Quem é você, adivinha se gosta de mim. Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim:
Quem é você, diga logo que eu quero saber o seu jogo
Que eu quero morrer no seu bloco, que eu quero me arder no seu fogo
Eu sou seresteiro, poeta e cantor.
O meu tempo inteiro só zombo do amor.
Eu tenho um pandeiro, só quero um violão.
Eu nado em dinheiro.
Não tenho um tostão.
Fui porta-estandarte.
Não sei mais dançar…
Eu, modéstia à parte, nasci pra sambar!
Eu sou tão menina…
Meu tempo passou.
Eu sou colombina.
Eu sou pierrô.
Mas é carnaval, não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr… Deixa o dia raiar que hoje eu sou da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou, seja você quem for! Seja o que Deus quiser! (Noite dos Mascarados de Chico Buarque, do álbum Chico Buarque de Hollanda – Vol. 2, de 1966)
A canção de Chico Buarque de Hollanda é tão intensa quanto verdadeira. Nela, o compositor brasileiro retrata um diálogo típico que acontece num encontro que, em geral, está presente no carnaval. Convido você, amigo leitor, a algumas reflexões sobre esse tema.
Sendo um festejo inicialmente pagão e uma herança dos povos antigos, o carnaval não é uma festa de raízes brasileiras. Há relatos de sua origem datando da Grécia antiga, berço da civilização ocidental, envolvendo comemorações relacionadas aos deuses. De qualquer maneira, a festividade é marcada por ser um período de grandes festas e, historicamente, ela remete a um período do ano em que se comia e se bebia em uma busca incessante de prazeres.
Porém, devemos à França do século XX a idéia do Carnaval conhecido pelas fantasias e pelos desfiles. E foi no período do Renascimento que as festividades carnavalescas incorporaram os bailes de máscaras, com fantasias notáveis e alegorias. Ao caráter de festa popular foram sendo agregados outros tipos de comemoração e assim, progressivamente, a festa foi tomando o formato que conhecemos atualmente.
Bem, não é difícil notar o caráter de transgressão que ele foi assumindo. Herdeiros de uma cultura em que a Igreja Católica colocou seus dedos para ajudar a erguer, nós pisamos, neste mês de fevereiro, em uma época em que as fantasias, tão guardadas (e aguardadas), encontram a sua expressão na concretude desses dias. Elas saem dos esconderijos das nossas mais profundas terras mentais e encontram uma via, por meio da realidade, para poderem se expressar. Acabam dando um jeitinho para sair. São elas as imaginações mais primitivas sexuais e entre casais, forças internas e os desejos mais a-guardados; mas também a virilidade, as alegrias e cores de uma vida cotidiana nem sempre rica. É no Carnaval que a euforia, tão aguardada, dá uma saidinha (como num indulto de presos) e o sexo não encontra censura nem na TV, nem nos cantos escuros das ruas. Mas há, ainda, outra perspectiva.
Como em uma moeda de dois lados, as fantasias também assustam. São delas que a vergonha humana se alimenta. E o ser humano, em partes, quer mantê-las escondidas. Penso que é essa é a função das máscaras (concretas ou não). Mas que contradição! Ora, caro leitor, se há um lugar em que as contradições convivem ao mesmo tempo é na nossa cabeça!
Por fim, nos encontramos em meio a esse enredo todo de fantasias e medos que acontecem dentro da gente (como se a nossa mente fosse palco de uma peça de teatro). Por vezes isso tudo acaba sendo misturado com a realidade, mas isso (de fantasia e realidade) guardo para outro momento. De qualquer forma, os desejos e prazeres podem sim ser vividos no hoje. Mas não nos esqueçamos que o hoje vem acompanhado do amanhã.
Uma boa semana para todos e até a próxima coluna!
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