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Entrevista da Semana
dom. 06 abr. 2025
HISTÓRIA E LITERATURA

‘Eu colecionava folhetos de comemorações de datas históricas’, diz historiador

Contador, advogado e historiador Celso Cezário Motta escreveu livro sobre a história de Marília.
por Alcyr Netto
Celso Motta escreveu livro completo sobre a história de Marília (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)

Celso Cezário Motta chegou a Marília ainda criança, aos cinco anos de idade, vindo de Lins com sua família. Sua longa trajetória na cidade o tornou testemunha ocular e um estudioso das transformações locais, o que resultou na publicação de um livro sobre a história da cidade, o “Marília: 95 anos de progresso”.

Sua jornada em Marília começou com a mudança para a casa de um parente na avenida Nelson Spielmann. Atualmente, Celso compartilha seu conhecimento e sua paixão pelo passado da cidade através do Sebo Amazonas, um espaço que reflete seu amor pela leitura e pela história que ele tanto pesquisou.

A profunda ligação de Celso Motta com a história de Marília nasceu de uma paixão pela leitura que o acompanha desde a infância, quando colecionava folhetos históricos e recortava notícias sobre a cidade. Esse interesse se intensificou, levando-o a pesquisar no Museu Histórico Pedagógico de Marília e na biblioteca da Câmara Municipal.

O resultado de anos de dedicação à pesquisa histórica se concretizou na publicação de seu livro sobre a história de Marília em 2009. Antes, em 2008, publicou um livro de poesias intitulado “Brasil em versos”. Sua obra sobre a história da cidade representa importante contribuição para a preservação da memória local e oferece um relato detalhado da evolução de Marília ao longo dos anos.

Formado em Direito pelo Univem, o historiador trabalhou anos na fiscalização da Secretaria da Fazenda até se aposentar. Hoje tem o próprio sebo para reunir e colecionar histórias como as dele.

***

MN – E como nasceu sua paixão pela leitura? Sempre gostou de ler?

Celso Motta – Sempre gostei. Desde a infância, no ginásio, na escola comercial Senac, eu colecionava aqueles folhetos de comemorações de datas históricas que a escola distribuía. Dia do trabalho, dia do poeta, Tiradentes, do comerciante, 15 de Novembro. Eu gostava e lia revistas sobre a história antiga de Marília e jornais, recortando as notícias sobre a cidade. Tenho até hoje bastante recorte guardado.

MN – Quando decidiu escrever livros sobre a cidade?

Celso Motta – Decidi pesquisar e estudar a história de Marília. Comecei no Museu Histórico Pedagógico de Marília, na antiga rua Yara, e na biblioteca da Câmara Municipal, durante uns dois anos. Fiz um esboço e vi que dava para escrever algo sobre Marília. O primeiro livro foi de poesias em 2008, chamado “Brasil em versos”. Depois, em 2009, saiu a primeira edição do livro sobre a História de Marília.

MN – Ao longo desses anos que está em Marília, como viu a cidade se transformar?

Celso Motta – Mudou muito. Nos anos 80, houve um grande lançamento de loteamentos. Surgiram vários loteamentos urbanos. A cidade expandiu bastante. Depois vieram os loteamentos de chácaras nos anos 90. De 80 em diante, o crescimento foi notável. Bairros como Jardim Bandeirantes, Pérola e Virgínia surgiram nessa época. O lado de lá da pista era só cafezal. Surgiram ali uns cinco bairros. O perímetro urbano cresceu e o rural diminuiu. Houve um boom imobiliário.

MN – E o que o senhor acredita que impulsionou esse grande crescimento de Marília, diferente de outras cidades da região?

Celso Motta – Marília tem o privilégio da situação geográfica. Ela está num entroncamento rodoviário importante, com a BR-153 cortando o país de sul a norte, e outras rodovias ligando ao Mato Grosso e Minas Gerais. Essa passagem, esse entroncamento rodoviário, deu um impulso grande a Marília.

MN – Além da logística, houve outros fatores? A transição da economia, por exemplo?

Celso Motta – Sim. De uma economia agrícola, Marília passou a ser industrial com esse crescimento. Inicialmente, no ciclo do café em 1929, embora tenha começado em 1923, houve um grande crescimento, seguido pela queda devido à crise de 1930. Com a decadência do café, iniciou-se o cultivo de algodão, e a região de Marília chegou a ser a maior produtora de algodão do mundo. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve grande produção de bicho-da-seda, e os casulos eram exportados para a confecção de paraquedas. Isso impulsionou o surgimento das tecelagens em Marília, a primeira na avenida Vicente Ferreira. Também houve o desenvolvimento de máquinas de café e implementos agrícolas.

MN – E quando Marília passou a ter esse perfil de polo da indústria de alimentos?

Celso Motta – Isso foi mais ou menos em 1970. Com o surgimento de empresas como Dori, Marilan e várias outras fábricas de doces.

MN – Hoje Marília é conhecida como a Capital Nacional do Alimento, mas sempre foi assim?

Celso Motta – Sim, Marília teve vários slogans. Quando tinha cerca de 10 mil habitantes, foi chamada de Cidade Menina. Depois, por volta de 1935, passou a ser Cidade Moça. Em 1950, com o crescimento, se tornou a Capital da Alta Paulista. Por volta de 1960 surgiu Marília, Símbolo de Amor e Liberdade.

MN – Como surgiu o slogan Símbolo de Amor e Liberdade?

Celso Motta – As rádios faziam concursos para que os ouvintes dessem um novo nome a Marília. O pessoal mandava sugestões. O filho do doutor Miguel Argollo Ferrão, que foi prefeito duas vezes, sugeriu Marília, Símbolo de Amor e Liberdade, sendo o premiado. Com progresso na área alimentícia em 1970, surgiu o slogan Marília Capital Nacional do Alimento, que vigora até hoje.

MN – O senhor acha que as universidades também contribuíram para o crescimento da cidade, atraindo estudantes de diversas partes do Brasil?

Celso Motta – Sim, muito. Estudantes do Mato Grosso, Rondônia, Acre, Bahia vieram estudar aqui. E muitos acabaram ficando. Isso movimentou o setor hoteleiro e a economia local.

Celso Motta rodeado de livros, no Sebo Amazonas (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)

MN – Por que acha que Marília se destacou tanto? Foi só a questão rodoviária?

Celso Motta – A política acompanha o progresso. Surgiram políticos que se interessaram pelo desenvolvimento da cidade. No começo, tivemos deputados que influenciaram bastante, como o deputado Diogo Nomura, que trouxe a faculdade de odontologia para Marília, além de psicologia e filosofia. O deputado Aniz Badra também ajudou a trazer progresso, assim como o doutor Fernando Mauro. A política, em certo tempo, ajudou Marília a crescer.

MN – Em relação à política, em algumas cidades a disputa parece mais tranquila. Em Marília, sempre foi muito acirrada?

Celso Motta – Sempre não. Antigamente, até os anos 60, o cargo de vereador não era remunerado. As pessoas trabalhavam por amor à cidade. Eram profissionais liberais, que dedicavam seu tempo. Acho que Marília cresceu bem nessa época. Depois, nos anos 80, com o aumento dos bairros, talvez tenha mudado.

MN – O senhor está aqui desde 1948. Como foi a época da ditadura militar em Marília?

Celso Motta – Naquela época, eu estava em São Paulo. Não acompanhei bem o que acontecia em Marília. Mas sei que no Brasil, e aqui também, houve vereadores de esquerda que sofreram, foram presos. Antes, no tempo de Getúlio Vargas, Marília teve interventores como prefeitos.

Celso Motta e a esposa, na antiga Cantina Mamma Mia (Foto: Arquivo Pessoal)

MN – Como o senhor vê Marília hoje, com todo o desenvolvimento que teve? Ainda é uma cidade tranquila e segura?

Celso Motta – Bom, o Brasil mudou. A segurança está a desejar, acho eu. Não vejo um policiamento preventivo eficaz aqui em Marília. A polícia aparece depois que acontece o problema. O policiamento é pouco para o tamanho da cidade.

MN – E quais são os pontos positivos de Marília?

Celso Motta – Acho que é uma cidade calma, limpa e até atrativa. Não tem a sofisticação de uma capital, mas dá para as pessoas viverem tranquilamente. Tirando o problema de não poder andar muito à noite sozinho, pois a cidade é escura em alguns pontos. A iluminação acho fraca, então andar a pé à noite em certas ruas, mesmo no Centro, tem risco.

MN – Marília teve um bandido que ficou famoso e conhecido como ‘Pé de Veludo’. Qual o motivo de ainda ser tão lembrado?

Celso Motta – Ele foi o que mais desafiou a segurança pública. Mas ele era passivo, não agredia. Era mais esperto e usava da astúcia. Acho que ele era um assaltante sem histórico de crimes violentos. Ele era conhecido por ajudar as crianças do bairro, perto do Yara Clube, dando doces e dinheiro para que o avisassem da chegada da polícia.

MN – Quais histórias do seu livro você considerou mais importantes para incluir?

Celso Motta – O principal foi o progresso de Marília e os personagens da história.

Celso Motta pesquisou história de Marília e decidiu escrever livro sobre o assunto (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)

MN – E para o senhor, quem foram os personagens mais importantes para a história de Marília?

Celso Motta – Lembro de alguns prefeitos. O Doutor Miguel Argollo Ferrão, que teve dois mandatos, fez uma grande administração e trouxe bastante desenvolvimento para a cidade. Ele era engenheiro e trouxe o Departamento Nacional de Obras de Saneamento para Marília, que limpava os rios da região. Depois dele, o doutor Otávio Barreto Prado também foi um bom prefeito, assim como o doutor Armando Biava, engenheiro que trouxe a ligação da água do rio do Peixe para Marília.

MN – A questão da água em Marília sempre foi um desafio?

Celso Motta – Sim. Marília não tem um rio que passe bem perto da cidade para fornecer mais água. Utilizamos muito os poços artesianos. Mas com o crescimento da construção civil, pode haver problemas futuros com o abastecimento.

MN – O que não poderia faltar em uma reportagem sobre a cidade de Marília, na sua opinião?

Celso Motta – Acho que são os personagens. As pessoas que vieram no início com o ímpeto de crescer com a cidade, construir um futuro com a família. No Museu Histórico Pedagógico constam as famílias pioneiras, que chegaram até 1930. Transcrevi isso no livro. Foi como no velho oeste. Chegaram aqui com as florestas e tiveram que desbravar. Isso ocorreu devido ao objetivo do Governo do Estado que, em 1905, enviou comissões geológicas para desbravar o oeste paulista. Uma dessas expedições desbravou a região onde hoje está Marília. Foi um início duro, enfrentando intempéries, índios, feras e doenças.

MN – Marília não teve apenas uma origem?

Celso Motta – Marília é resultado da união de três patrimônios. O Patrimônio Alto Cafezal, iniciado por Antônio Pereira da Silva em 1919. Em 1925, Bento de Abreu Sampaio Vidal fez seu loteamento, chamado Patrimônio Marília. E em 1928, o coronel Galdino de Almeida e seu sócio, coronel José Braz, fundaram a fazenda Bonfim e lotearam a parte que virou Vila Barbosa. Em 1929, os três patrimônios se juntaram com o nome de Marília. Em 24 de dezembro de 1928, o Governo do Estado criou o município. E em 4 de abril de 1929, foi instalado o município com a eleição dos primeiros vereadores e do prefeito.

Primeiro lançamento de livro foi na OAB Marília (Foto: Arquivo pessoal)

MN – E quanto tempo levou para escrever o livro sobre a história de Marília?

Celso Motta – A pesquisa durou uns dois anos. Para escrever mesmo, mais uns seis meses.

MN – Para quem quiser adquirir o livro, como pode fazer?

Celso Motta – Aqui no meu estabelecimento, na rua Amazonas, 71, no Sebo Amazonas. Também tem na Livraria Compasso, na rua Maranhão, e na banca de jornais da rua Nove de Julho. Só na internet que ainda não coloquei.

Celso Motta e seus livros publicados (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)
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