Médico de Marília tem artigo premiado no Congresso Europeu de Anestesia Pediátrica
O médico anestesiologista Teófilo Augusto Araújo Tiradentes, que faz parte do corpo clínico do Serviço de Anestesia de Marília (SAM) e da Santa Casa de Marília, conquistou o prêmio de melhor artigo científico no Congresso Europeu de Anestesia Pediátrica, realizado em Praga, República Tcheca, de 28 a 30 de setembro. O estudo premiado foi publicado no British Journal Of Anaesthesia, uma das principais publicações médicas do mundo na área de anestesiologia.
O trabalho que recebeu destaque é a tese de mestrado do Dr. Teófilo Augusto Tiradentes, intitulada “Parada Cardíaca por Fator Anestésico em Pacientes Pediátricos: Revisão Sistemática com Metanálise Proporcional e Análise de Metarregressão”, realizada na Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, sob orientação do docente Leandro Braz.
O estudo envolveu uma revisão sistemática de estudos já publicados na literatura médica sobre paradas cardíacas em crianças submetidas a procedimentos sob anestesia, e se concentrou em uma análise abrangente que abordou a idade das crianças, países de origem, hospitais onde os procedimentos foram realizados e as taxas de sobrevivência. Além disso, o estudo também avaliou as correlações entre a incidência de paradas cardíacas em anestesia e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países, com uma divisão entre publicações anteriores a 2000 e posteriores a 2001.
“Com a melhora do cuidado em saúde, treinamentos mais comuns entre os médicos, maior desenvolvimento da tecnologia em saúde, o desenvolvimento e treinamento dos especialistas e a exigência desses treinamentos como o Suporte de Vida Avançado em Pediatria, para citarmos um exemplo, seria coerente pensar que, ao longo do tempo, as paradas cardíacas em crianças sob anestesia tendem a diminuir. O que realmente conseguimos ver no nosso estudo foi que a parada cardíaca em anestesia em crianças é um fato muito raro. Fato que realmente diminuiu somente em países ao longo do tempo antes do ano 2000, somente em países desenvolvidos (IDH > 0,8); e aumentou ao longo do tempo em países em desenvolvimento (com IDH < 0,8) antes do ano 2000. Após 2001, a quantidade de paradas cardíacas em crianças aumentou tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, sendo esse número maior em países em desenvolvimento. E temos algumas razões para isso”, enfatizou Teófilo Augusto Tiradentes.
Nos países desenvolvidos, as paradas cardíacas em crianças relacionadas a anestesia diminuiu no século passado porque, segundo Teófilo, o cuidado com a saúde aumentou ao longo do tempo naqueles países, onde são realizados maiores investimentos na capacitação dos profissionais, os trabalhos estatísticos mais confiáveis, o investimento em tecnologia em saúde é realizado de forma mais eficaz. Além disso, há protocolos e formas rígidas de conduzir pacientes críticos e não-críticos entre outros fatores.
“Quando comparamos países desenvolvidos com países em desenvolvimento, os cuidados descritos acima acontecem ou muito pouco ou em regiões especificas, ou ainda não acontecem como em muitos países africanos e do sudeste asiático. Sendo assim, observamos que as paradas cardíacas em crianças elas aumentaram com o passar do tempo no século passado, pois eram procedimentos realizados com baixa margem de segurança, em locais por vezes indevidos, sem tecnologia suficiente ou se presente, não eficiente o necessário para a segurança das crianças”, explica o pesquisador.
No novo século, após os anos 2001, as paradas cardíacas em crianças em anestesia aumentaram tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. “Aqui, precisamos ter muito cuidado e prestar muita atenção: nos países desenvolvidos, apesar do excelente cuidado com a saúde, da excelente formação profissional, e da avançada tecnologia em saúde entre outros fatores como desenvolvimento de protocolos e treinamento regular dos profissionais, além da formação de pessoas e grupos específicos somente para atenderem crianças, a mesma tecnologia permitiu que crianças cada vez mais com doenças mais graves, e procedimentos cada vez mais complexos, pudessem ocorrer em idades ainda cada vez mais precoces, em uma tentativa de corrigir as doenças e problemas congênitas mais graves, para que essas crianças nascessem com vida (como por exemplo as cirurgias intra-útero) e cirurgias definitivas fossem realizadas fora do útero, para diminuir também o risco de algo acontecesse com a mãe, ou ainda permitiu que crianças prematuras, e com muito baixo peso ao nascer, e que ainda possuísse alguma doença congênita séria, pudesse passar por uma cirurgia o mais precoce possível para poder ter uma chance de sobreviver. Ao mesmo tempo cirurgias complexas como transplante hepático, outros transplantes e cirurgias complexas que antes não havia tecnologia para serem realizadas nem técnicas, passaram a existir e mais crianças foram expostas a esses procedimentos numa tentativa de salvar essas crianças e melhorar a qualidade de vida das crianças e de suas famílias. Numa chance de dar uma vida como nós a conhecemos ou o mais próximo dela possível para essas crianças”, salientou o médico anestesiologista da Santa Casa de Marília.
“Infelizmente, nos países em desenvolvimento, no nosso século, os números de cirurgias em crianças aumentaram, assim como a complexidade dos procedimentos também se elevou, fato semelhante ao ocorrido nos países desenvolvidos. Porém, as condições estruturais e os demais recursos tecnológicos e físicos para que se sustentasse esse aumento com qualidade e segurança para as crianças que possuem doenças complexas, não acompanharam esses números. O que se observa é que as paradas cardíacas em crianças se elevou nos países em desenvolvimento. Outro fato estudado foram as proporções de sobreviventes das paradas cardíacas em anestesia. Uma parada cardíaca em anestesia a princípio, nos parece umas das piores complicações de qualquer procedimento, porém durante a anestesia, a parada cardíaca ocorre na melhor das condições: ocorre no local adequado, já dentro do hospital, em uma situação em que a história médica do paciente já é conhecida, há uma equipe médica tanto cirúrgica quanto anestésica presente no local, o paciente já se encontra monitorizado, com acesso venoso já realizado, com materiais de suporte avançado de vida no local e ainda nessas condições, a causa da parada cardíaca é conhecida, o que torna seu tratamento muito eficaz, e uma sobrevivência de até 100% dos pacientes que tiveram essa complicação durante a anestesia em países desenvolvidos, e essa proporção de sobrevivência também é encontrada em trabalhos publicados mesmo no Brasil, um país em desenvolvimento, segundo o PNUD (Programa de Desenvolvimento das Nações), da ONU (Organização das Nações Unidas). Desta forma, podemos ficar felizes com a notícia de que apesar de sermos um país em desenvolvimento, as paradas cardíacas durante a anestesia em crianças é extremamente rara, e quando ocorre, acomete crianças com complexas doenças e comorbidades, em síndromes genéticas raras com várias alterações anatômicas estruturais, resultando em uma fisiologia anômala que dificulta tanto a cirurgia quanto a anestesia. E mesmo nessas crianças, se sofrerem uma parada cardíaca durante a anestesia no nosso país, a sobrevivência é comparável a de um país de primeiro mundo ou um país desenvolvido”, concluiu.
O link para conferir o estudo na íntegra é: https://www.bjanaesthesia.org/article/S0007-0912(23)00476-2/pdf.