Entrevista da Semana

‘Minha luta é fazer com que o SUS aconteça na vida das pessoas’ diz Márcia Mesquita

Márcia Mesquita Serva está há mais de 20 anos à frente do HBU (Foto: Divulgação)

Graduada em Administração Hospitalar com especialização na área de Gestão em Saúde, a superintendente do Hospital Beneficente Unimar (HBU), Márcia Mesquita Serva Reis, de 44 anos, tem o DNA de trabalho e persistência do pai, o reitor da Universidade de Marília (Unimar), Márcio Mesquita Serva.

Casada com o médico Carlos Henrique Bertoni Reis, Márcia tem dois filhos, Júlia e Henrique, e sempre se emociona ao falar da família que tanto contribuiu para o desenvolvimento educacional de Marília. Além do pai, sua mãe Regina Ottaiano Losasso Serva e irmã Fernanda Mesquita Serva são motivos de orgulho por ajudarem a manter o funcionamento de um dos maiores campus universitários do Brasil.

O trabalho de Márcia é movido pela necessidade de atendimento médico das pessoas, em busca de soluções para dores, doenças e acesso dos mais vulneráveis ao Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamentos diversos. O lado emotivo da superintendente do HBU vem da mulher forte que conhece de perto o caos da saúde pública, mas não teme qualquer desafio.

A entrevistada da semana não almeja nenhum cargo político e não pretende ser prefeita. Márcia Mesquita Serva ama cuidar das pessoas e segue firme para realizar um desejo. “Minha luta é fazer com que o SUS aconteça realmente na vida das pessoas. A sensibilidade e experiência do meu pai e o apoio da minha família são alicerces do meu trabalho. Minha gratidão”, destaca emocionada.

***

MN – Como foi o envolvimento da Márcia com a área da Saúde? Como tudo começou?

MÁRCIA – A minha relação com a Saúde começa 24 anos atrás e se mistura muito com a história do hospital. Na verdade é o meu nicho, pois a inauguração do hospital culminou com o encerramento da minha graduação. Na época, trabalhava na Universidade de Marília, na área financeira e contábil, e vi o tanto de investimento que havia sido empregado pela Unimar no hospital e isso realmente me despertou uma curiosidade e vontade de zelar pela estrutura. O objetivo do reitor era transformar a saúde da cidade, e vim participar da implementação dos processos, da criação dos protocolos com assessoria do Albert Einstein, que foi contratado na ocasião para iniciar as atividades do hospital. Muito jovem encarei o cenário desafiador da saúde e a partir de então fui buscar uma formação na área específica de Gestão em Saúde, quando me graduei na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

MN – O que mais tem te motivado?

MÁRCIA – Olha o que mais me motiva hoje a continuar nessa área é entender a necessidade das pessoas com relação à saúde. É uma grande dor, principalmente no nosso país. O desafio é conseguir cuidar das pessoas num custo factível dentro de uma política pública justa e, para isto, venho estudando e aprendendo bastante. O que eu faço hoje precisa fazer sentido na vida da população. Este cuidado é algo que realmente me motiva e quero oferecer o melhor de mim [emocionada].

Fernanda Mesquita Serva, a pró-reitora da Unimar, é irmã de Márcia (Foto: Divulgação)

MN – O Pronto Atendimento (PA) sul leva o nome de Sinara Mesquita Serva e faz a diferença na vida das pessoas do bairro, a exemplo da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) norte. As duas unidades estão sob gestão da Associação Beneficente Hospital Universitário (ABHU), gerida por você. Como tem sido o trabalho?

MÁRCIA – De fato para conseguir alcançar esses serviços foi necessário fazer o Sistema Único de Saúde (SUS) acontecer. Tenho muito carinho por essas duas unidades e, para realizar este atendimento, preciso que as pessoas cheguem até o hospital. Esses pacientes passam pelas portas de entrada do município, que são UPA e PA, que fazem todo sentido para o nosso propósito institucional. A gente zela por essas duas unidades, que não estão prontas e nunca estarão prontas para nós, porque as necessidades da população mudam todos os dias. Enfrentamos há três anos a pandemia da covid-19 e as pessoas iam buscar atendimento nessas duas portas de entrada nas regiões sul e norte, assim como ocorre agora com a epidemia da dengue. As necessidades nunca acabam e temos limitações sim. É desafiador manter o trabalho de excelência todos os dias.

MN – Quantas pessoas passam por essas duas unidades por mês?

MÁRCIA – Nós atendemos uma média de 10 mil pacientes por mês tanto no PA como na UPA. Juntas são 20 mil pessoas. O que mais nos motiva em continuar na gestão destas unidades é o carinho que recebemos da população. Os pacientes levam presentes para nossa equipe e enviam agradecimentos. É lindo e emocionante. As duas unidades têm mais de 80% de avaliação positiva dos serviços oferecidos. Agora buscamos resolver a insatisfação dos outros 20%. Hoje, as maiores queixas são relacionadas ao tempo de espera. As pessoas não gostam de esperar, ainda mais quando estão com dor. É importante ressaltar que o paciente que possui uma dor crônica precisa tratar o problema nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), porque o PA e a UPA são para casos mais graves e de emergência.

MN – Seu pai, o reitor Márcio Mesquita Serva, grande exemplo de administrador, te influenciou a seguir a área de gestão administrativa?

MÁRCIA – Ele influenciou sim, mas queria que eu assumisse a gestão da universidade e não da saúde. Foi ao contrário [risos]. Meu pai queria me preservar, porque a gestão de um hospital é desafiadora e, por ele conhecer minha sensibilidade, ficou com medo de causar sofrimento para mim. Achou que poderia me prejudicar pessoalmente, mas hoje minha irmã, Fernanda, está à frente da área educacional, pessoa estudiosa e dedicada. É o perfil dela mesmo.

Márcia não quer ser prefeita para poder continuar sua missão no Hospital da Unimar (Foto: Divulgação)

MN – O Hospital Oncológico é um sonho realizado?

MÁRCIA – É sim, um sonho realizado dentro de uma busca contínua por aperfeiçoamento. Vou compartilhar com vocês em primeira mão. Vamos entregar em junho o aparelho PET Scan – para exame de diagnóstico por imagem capaz de detectar tumores em todos os lugares do corpo -, o primeiro de Marília e região, juntamente com o serviço de Radioterapia. As pessoas vão começar a fazer seus acompanhamentos e tratamentos, além da realização do diagnóstico de câncer, sem precisar sair da cidade. Será um serviço de oncologia de altíssimo nível e completo em Marília. É um momento de amadurecimento do HBU, em apoio aos pacientes oncológicos.

MN – Com início da operação do PET Scan em junho deste ano, como vai ser o acesso da população através do SUS? Será possível uma estratégia para diagnosticar o câncer de forma precoce?

MÁRCIA – O PET Scan vem de uma parceria público-privada, dentro da Rede Hebe Camargo, por meio do SUS. A própria Secretaria Municipal da Saúde poderá fazer os encaminhamentos para exames de diagnóstico precoce. Nós queremos que esses pacientes cheguem para o diagnóstico, com o apoio da rede municipal de saúde, para que eles possam fazer um tratamento digno. Desta forma, vamos contribuir para a cura de muitas pessoas. O equipamento será referência regional.

MN – Como você avalia o reajuste da Tabela SUS pelo Estado?

MÁRCIA – É um movimento histórico pelo governador Tarcísio (Republicanos) porque, desde que comecei como gestora do HBU, não tinha reajuste. Foram mais de 20 anos sem reajuste. Essa complementação do Estado é justa. O governador teve um olhar de gestor e fez um estudo real da tabela, porque muitos procedimentos cirúrgicos, por exemplo, tiveram reajuste, mas a Tabela SUS estava defasada. A população vai ganhar muito com isso e nossos atendimentos no HBU serão alavancados em 20%. Já estamos atendendo 20% mais em nossa capacidade. Com o reajuste, vamos reduzir as filas dos eletivos, que são enormes. A população vai sentir este impacto positivo nos próximos dois anos.

Márcia ao lado do marido, o médico Carlos Henrique Bertoni Reis, com quem tem dois filhos (Foto: Divulgação)

MN – Agora uma pergunta clássica. Você não tem vontade de ser a primeira mulher prefeita de Marília? Não quer entrar na política?

MÁRCIA – Como falei anteriormente, tenho uma conexão grande com esse hospital e entendo que, se eu entrar na política, terei que deixar o comando do hospital. E isto não quero. Seria uma decisão sofrida. Todo ano de eleição é a mesma história, não é? Meu pai sempre se preocupou comigo, de eu entrar na política e tentarem desonrar minha imagem, de me machucarem. Eu trabalho para as pessoas no hospital sem segundas intenções. Minha segunda intenção, além da gestão do HBU, é fazer com que o SUS aconteça de verdade na vida das pessoas, para que elas tenham acesso a essa estrutura hospitalar. Não é fácil ter uma dor, uma doença… Quero continuar ajudando. Minha torcida fica para que o prefeito ou prefeita eleita tenha um perfil de olhar com carinho para a área da saúde.

MN – Mas Marília nunca teve uma mulher no comando da cidade. Você não foi procurada por nenhum partido? Vai apoiar alguém?

MÁRCIA – Sempre sou procurada, basta chegar o ano eleitoral, chove de ligações [risos]. Para falar a verdade, não posso apoiar ninguém, porque vou precisar da ajuda e apoio de quem vencer as eleições, seja do lado A ou B. Só peço que me deixem trabalhar, que não me atrapalhem. Seria bom uma mulher no governo, mas acho a política nacional, por exemplo, muito sacana. Quando um político chega no poder, ele quer revidar e prejudicar seu adversário e não aceita críticas. Não posso prejudicar nosso objetivo de ajudar as pessoas no hospital. Se eu fosse prefeita, olharia mais para as áreas da educação e saúde. Se uma creche realmente funciona, os pais das crianças conseguem trabalhar em paz. Precisamos ter prioridades. E se o prefeito investe em saúde, em grandes hospitais, como o Hospital das Clínicas (HC) e o HBU, é gerado mais empregos na cidade, traz pessoas da região para fazer exames aqui e consequentemente fomenta a economia nos bares, restaurantes e hotéis. A Faculdade de Medicina de Marília (Famema) e Faculdade de Medicina da Unimar formam centenas de profissionais por ano.

MN – Qual a mensagem que você deixa para as mulheres da cidade? Sua mãe está sempre do seu lado nas decisões?

MÁRCIA – Acredito na profissionalização. Se a gente se profissionalizar, superamos qualquer preconceito. Temos que ocupar nossos espaços e usar a fragilidade a nosso favor. A mulher não precisa fingir ser dura. O homem não tem a mesma empatia da mulher. O sucesso profissional também está na sensibilidade e empatia. E, quando o assunto é minha mãe, fico emocionada porque ela tem grande sensibilidade e empatia ao próximo. Uma mulher incrível. Ela conta com o suporte da determinação do meu pai, que muitas vezes é mais sensível que as mulheres. O segredo é fazer, fazer, fazer e deixar acontecer.

Família homenageada na Câmara: Carlos Henrique, Márcia, Márcio, Fernanda e Regina (Foto: Divulgação)

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Gustavo César

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