Marisa Regina Stradioto comanda setor de transplantes da Santa Casa de Marília (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)
O mês de setembro é marcado por uma campanha de grande relevância para a saúde pública. O Setembro Verde é o movimento dedicado à conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos. A iniciativa tem como marco o dia 27, data que busca reforçar junto à população a importância de manifestar em vida o desejo de ser doador e, principalmente, compartilhar essa decisão com a família.
Em Marília, a Santa Casa desempenha papel fundamental nesse processo, atuando tanto na captação quanto na realização de transplantes. Para compreender melhor os desafios, a logística e a sensibilidade que envolvem cada etapa da doação, o Marília Notícia conversou com Marisa Regina Stradioto, integrante da Comissão Intra-Hospitalar para a Captação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHT).
Na Entrevista da Semana, Marisa detalha os critérios médicos e legais que regem os procedimentos, apresenta dados atualizados da fila de espera e destaca o impacto da recusa familiar. Ela também explica o diagnóstico de morte encefálica e o comprometimento da Santa Casa em oferecer esperança a quem aguarda por um recomeço.
MN – O que é o Setembro Verde e qual a sua importância?
Marisa Stradioto – É o mês de conscientização sobre a doação de órgãos, iniciado em 1º de setembro. O Dia Nacional e Mundial da Conscientização da Doação de Órgãos é 27 de setembro. É um período crucial para destacar a importância de informar os familiares sobre o desejo de ser doador.
MN – A vontade expressa em vida é suficiente para garantir a doação?
Marisa – Infelizmente, não. Pela legislação brasileira, a autorização final cabe à família. Mesmo que a pessoa tenha declarado o desejo em vida, sem o consentimento familiar, a doação não ocorre. Por isso, o diálogo em casa é tão importante.
MN – O que é a morte encefálica e como ela é diagnosticada?
Marisa – É a morte do cérebro, geralmente após acidentes graves ou AVCs. O coração ainda pode bater por causa de aparelhos e medicamentos. O diagnóstico segue um protocolo rigoroso, com dois exames clínicos realizados por médicos diferentes, intervalo de uma hora entre eles, teste de apneia e um exame complementar, como Doppler ou eletroencefalograma.
MN – Como a equipe lida com o momento de dor da família?
Marisa – O médico da UTI comunica o óbito após os exames. Em seguida, a CIHT, capacitada para esse momento, conversa com a família sobre a possibilidade de doação. A equipe é multidisciplinar, com médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social.
MN – A recusa familiar é frequente?
Marisa – Sim. Dados da Associação Brasileira de Transplantes (ABTO) mostram que, entre janeiro e junho de 2025, São Paulo registrou 39% de recusas. A média nacional foi de 45%, sendo Goiás o estado com maior índice: 72%.
MN – Quais órgãos e tecidos podem ser doados?
Marisa – Uma pessoa pode salvar até oito vidas: coração, fígado, rins, pâncreas, córneas, pele e ossos. A demanda por ossos cresceu, especialmente para procedimentos ortopédicos e odontológicos.
MN – Como está a fila de espera por transplantes?
Marisa – É extensa. Em São Paulo, de janeiro a junho, 3.040 pessoas entraram na fila e 839 morreram sem transplante. Em junho, 26.541 órgãos eram necessários no estado. No Brasil, 71.745 pessoas aguardavam.
MN – E quanto às crianças?
Marisa – A situação é ainda mais delicada. Em São Paulo, 292 crianças estavam na fila, sendo 146 por rim, 28 por fígado, 36 por coração e 80 por córnea. No país, 1.111 crianças aguardavam transplante.
MN – Como funciona a logística do transporte de órgãos?
Marisa – É uma corrida contra o tempo. Para o coração, por exemplo, são apenas quatro horas. Muitas vezes usamos aviões ou helicópteros. A cirurgia do receptor só começa após a confirmação da compatibilidade.
MN – O que define a prioridade na fila?
Marisa – A gravidade do estado do paciente é determinante. Quem corre risco iminente de morte pode passar à frente, mesmo com outros compatíveis.
MN – Quem arca com os custos?
Marisa – O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre todo o processo, desde a manutenção até o transplante. Apenas em casos muito específicos, alguns convênios começaram a cobrir transplantes de fígado.
MN – A Santa Casa realiza transplantes?
Marisa – Sim. Realizamos transplantes de rim e fígado, temos ambulatórios pré e pós-transplante e enxertos ósseos. Com a transferência de procedimentos de neurocirurgia do SUS para a Santa Casa, aumentamos a captação.
MN – Existem tipos diferentes de doação?
Marisa – Sim. Em morte encefálica, todos os órgãos podem ser doados. Com o coração parado, apenas tecidos como córneas. Também existe a doação em vida: sangue, medula, parte do fígado e um rim.
MN – Há idade limite para ser doador?
Marisa – Sim. Para o coração, geralmente até 30 anos. Para outros órgãos, pode chegar a 70, dependendo das condições. Para córneas, o limite varia: até 70 anos em São Paulo e até 80 em alguns estados.
MN – Como é a vida após o transplante?
Marisa – O paciente será acompanhado por toda a vida, usando imunossupressores e realizando exames contínuos. É um compromisso vitalício, mas que devolve a chance de viver.
MN – Qual é a principal mensagem da campanha Setembro Verde?
Marisa – Que as pessoas conversem com suas famílias sobre a doação de órgãos. Apesar de ser um tema difícil, é essencial. A dor de quem está na fila é imensa. Queremos dar esperança e melhorar vidas.
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