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A dor não a derrubou…

Nazaré vista do Monte do Precipício: cidade-base da Sagrada Família tem várias mesquitas (Foto: Ramon Barbosa Franco)

Da segunda vez que entrei em Jerusalém pela Porta do Leão, uma das oito portas que dão acesso à Capital Mundial da Fé, notei uma frase escrita em inglês num prédio histórico. Tratava-se do local onde nasceu Maria, a mãe do Nazareno. Ao lado do tanque de Betesda, outro ponto sagrado para o cristianismo, fica a basílica de Sant’Anna, construída para preservar o terreno que abrigou a chegada da jovem que deu à luz ao Verbo.

Betesda – ou Betsaida, em algumas traduções para o português – consiste no nome dado a uma série de tanques localizados no bairro árabe da Velha Jerusalém. Posicionados no caminho do Vale de Beth Zeta, tais tanques são datados ao menos sete séculos antes de Cristo. Era um reservatório de água da chuva que, depois, passou a fazer parte da cultura judaica como local para a purificação de pessoas e animais.

Sant’Anna – ou Santa Ana – era a mãe de Maria, portanto, avó materna de Jesus. Daí o motivo da basílica em Betesda tê-la como padroeira.

Do alto do Monte do Precipício – onde Jesus quase foi jogado por judeus raivosos – consegui observar Nazaré, ainda hoje uma pequena cidade da Galileia. Maria viveu ali, com São José, e Jesus – por isso o Cristo também é chamado de Nazareno. Nazaré é uma cidade muçulmana, com mesquitas dominando o cenário, ao invés de igrejas cristãs, que trazem cruzes.

As mesquitas trazem cúpulas, minaretes e as reproduções da lua crescente. Incrível observá-las, ainda mais quando os cânticos do islamismo são entoados de quando em quando. Maria é também chamada em nosso Brasil de Aparecida, isso porque em 1717 três pescadores no Vale do Paraíba paulista encontraram uma imagem de Nossa Senhora da Conceição enquanto flutuavam no rio Paraíba do Sul.

A pequena estátua trouxe-lhes muitos peixes, colocando fim à uma pesca infrutífera. Tempos depois, um escravo chamado Zacarias teve as correntes arrebentadas ao se ajoelhar em oração em frente à estátua de Aparecida.

Herdado da época em que estávamos em clausura por conta da pandemia de covid-19, mantive o hábito de assistir missas pela TV, principalmente pela emissora TV Aparecida, cuja a sede é em Aparecida, santuário da padroeira do Brasil no Vale do Paraíba paulista.

Acabava seguindo na programação e assim descobri, por exemplo, que o padre Zezinho celebrou 80 anos de vida. Inclusive, cheguei a escrever sobre este religioso que é uma referência na difusão do Evangelho através da música. E pela TV Aparecida conheci o trabalho do padre Camilo Júnior. Muitas vezes, ao acompanhar a homilia do padre Camilo, me despertava a vontade de conhecê-lo pessoalmente, de apertar a sua mão. Em uma das suas falas, cheguei a anotar o que ensinou sobre Maria: “A dor não a derrubou porque o amor de Deus a sustentou em pé”, afirmou ao relatar que a mãe do Cristo não arredou o pé da cruz, mesmo enquanto o filho morria aos seus olhos sentindo profundas dores na tortura de sua cruz.

Pois, não é que acabei conhecendo o padre Camilo na Galileia? Numa dessas coincidências inexplicáveis, em novembro de 2022, quando estava no hotel Leonardo, em Tiberias, nas margens do Mar da Galileia, eis que chega uma caravana de peregrinos no Brasil e padre Camilo liderando o pessoal!

Não me contive e corri até ele, lhe dando um forte abraço. E, como diziam os tropeiros de Sorocaba: “nesse mundo até as pedras se encontram”, eis que a professora Mary Profeta, amiga de Marília, estava nessa mesma caravana! Que mundo pequeno esse, hein!?

 

Ramon Franco

Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor de diversos livros, entre eles ‘A próxima Colombina’

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