‘Não vemos somente um prédio ou uma grande máquina; vemos vidas’

Com honra e reverência ao passado recente, a inauguração da Unidade de Radioterapia Milton Tédde, entregue pela Santa Casa de Marília na última sexta-feira (14), marcou um momento de conquista e superação. Mas serviu também para revelar a Marília novos atores, personalidades que podem liderar a Marília do presente e do futuro.

Os investimentos na casamata – estrutura essencial para a instalação do equipamento – e no novo acelerador linear são resultado de anos de dedicação e superação. Mais do que avanços tecnológicos, representam um compromisso com a vida, levando esperança a quem enfrenta a batalha contra o câncer.

Entre as centenas de pessoas que trabalharam para tornar esse sonho realidade, está o jovem médico rádio-oncologista Yuri Bonicelli Crempe. Durante o ato solene, ele fez um discurso breve – na presença da mãe orgulhosa, na plateia. A fala do médico emocionou os presentes e ajudou a demostrar como essa nova fase, para a saúde regional, será importante para os pacientes.

Cerca de 70% das aproximadamente 3 mil novas vítimas de câncer registradas anualmente na região do Departamento Regional de Saúde (DRS IX), em Marília, precisarão de tratamento por radioterapia. Com a inclusão da Santa Casa, a cidade e os outros 60 municípios da região agora contam com três aceleradores lineares em operação, ampliando a capacidade de atendimento.

Nomeado como responsável técnico pelo serviço, Yuri Bonicelli Crempe não se limitou a falar sobre equipamentos de última geração ou avanços tecnológicos. Ele trouxe à tona o verdadeiro significado da radioterapia: a luta diária dos pacientes e o impacto desse atendimento na vida de cada um.

Nascido em São Carlos, o médico se graduou pela Faculdade de Medicina de Marília (Famema) entre 2008 e 2013 e fez residência no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo, de 2013 a 2017. Ligado à radioterapia do Hospital das Clínicas (HC), dedicou quase 20 anos de sua vida à Medicina, incluindo a fase preparatória.

Foi em Marília que Dr. Yuri construiu sua trajetória e consolidou sua missão, com a alta especialização. O médico carrega um indisfarçado sentimento de paixão pela profissão, com fé e afeto por seus pacientes, esperança e trabalho persistente pela cura.

Confira no Marília Notícia detalhes sobre o novo serviço. O site também revela um pouco mais da personalidade diferenciada de um profissional que escolheu fazer medicina com o coração.

MARÍLIA NOTÍCIA – Qual é o sentimento, doutor, sendo médico responsável por uma conquista de tamanha relevância?

DR. YURI – Eu represento não apenas a equipe da radioterapia, mas também muitas pessoas que querem que isso dê certo. E represento nossos pacientes, que em algum momento passarão por aqui. Não é apenas um prédio ou uma máquina; é perspectiva, vida, compromisso e um objetivo de proporcionar um atendimento de qualidade para a população de Marília e região.

Essa inauguração é um avanço significativo para a saúde pública local. Antes, muitos pacientes precisavam viajar para cidades distantes, enfrentando desgaste físico e emocional. Agora, Marília garante mais conforto, rapidez e qualidade no atendimento. O tratamento oncológico fica mais humanizado e eficaz.

MN – O que significa a radioterapia no tratamento oncológico?

DR. YURI – A radioterapia é um dos pilares do tratamento oncológico, podendo ser usada isoladamente ou em combinação com cirurgia e quimioterapia. Ela utiliza feixes de radiação ionizante para destruir células tumorais, prejudicando sua capacidade de divisão e crescimento.

MN – Quantos pacientes serão atendidos diariamente na nova unidade?

DR. YURI – Inicialmente atenderemos entre 20 e 25 pacientes por dia. No entanto, com a demanda crescente, de forma progressiva poderemos ampliar significativamente. As sessões são minuciosamente preparadas, mas duram minutos. Na prática, mais pessoas receberão atendimento adequado em tempo hábil, reduzindo filas de espera e otimizando os recursos disponíveis.

MN – Como funciona o fluxo de atendimento na unidade?

DR. YURI – O tratamento é totalmente individualizado. Cada paciente recebe um esquema de dose específico para seu caso. A cada 12 a 15 minutos, um paciente é atendido na máquina.

O processo começa com uma avaliação detalhada, seguida de exames de imagem para planejamento do tratamento. Em seguida, os cálculos de dose são feitos por uma equipe especializada para garantir a máxima eficácia. Todo o procedimento é acompanhado por profissionais capacitados para oferecer suporte clínico e emocional durante o tratamento.

MN – Há fila de espera para o início na radioterapia?

DR. YURI – Atualmente, o tempo de espera é de cerca de três meses. Com a inauguração da unidade Milton Tédde, nossa meta é reduzir essa fila drasticamente, proporcionando um tratamento mais ágil e eficaz. E é importante lembrar que a agilidade pode ser um fator determinante no sucesso do tratamento oncológico. Por isso, nossa prioridade é organizar os atendimentos de forma eficiente, garantindo que cada paciente receba a terapia indicada dentro do menor prazo possível.

Reduziremos também o deslocamento de pessoas para outras cidades. É mais conforto, menos desgaste físico e um acesso mais rápido. Antes, muitos pacientes precisavam viajar longas distâncias para receber radioterapia, o que era um grande desafio, especialmente para aqueles em estado de saúde mais debilitado.

MN – Qual é a tecnologia utilizada na nova unidade?

DR. YURI – O coração da unidade é o Acelerador Linear Varian, modelo Clinac CX. Ele conta com tecnologias avançadas como Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) e Radioterapia Volumétrica Modulada por Arco (VMAT), proporcionando maior precisão e segurança.

Essas tecnologias permitem que a radiação seja administrada com extrema precisão, minimizando danos aos tecidos saudáveis ao redor do tumor. Isso resulta em menos efeitos colaterais e maior eficácia no tratamento.

MN – Envolve muita gente no tratamento, não?

DR. YURI – A radioterapia requer uma equipe multiprofissional especializada, incluindo médicos radio-oncologistas, físicos médicos, técnicos em radioterapia, equipe de enfermagem, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas. Cada profissional tem um papel essencial no acompanhamento dos pacientes, garantindo um tratamento não apenas tecnicamente eficiente, mas também humanizado e acolhedor.

MN – O que diferencia essa unidade das demais?

DR. YURI – É o mesmo diferencial da Santa Casa, com um atendimento reconhecidamente humanizado. Temos uma estrutura singular de acolhimento e suporte ao paciente, comprometida também com o bem-estar físico e emocional. Além disso, a instituição investe constantemente na capacitação e modernização, o que garante um tratamento de excelência, como nos melhores centros do país.

Além da favorecer cura e controle da doença, a radioterapia é essencial para o alívio de sintomas, proporcionando mais conforto aos pacientes em estágios avançados. Ela pode reduzir tumores que causam dor, compressão de órgãos e outros sintomas debilitantes, permitindo que o paciente tenha uma melhor qualidade de vida mesmo durante a progressão da doença.

MN – Então agora a regional de Marília passa a ser autossuficiente em radioterapia?

DR. YURI – Sim. Marília se fortalece como referência em oncologia no estado de São Paulo, tendo a Santa Casa como a maior prestadora de serviços oncológicos da região. Isso representa um grande avanço para a saúde pública e um benefício incalculável para os pacientes, que agora podem contar com atendimento de ponta sem precisar sair da cidade, ou muito mais perto.

MN – É o SUS quem lidera todo esse movimento, doutor? A maioria dos atendimentos é pela saúde pública, certo?

DR. YURI – A grande maioria do acesso a uma radioterapia no Brasil é pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Estado de São Paulo os pacientes são encaminhados por meio da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS), que agora irá trabalhar com menor sobrecarga.

Como foi informado nessa inauguração, Marília hoje envia pacientes para fora da área da DRS, mas poderá passar a receber, para auxiliar a demanda.

MN – Que mensagem o senhor gostaria de deixar para os pacientes e familiares?

DR. YURI – A Unidade de Radioterapia Milton Tédde começa agora, mas é resultado de um sonho. As pessoas que trabalharam para chegarmos aqui não serão esquecidas; o legado está presente. Temos a responsabilidade de preservar o altruísmo que atravessa gerações na Santa Casa e vamos oferecer mais do que um tratamento. O compromisso é com a esperança e a superação. A luta contra o câncer pode ser difícil, mas queremos que cada paciente saiba que não está sozinho.

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