Aurpelio Magalhães retornou para Marília após pedalar por oito anos ao redor do planeta (Foto: Arquivo pessoal)
A trajetória de Aurélio Magalhães, que transformou a bicicleta em meio de transporte, estilo de vida e passaporte para o mundo, começa nas ruas tranquilas de Marília, ainda nos anos 1970.
Criado no bairro Bassan, entre pedaladas rumo às escolas Bezerra e Antônio Gomes de Oliveira, ele descobriu cedo que duas rodas podiam levá-lo muito além dos limites do bairro. Foi ali, percorrendo a cidade inteira, que surgiu a relação afetiva com a bicicleta — algo que, anos mais tarde, se converteria em aventura global.
O que começou como lembrança de infância ganharia novo sentido em 2011, quando Aurélio decidiu encarar sua primeira grande expedição: uma viagem de bicicleta pela Noruega até o Círculo Polar Ártico. A experiência, marcada por cenários gelados e pelo sol da meia-noite, reacendeu o antigo sonho de conhecer o mundo pedalando.
Quando decidiu fazer uma jornada de seis meses, a viagem se transformou em mais de oito anos de estrada. Foram 77 mil quilômetros percorridos e 69 países atravessados — um feito que colocou o mariliense entre os grandes aventureiros brasileiros.
Mais do que números, a volta ao mundo de Aurélio foi um mergulho em culturas diversas, desafios extremos, paisagens impressionantes e encontros transformadores. Da travessia de desertos aos picos gelados, das barreiras linguísticas às semanas sem comunicação, das alegrias da autonomia ao peso da saudade, ele reuniu histórias que agora compartilha para inspirar outras pessoas.
MN — Quais são os números dessa jornada?
Aurélio Magalhães — No total, já conheço uns 90 países, sendo aproximadamente 70 pedalando. Essa viagem foi a busca de um sonho de garoto que estava guardado na gaveta.
MN — Como você se preparou para encarar a estrada por tanto tempo?
Aurélio Magalhães — A preparação é complicada. Por mais que você se prepare, sabe que alguma coisa vai dar errado. O que envolve mesmo é coragem e espírito. Precisa pesquisar e ter experiência para lidar com adversidades, como pedalar na neve ou cruzar grandes desertos. As pessoas imaginam que pedalar seja o grande desafio, mas o condicionamento físico aumenta conforme você pedala.
MN — E você tinha um prazo para completar a volta ao mundo?
Aurélio Magalhães — Não. Saí de casa para pedalar seis meses, seis mil quilômetros em seis países. Durante esse trajeto, vislumbrei a possibilidade da volta ao mundo e segui. A preparação foi para seis meses, não para oito anos, o que exigiu muita adaptabilidade.
MN — Como foi o seu ritmo de viagem?
Aurélio Magalhães — Saí de Marília para pedalar. Se estou cansado, paro, pego uma sombra, coloco minha rede, cozinho minha comida, pego água gelada. Tenho autonomia total: levo barraca, comida, água, todo o equipamento. Não há a obrigatoriedade de cumprir um plano rígido; você trabalha com flexibilidade.
MN — Considerando todas as dificuldades físicas, climáticas e logísticas, qual foi a parte mais difícil da viagem?
Aurélio Magalhães — Sempre digo: a parte mais difícil é a saudade da família. As pessoas associam dificuldade a subir montanhas de cinco mil metros ou cruzar desertos, mas o mais difícil, cara, é a saudade. É muito tempo longe.
MN — E como você mantinha contato com a família?
Aurélio Magalhães — Sempre que possível a gente se falava. Mas nem sempre a internet ajuda. Ao cruzar o Pantanal, por exemplo, você pode passar uma semana sem área de cobertura. Contudo, hoje em dia, em vários momentos você está conectado ao mundo.
MN — Foi sempre o inglês a língua de comunicação?
Aurélio Magalhães — Em locais turísticos, não importa o país ou continente, geralmente você se comunica em inglês. Na América Latina, o espanhol me ajudou. Na África, tive mais dificuldade com o francês. Mas, quando você está pedalando entre um ponto turístico e outro, às vezes demora semanas até encontrar alguém que fale outra língua.
MN — E nesses interiores? Como superou a barreira da língua?
Aurélio Magalhães — É um desafio. Você imagina chegar à periferia de Marília falando inglês? Quem vai te ajudar? Mas o problema não é conversar, porque comunicação simples — pedir água, comida, banheiro — você resolve. O maior problema é em países com alfabetos completamente diferentes, como russo, cambojano, vietnamita ou tailandês. Não tem uma letra igual. Quando não tem quem perguntar e você encontra só placa na estrada, essa é a maior dificuldade.
MN — Dentre os 69 países, quais foram os lugares mais bonitos?
Aurélio Magalhães — É difícil escolher o mais bonito. Tenho mais de 450 vídeos no YouTube, com mais de 800 pontos turísticos registrados. Mas alguns exemplos: Alaska é muito bonito. Gostei muito de pedalar na Cordilheira dos Andes, na Cordilheira Branca, no Peru, e nos parques nacionais dos Estados Unidos, como Montana e Utah.
MN — E o lugar mais difícil ou o pior para atravessar de bicicleta?
Aurélio Magalhães — A Índia. Costumo dizer que pedalei por 68 países e “um planeta: a Índia”. Enfrentei muito calor extremo, muita gente, muita sujeira. Para atravessar de bicicleta, é muito difícil. Não pode pegar uma dor de barriga. Embora seja linda e rica culturalmente, é f*** para atravessar pedalando.
MN — Você chegou a correr algum risco sério?
Aurélio Magalhães — O pior foi o terremoto no Nepal, em abril de 2014. Pensei que ia desmoronar tudo. Teve também um acidente na Argentina, quando um carro bateu na autopista. Nunca passei por assalto ou sequestro, mas cruzei regiões de guerra, como a fronteira de Israel com a Jordânia. A bicicleta, porém, desperta muita solidariedade.
MN — Ser brasileiro ajudou nas suas interações?
Aurélio Magalhães — Nossa, ser brasileiro é um passaporte da alegria. Eles adoram o brasileiro no mundo inteiro. Em países da África e Ásia, a associação imediata é com o futebol, especialmente nos mais pobres. O futebol é nosso cartão de visita.
MN — Para finalizar: você já tem planos para as próximas pedaladas?
Aurélio Magalhães — Ainda não. Sempre digo que, antes de começar o próximo projeto, preciso terminar este: compartilhar a viagem por meio de palestras e do conhecimento adquirido na estrada, para despertar nas pessoas o que elas têm de melhor. Está cedo para pensar em outro projeto.
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