História de Marília é contada pelo avanço dos bairros
A disputa entre os pioneiros, os fundadores do Patrimônio Alto Cafezal com o influente deputado Bento de Abreu Sampaio Vidal, que impulsionou o desenvolvimento local e fez surgir Marília, é fartamente contada há gerações.
Mas a origem dos bairros mais tradicionais de Marília é história ainda pouco explorada. Nos 93 anos da cidade, celebrados neste 4 de abril, o Marília Notícia conta parte desse passado recente, que ajuda a explicar como a cidade cresceu e hoje é o lar de mais de 240 mil pessoas.
Na linha do tempo, 16 anos antes da emancipação do município, o Estado de São Paulo iniciou abertura de uma estrada com 147 quilômetros. É quando grandes áreas de matas na região, em uma transição de biomas (Mata Atlântica – Cerrado), dão lugar aos primeiros cafezais.
Com vista grossa ao massacre de índios, e uma política governamental de ‘confinamento’ dos remanescentes em pequenas áreas, surgia um acesso entre as linhas ferroviárias Noroeste, na altura da atual Cafelândia, com a Sorocabana, em trecho onde hoje está Platina – região de Assis.
Os loteamentos agrários são latifúndios inimagináveis (para o Sudeste) nos dias de hoje. A fazenda Cincinatina, do deputado Cincinato César da Silva Braga [natural de Piracicaba, que vivia no Rio de Janeiro], é a primeira delas. Antônio Pereira da Silva é o administrador das terras.
Mas foi o filho, José Pereira da Silva, o Pereirinha, que mais avançou na ocupação. A família de origem portuguesa deixou de ser empregada e adquiriu terras da Companhia Pecuária e Agrícola de Campos Novos. Em 1923, surge o Patrimônio Alto Cafezal, em parte dos lotes.
ALTO CAFEZAL
É por isso que os historiadores de Marília, com base nos registros históricos, consideram o Alto Cafezal o provável mais antigo bairro da cidade. Ruas centrais de Marília, como São Luiz, XV de Novembro e 24 de dezembro, além da avenida Santo Antônio, têm trechos no histórico Patrimônio.
Nestas vias estão localizadas instalações antigas como o Mercado Municipal, prédios e estabelecimentos comerciais que fizeram parte da memória afetiva de muitos marilienses, como o Cine São Luiz e o Hotel Líder (ambos na rua Nove de Julho).
É residência de uma população tradicional, onde se vê muitas casas antigas. A partir do Alto Cafezal, a mancha urbana tem expansões importantes, que deram origem a novos bairros como Bandeirantes e adjacências, além do Cavallari e outros do Campus Universitário, muito mais recentes.
MARIA IZABEL
O bairro nasceu quando a cidade toma espaço dos cafezais da antiga fazenda Cascata. Diferente de Pereirinha, ao adquirir suas terras, o influente político Bento de Abreu Sampaio Vidal administrava as fazendas em unidades distintas. Cada uma delas daria origem a um pequeno patrimônio.
O historiador Miguel Zioli, um dos principais biógrafos do pioneiro, conta na pesquisa “Política com café no Oeste do Estado de São Paulo” que Bento de Abreu destinou a Fazenda Cascata às filhas, Helena e Olga.
Bento Filho administrou e herdou a fazenda São Paulo, no distrito de Padre Nóbrega. A fazenda Santa Antonieta ficou com a filha Maria Antonieta. Já a Palmital ficou com o próprio Bento de Abreu.
O bairro Maria Izabel, é um dos mais antigos da zona Leste. O nome é uma homenagem à esposa, Maria Izabel Sampaio Vidal. O loteamento reúne parte da história da cidade. Ainda há relatos de moradores que conviveram entre o urbanizado bairro Cascata e os cafezais.
NOVA MARÍLIA
Lar de cerca de 70 mil marilienses, o Nova Marília e bairros adjacentes formam uma das regiões mais populosas da cidade. A ocupação é recente e data da década de 80 – pouco mais de 40 anos.
As condições para o surgimento do núcleo habitacional, porém, começaram depois do loteamento dos bairros Monte Castelo, Parque São Jorge e Jóquei Clube, nos anos 1950.
Hoje superintendente da Associação Comercial e de Inovação de Marília (Acim), José Augusto Gomes, o Guto, é um exemplo da nova geração que cresceu com o núcleo habitacional que surgiu com quatro mil casas e, em sua época, chegou a ser considerado o maior da América Latina.
Feito para atender a demanda de trabalhadores, maioria de baixos rendimentos, o Nova Marília foi marcado pela falta de infraestrutura, nos primeiros anos. No artigo “A História do Lugar”, a historiadora Lídia Maria Vianna Possas conta que no momento da entrega das casas da Nova Marília I, o bairro recebeu o apelido de “Ilha Malvina”.
Os próprios moradores faziam uma referência clara ao isolamento, por se sentirem à margem da cidade. Com o tempo, a infraestrutura chegou, bairros próximos foram criados e houve valorização de toda a área. Na atualidade, essa sensação é parte da história de uma região que ganhou autonomia.
SANTA ANTONIETA
A fazenda Santa Antonieta – herança da filha Maria Antonieta, de Bento de Abreu Sampaio Vidal – era administrada pelo marido, o também deputado, fundador de inúmeras instituições em Marília, Christiano Altenfelder e Silva.
Os primeiros moradores chegaram nos anos 70, mas foi na década seguinte que ocorreu a grande expansão, com vários loteamentos e intervalo de poucos anos.
O bairro se destaca pelo Distrito Industrial. São cerca de 30 mil moradores e mais de 200 empresas, em um local estratégico, à margem da rodovia que acabou virando o Contorno.
A fazenda Santa Antonieta produzia café e leite, que abasteciam toda a região. Mas, com o preço do café em baixa, o dono da fazenda resolveu transformar a lavoura em lotes residenciais.
FUTURO
Com a demanda por moradias ainda presente, Marília vive duas situações combinadas. A cidade ocupa áreas que estão localizada entre o núcleo central do município e regiões mais distantes. É o caso dos novos bairros entre o tradicional Santa Antonieta e o distrito de Padre Nóbrega.
Mas há também o crescimento vertical e a ocupação de remanescentes muito mais próximos ao Centro, como é o caso da região da Cascata e partes do Fragata.