O salto de Thiago Braz que a educação ainda não deu

Os saltos de Thiago me servem de metáfora para tocar nesta falha do poder público

A vida é mesmo cheia de saltos. Saltos com vara, para o nosso conterrâneo Thiago Bráz, medalhista de ouro na citada prova nas Olimpíadas do Rio.

Thiago foi criado pelos avós e por um tio em Marília. Seus pais, segundo o próprio atleta, brigavam muito e não estavam presentes.

De Marília Thiago pouco recebeu e foi treinar em Bragança Paulista, e de lá para a Itália, por meio de um programa do COI (Comitê Olímpico Brasileiro) com o Exército brasileiro.

Por que nossa educação básica ainda não valoriza pessoas como Thiago, que tem o sonho de ser atleta olímpico?

Os saltos de Thiago me servem de metáfora para tocar nesta falha do poder público, claro. Minha preocupação aqui é com o abismo que existe entre educação e esporte em nossa sociedade.

Na história da educação, pelo ponto de vista filosófico, cheia de saltos pode-se dizer também sobre a presença do “corpo” na educação. Tecnicamente falando, trata-se da “educação do corpo”. Desde Platão até a filosofia moderno, entende-se que a mente se eleva para o conhecimento apenas em detrimento do corpo.

Entre outras implicações, a administração dos espaços escolares aos aprendizado, do sistema disciplinar escolar e dos repousos dos alunos exigiam um corpo manso e treinado para a aprendizagem tomar lugar. Daí as crianças em geral serem tratadas nas escolas por substantivos diversos, como “capetinhas”. Natural.

Assim, toda educação escolar é educação do corpo, mesmo que seja para negá-lo, para discrimina-lo, para amansa-lo, para treina-lo, em favor do poder da mente.

Desde John Dewey no início do século XX (talvez Wittgenstein antes dele), como sabem, um dos meus filósofos favoritos, o corpo vem gradativamente retomando sua importância na esfera escolar e na educação familiar. Dewey foi um importante agente nesse processo de reposicionamento do corpo como algo que pensa, sente, é consciente e aprende.

Para Dewey, o professor ensina antes de mais nada por meio do movimento do seu corpo, do cuidado que tem para consigo mesmo, para sua existência corpórea. Dewey trata essa questão dizendo que o professor primeiro ensina por meio do exemplo, de ser ele próprio um exemplo para o aluno.

É uma educação na esfera do inefável, daquilo que não é dito (ou dito apenas nos corredores das escolas entre os alunos pelas costas dos professores). Esse é apenas um ponto inicial desse reposicionamento do corpo na educação.

As consequências para a educação escolar e o currículo ainda são objetos de debate e estudo dentre os especialistas, administradores escolares e pedagogos. Contudo, os professores brasileiros ainda enfrentam situações de falta de incentivo e condições para exercerem suas atividades docentes.

Assim como Thiago Bráz, muitos professores brasileiros ainda precisam dar seus “saltos” para subir na vida.

Marília Notícia

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