Polícia

Polícia investiga esquema milionário de golpes e suspeita de ‘pirâmide’

Emerson queria um consórcio; acabou com um financiamento que não fez e dor de cabeça (Foto: Carlos Rodrigues/Marília Notícia)

Cansado após trabalhar a noite toda como eletricista em vias públicas, nem deu tempo de tirar o uniforme. Emerson Carlos Casarin, de 50 anos, procurou o plantão policial de Marília na manhã desta terça-feira (4). Ele é mais uma vítima de um esquema de golpes que pode envolver estelionato, falsidade ideológica e quadrilha, em uma lista de crimes, por meio de fraudes em financiamento veicular.

O eletricista nem pensa em pagar os mais de R$ 100 mil que deve a um banco, pela compra de um Honda Civic que nunca viu. Tudo que ele espera é ter novamente o nome limpo e poder atender ao telefone, sem se preocupar com cobranças.

A Polícia Civil de Marília apura um esquema, que pode ter feito dezenas de vítimas e movimentado milhões de reais em prejuízos. Quase 30 pessoas já procuraram o plantão da Central de Polícia Judiciária (CPJ) nas últimas semanas. Os relatos apontam para uma mulher.

A ESPECIALISTA

A suposta golpista tem 37 anos e mora na zona norte da cidade, embora não esteja sendo localizada há vários dias. Conhecida no meio em que trabalha, a mulher já teria tido emprego em concessionárias de veículos e atuado para lojas de seminovos. Seria considerada uma especialista em créditos bancários.

Segundo informações apuradas pela reportagem do Marília Notícia, a avalanche de denúncias chegou ao conhecimento da polícia quando inúmeros boletins de ocorrência começaram a trazer históricos semelhantes.

A maioria das vítimas – servidores municipais, pessoas da mesma família, colegas de trabalho e até um policial – relatou ter descoberto financiamento de veículos que nunca compraram. Os dados pessoais teriam sido usados indevidamente.

Ao aprofundar os questionamentos com parte das vítimas, a polícia descobriu que algumas pessoas teriam aceitado oferecer voluntariamente as informações pessoais – incluindo biometria colhida por aplicativo. As informações coletadas pela “especialista” era supostamente para viabilizar créditos bancários.

GOLPE

A entrega voluntária de informações ocorria porque, segundo a denúncia, a mulher se apresentava como agente de crédito e prometia dinheiro fácil (entre R$ 250 e R$ 500) em troca de pré-cadastros registrados em um suposto sistema para liberação de crédito. A golpista alegava que a intenção era supostamente “bater meta” em seu trabalho e melhorar a renda mensal.

As vítimas forneciam seus dados pessoais e até mesmo os de familiares e amigos, sem imaginar que estavam caindo em uma armadilha. É apontado que a acusada dizia ainda que, posteriormente, todos os registros seriam cancelados e nenhum compromisso financeiro seria gerado para a vítima sem sua confirmação.

Alguns relatos indicam a formação de uma espécie de pirâmide financeira, onde indivíduos eram incentivados a recrutar mais pessoas para receberem valores mais altos. Por isso o caso envolve tantas pessoas que são da mesma família ou trabalham no mesmo ambiente. Ou seja, uma pessoa fornecia os documentos da outra (provavelmente, familiar e/ou conhecido), a fim de supostamente receber o dinheiro – acreditando que ninguém seria lesado.

Não está descartada a possibilidade de algumas pessoas terem faturado valores mais altos ao trazerem mais gente para a armadilha – mesmo que sem saber os reais prejuízos – montada pela especialista em crédito.

O MN apurou que, para os investigadores, algumas das vítimas que teriam aceitado a “oferta”, podem ter cometido o crime motivadas por ganância. Assim, caso os bancos formalizem as denúncias contra estas pessoas – o que na maioria das vezes não acontece -, elas, além de terem o nome lesado, também poderão responder na Justiça pelos atos.

A polícia investiga a extensão do esquema, que já resultou na identificação de uma caminhonete de luxo, avaliada em mais de R$ 300 mil, que teria sido financiada pelo menos três vezes de forma fraudulenta. O caso serve como um alerta para que as pessoas estejam atentas a promessas de dinheiro fácil e evitem fornecer seus dados pessoais a estranhos.

GATO POR LEBRE

O eletricista citado no início da reportagem garante que está entre as vítimas que nunca conversaram com a suspeita de operar o esquema. Ele também garante que desconhecia oferta de dinheiro para indicar outras pessoas e nunca recebeu nenhum centavo.

“Eu queria fazer um consórcio, nem financiamento era. Chegou para mim como uma oportunidade, através de uma pessoa da família. Mandei os documentos, fiz a biometria acessando um link que recebi. Minha irmã e meu cunhado também foram vítimas”, revela.

O homem mostra uma agenda com vários nomes e números de telefone. São pessoas que, segundo ele, seriam contactantes da mulher ou outras vítimas. A esperança é que algum dos contatos tenha respostas. O eletricista diz que ainda não teve prejuízo efetivo, mas teme ficar negativado.

“Eu estava esperando a confirmação do consórcio, quando veio a cobrança do financiamento. O banco me disse que esse Civic nem no meu nome está mais, só que a dívida é minha. Tudo que eu quero é esclarecer isso, para não sujarem meu nome”, garante.

Ainda conforme o eletricista, um advogado que teria o contato de uma série de vítimas, já teria procurado a suposta ‘especialista’, sem sucesso.

A polícia já sabe que atualmente a mulher suspeita do golpe não está vinculada a nenhuma concessionária, revenda de serviços ou banco, mas não descarta o envolvimento de mais pessoas, com acessos mais amplos aos sistemas de aprovação de crédito.

O número de instituições financeiras lesadas ainda é desconhecido. Até agora, nenhuma delas teria procurado a polícia para pedir investigações do caso.

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Carlos Rodrigues

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