as pessoas aprendam a conviver, a deixar de nos temer e a começar, inclusive, a nos admirar pelo nosso trabalho artístico.”
Ela, que divide a curadoria de “Pajubá” com Marcelo Campos, explica que a exposição faz um mergulho histórico no começo da colonização e mostra que desde sempre houve a presença de LGBTs entre os povos indígenas e os povos que foram escravizados e trazidos para o Brasil.
“Vamos trazer memórias da perseguição pelo estado, pela Inquisição, por vários grupos: franceses, portugueses”, afirma.
O repertório conta com obras do coletivo Tybyra como parte do primeiro núcleo, que fala sobre a história LGBTQIA+ e resgata o caso de Tibira, indígena condenado pela Inquisição por sodomia – termo usado na época para descrever dissidências de gênero e sexualidade consideradas pecado e crime grave pela moralidade cristã europeia.
Amara explica que tibira é uma palavra do tupi antigo que designa sodomita paciente. “Apesar dessa palavra ser tão antiga ainda temos a ideia de que indígena LGBT é algo novo e isso acontece porque essa questão foi apagada da história.”
Tibira do Maranhão foi do povo tupinambá, protagonista de uma história trágica do período colonial no Brasil, marcado por intenso conflito cultural entre os povos originários e colonizadores europeus. Durante esse período, Tibira foi perseguido, acusado e executado por sodomia.
Com uma marca na história da comunidade LGBTQIA+ e um lembrete sombrio das injustiças e violências cometidas durante a colonização, Tibira é um reflexo das violências sofridas pela comunidade ao longo de toda a história, diz Amara.
Cofundador do coletivo Tybyra, o cientista político Danilo Tupiniquim afirma que é importante a sociedade entender que indígenas LGBTs existem. “Também trazer para dentro do movimento indígena a nossa existência enquanto corpos que estão na frente da luta em defesa dos territórios, contra mineração, o desmatamento dentro dos territórios”, diz.
“Dentro do movimento indígena a gente sempre ressalta que a herança colonial trouxe consigo essas diversas violências não só para dentro da comunidade indígena, mas também para a sociedade com um todo”, acrescenta.
Para Carlos Gradim, diretor presidente do Instituto Odeon, instituição que faz a gestão do museu, a ampliação do espaço também reflete a busca pela ampliação de horizontes. “Este é um espaço de arte, acolhimento e convergência para aqueles que querem uma sociedade com mais respeito e diversidade.”
Para Marília Marton, secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, “a reabertura do museu reafirma o compromisso com a promoção de uma cultura de paz e respeito às diversidades”.
O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 18h, com acesso gratuito, mediante retirada de ingressos na plataforma Sympla.
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POR HAVOLENE VALINHOS
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