Sandra Domingues é a responsável pelo Banco de Leite Humano de Marília (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia)
O Banco de Leite Humano de Marília completa mais de quatro décadas de atuação, sendo um dos pioneiros no Estado de São Paulo. À frente da iniciativa desde 1991, a enfermeira Sandra Domingues compartilhou os avanços, desafios e a importância vital do serviço, que funciona dentro do SUS e atende bebês internados em UTIs neonatais.
Ela relembra que o banco passou por diversas sedes até chegar ao atual endereço, na rua 15 de Novembro, e destaca que o conhecimento técnico permanece sólido, embora constantemente atualizado por meio de capacitações coordenadas pela Fiocruz.
Sandra revelou o funcionamento rigoroso e altamente técnico do processo de doação, desde a triagem das mães, coleta e higienização até a pasteurização e liberação do leite para hospitais.
Hoje, Marília conta com 66 doadoras — número ainda abaixo do ideal, de mais de 120 — para suprir a demanda de recém-nascidos prematuros e de baixo peso. Sandra também reforça o papel educativo do banco, orientando gestantes e mães que precisam retornar ao trabalho, além de destacar as ações desenvolvidas no Agosto Dourado, mês de incentivo à amamentação, com eventos em Marília e municípios da região.
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MN – Como começou sua história com o Banco de Leite Humano de Marília?
Sandra Domingues – O Banco de Leite Humano foi inaugurado em 1984. Eu entrei na Atenção Básica e logo fui convidada para a Secretaria da Saúde como coordenadora de enfermagem. Em seguida, fui convidada a ser a coordenadora do Banco de Leite. Naquela época, o banco ficava dentro da Secretaria Municipal da Saúde, mas o espaço físico mudou algumas vezes. Começamos atrás do Yara, depois fomos para a Cascata e, em seguida, para a Nove de Julho, em um prédio que era uma escola. Eu entrei para o Banco de Leite em 1991.
MN – Muita coisa mudou daquela época para agora?
Sandra Domingues – A técnica, uma vez aprendida, se mantém. O que temos são capacitações e atualizações contínuas. Nossa coordenação fica na Fiocruz, no Rio de Janeiro, e hoje nosso curso é online. Eu, inclusive, participei do primeiro curso presencial para coordenadores — uma semana inteira com novas tecnologias. Hoje, o banco de leite é uma rede global, não apenas brasileira. Já estamos levando a tecnologia do Brasil para a Europa.
MN – Como funciona a doação?
Sandra Domingues – Nós não pegamos o leite na residência e o encaminhamos direto para o hospital. O processo é bem rigoroso. Primeiro, fazemos um histórico completo da mamãe doadora e colhemos o sangue para análises. Depois, ensinamos como retirar o leite em casa, com toda a higienização e paramentação. Passamos uma vez por semana para recolher esse leite.
MN – Como é feito o controle de qualidade?
Sandra Domingues – Nós o pasteurizamos. Importante ressaltar: o leite de uma mãe não é misturado com o de outra. Trabalhamos com colostro, leite de transição e leite maduro. Ao pegar o frasco descongelado, a equipe se paramenta conforme a Anvisa, transfere o leite para outro frasco esterilizado, todos no mesmo volume. Tiramos uma amostra e submetemos a uma máquina que aquece a água a 65 °C e o leite a 62,5 °C por 30 minutos. Depois, há um choque térmico — que é a pasteurização. Colhemos uma nova amostra para a contagem microbiológica. Somente após todas as análises e o histórico da mamãe é que esse leite vai para um freezer, para ser distribuído às UTIs neonatais. E ele só sai daqui com a prescrição do médico da UTI.
MN – Qual a importância do Banco de Leite de Marília no cenário estadual?
Sandra Domingues – O Banco de Leite de Marília foi o quarto no Estado de São Paulo a ser inaugurado. Hoje, o Estado conta com 58 bancos. Além disso, temos uma rede de postos de coleta em diversas cidades da região, como Adamantina, Quintana, Pompeia, Lucélia, Osvaldo Cruz, Bastos, Garça, Alvinlândia, Ocauçu e Campos Novos. Fazemos parcerias e termos de cooperação técnica com esses municípios, que trabalham o aleitamento materno para captar doadoras e encaminham o leite congelado para Marília.
MN – Quantas doadoras vocês têm atualmente e qual seria o número ideal?
Sandra Domingues – Temos 66 doadoras, e o ideal seria pelo menos 120 ou mais. Precisamos de mais doadoras porque os bebês nascem e, por intercorrências na gestação, chegam os pequeninos de 500g, 600g, 800g, 1kg. Esses bebês precisam receber leite humano, pois a fórmula pode trazer danos à saúde deles, devido ao desenvolvimento tão delicado. O leite humano é o ideal para a vida dessas crianças.
MN – Qual é a média de doação?
Sandra Domingues – Anos atrás, recebíamos até dois mil litros de leite por mês, mas hoje esse número caiu. Essa queda nos preocupa, porque não sabemos se as mamães estão amamentando menos, se têm dúvidas sobre a doação ou se pensam que pode faltar para o próprio filho. Mas o peito de mãe não é depósito, é uma fábrica. Quanto mais ela manuseia a mama, mais leite produz. Milhares de mães já passaram por nós, muito mais de mil. Temos casos de adultos que hoje são pais e foram bebês que precisaram do banco. O filho de um motorista da frota, por exemplo, foi um bebê do banco e hoje é engenheiro.
MN – Como o banco auxilia as mães que precisam retornar ao trabalho?
Sandra Domingues – Esse é um ponto crucial. Muitas mães acabam desmamando antes dos quatro meses por preocupação ao retornar ao trabalho. Mas queremos informar que ela não precisa desmamar. Hoje, nossa rede municipal de ensino infantil tem sala de amamentação em 16 escolas. A mãe que volta ao trabalho tem direito a dois períodos de meia hora para ir amamentar o bebê e pode negociar isso com o patrão. E, se a escola for distante, ela pode retirar o leite e levar para o bebê, pois a escola sabe como ofertá-lo. Nós somos pioneiros no mundo com a sala de amamentação na escola. Precisamos que a imprensa informe mais as mamães marilienses, pois muitas desconhecem e acabam desmamando antes da hora.
MN – Quais são as ações que o Banco de Leite está promovendo neste Agosto Dourado?
Sandra Domingues – Este mês está recheado de atividades. Teremos palestras em um curso para gestantes, mostrando o serviço do Banco de Leite. Estaremos em Garça e no Hospital Universitário da Unimar, além da inauguração de salas de amamentação em um colégio. Teremos um “Mamaço” no dia 17 de agosto e outro no “Domingo da Família”, em frente à Emdurb. O encerramento será no dia 31, com a “Amamentação nos braços da mãe natureza”, no Bosque. Participaremos de eventos em vários municípios da região, como Lupércio, Campos Novos, Alvinlândia, Pompeia, Cândido Mota, Guarantã e Ibirarema. Receberemos alunos do Colégio Cristo Rei para conhecer nossos serviços. Teremos um “cine pipoca” sobre a indicação de outros alimentos para crianças e uma roda de conversa com todas as enfermeiras da nossa rede de saúde. E, para as mamães doadoras de Marília, o Fundo de Solidariedade está preparando um chá especial.
MN – Deve ser um orgulho imenso fazer parte dessa história por tanto tempo e ajudar tantas mães e bebês.
Sandra Domingues – Com certeza! Eu digo que poderia estar aposentada, mas sei que Deus me capacitou para fazer muito mais por essas mulheres e crianças. É por isso que estou aqui. Vamos trabalhar cada dia mais para alcançar um índice maior de aleitamento materno em nosso município e, quem sabe, ser a capital nacional do primeiro alimento!
MN – Para quem se interessou e deseja ajudar ou precisa de apoio, qual é o contato e o horário de funcionamento do Banco de Leite Humano de Marília?
Sandra Domingues – O Banco de Leite Humano e o Ambulatório Municipal de Aleitamento Materno ficam na rua 15 de Novembro, 50. O telefone é (14) 3413-8696. Se você tiver leite excedente, pode ligar, e nós vamos até você para a coleta. Para a mamãe que precisa de ajuda, é importante lembrar que é um serviço do SUS, gratuito, com uma equipe especializada há mais de 40 anos, pronta para dar todo o suporte sobre amamentação. Gestantes também podem vir — é só agendar um horário para receber orientações para quando o bebê nascer. Isso é fundamental para tirar dúvidas e lidar com situações desde o pré-natal. O banco funciona das 7h às 17h.
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