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O vício de agradar e o preço invisível da exaustão emocional

Vanessa Lheti é psicóloga clínica e especialista em terapia cognitivo-comportamental e prática baseada em evidências (Foto: Divulgação)

Dizia sim quando o coração implorava por descanso.
Sorria enquanto escondia desejos próprios.
Concordava para preservar harmonia alheia, mesmo quando a alma pedia honestidade.

Transformou doçura em armadura.
Confundiu gentileza com merecimento.
Acreditou que afeto dependia de obediência emocional.

No início, parecer prestativa significava aceitação.
O silêncio emocional parecia proteção.
A disponibilidade constante parecia amor.

Até perceber que, em cada concessão, perdia algo precioso: si mesma.

Na psicologia, esse padrão é conhecido como fawn response — um movimento de apaziguamento emocional para evitar rejeição.

Forma-se quando a mente aprende, cedo demais, que cuidado vale mais do que verdade interna.
O corpo aprendeu a não desagradar para garantir afeto.

Surgem pensamentos profundos:

  • “Se discordar, então, perderei vínculo.”
  • “Se desapontar, então, deixarei de ser importante.”
  • “Se não corresponder, então, serei esquecida.”

É um raciocínio silencioso, porém devastador.
Em busca de acolhimento, nasce uma existência condicionada ao olhar externo.

Entretanto, aprovação constante não sustenta identidade — apenas esgota.

Pesquisas em neurociência mostram que cérebros condicionados à validação funcionam em estado de alerta contínuo.

Atenção elevada, respiração curta, tensão muscular constante.
O organismo interpreta qualquer possibilidade de desapontar alguém como ameaça relacional.

Por fora, dedicação.
Por dentro, vigilância.
Não é gentileza — é medo mascarado de cuidado.

O desgaste surge sutil, até que um dia o corpo sussurra o que a boca não disse: basta.
Não se trata de falta de força, mas de limite humano.
Ninguém floresce sacrificando-se para ser escolhido.

Reconstrução começa quando o olhar volta para dentro.
Na TCC, trabalhamos crenças que sustentam esse padrão:

  • Validação vira autonomia.
  • Medo vira consciência.
  • Culpa vira limite saudável.

Dizer não torna-se proteção, não afastamento.
Honestidade vira afeto verdadeiro, não confronto.
Escolhas internas passam a valer mais do que expectativa alheia.

O amor amadurece quando deixa de ser pedido e passa a ser presença íntegra.

Exigir menos de si mesma não é descaso.
Valorizar a própria voz não é arrogância.
Cuidar da própria paz não é abandono.

Somente quando alguém sustenta a própria existência descobre que liberdade emocional nasce ao ocupar o próprio lugar — inteiro, legítimo, sereno.

Porque agradar o mundo inteiro custa caro demais: custa a própria alma.

E ninguém merece desaparecer para caber no coração de outrem.

***

Vanessa Lheti é psicóloga clínica (CRP 06/160363) e especialista em terapia cognitivo-comportamental e prática baseada em evidências.

Os atendimentos psicológicos online podem ser agendados pelo WhatsApp (18) 9 9717-7571 [clique aqui].

Mais informações podem ser obtidas no Instagram @psicovanessalheti ou pelo site [clique aqui].

Vanessa Lheti

Psicóloga clínica especializada em Terapia Cognitivo-Comportamental e prática baseada em evidências com foco em liberdade emocional e relacionamentos saudáveis.

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