Ex-office boy vira referência e conduz Conselho que pretende mudar Marília
Marília vive um momento especial de sua história, com perspectivas de grande crescimento nos próximos anos, por iniciativas de marilienses que buscam a evolução da cidade por meio do conhecimento e da tecnologia. Uma voz que se tornou expoente na cidade é do empresário Carlos Francisco Bitencourt Jorge, envolvido em vários projetos que devem contribuir positivamente para o desenvolvimento da cidade.
Nascido e criado em Marília, o jovem empresário, que está prestes a completar 40 anos no próximo mês de agosto, conhece bem a cidade. Filho do padeiro Luiz Carlos Jorge, já falecido, e da secretária Silvia Maria Bitencourt Jorge, Carlos estudou no Sesi, jogou futebol no Clube dos Bancários, no Yara Clube e chegou a treinar no Marília Atlético Clube. Ele também foi atleta de tênis de mesa, modalidade esportiva com tradição na cidade.
Começou a trabalhar com 17 anos em uma empresa de informática como office boy, mas sua trajetória fez com que crescesse profissionalmente, principalmente devido à sua preocupação e constante busca por aprendizado.
O empresário se formou em Administração, fez mestrado e doutorado. Hoje ele é o presidente do Conselho de Desenvolvimento Estratégico de Marília (Codem), criado para planejar o futuro da cidade. Ele também é vice-presidente da Associação Comercial e de Inovação de Marília (Acim) e responsável pela implantação do Mestrado Profissional em Administração de Organizações Inovadoras, que terá início ainda neste ano pela Universidade de Marília (Unimar).
Ele encontrou um horário em sua apertada agenda para atender o Marília Notícia, contar um pouco de sua história e falar sobre o futuro de Marília para os próximos anos.
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MN – Como você começou nessa área de Administração e Tecnologia?
Carlos – Fui office boy com 17 anos, em uma empresa chamada Fatec Informática, que ficava na rua Goiás. Fiquei lá até os 19. Fiz um curso técnico de informática e tive a oportunidade de aprender sobre tecnologia. Fui convidado para ser estagiário em uma empresa dela área, sem ganhar nada. Fazia faculdade de Administração e comecei na empresa como estagiário. Me tornei programador, depois gerente de projetos e depois diretor executivo. Eu cuidava da parte comercial. Quando entrei a empresa tinha dois clientes. Ao ser vendida, em 2011, já eram 81 clientes, de um segmento muito específico. Eram entidades de classe e associações comerciais.
MN – Foi quando você teve o primeiro contato com a Acim?
Carlos – Exato. Foi neste momento que começou a minha relação com a Associação Comercial e de Inovação de Marília. Hoje sou vice-presidente da Acim, mas tenho uma história de alguns anos. Em 2007 eu fundei o Conselho de Jovens Empreendedores da Acim.
MN – Depois de formado você buscou se especializar, fez mestrado e doutorado?
Carlos – Quando eu terminei a faculdade, fui fazer uma pós-graduação na UEL de Londrina, em Administração de Marketing. Em 2011 eu entrei na diretoria executiva da Acim e em paralelo a isso, entrei no mestrado, na Unesp. Passei de 2011 a 2014 viajando todos os dias para Tupã, onde eu ia dar aula na universidade. Em 2014 eu entrei no doutorado, que terminei em 2017. Termino o doutorado e em paralelo a isso, entro na diretoria executiva, sob o comando do presidente Adriano Martins. Nesta época eu estava diretamente envolvido com algumas empresas startups, na área de software, onde sempre fui investidor.
MN – Quando surgiu a ideia do projeto para o mestrado profissional na Unimar?
Carlos – Foi em 2018. Eu fui para a Unimar no final do ano para construir um mestrado profissional em Administração. Montamos uma equipe com professores da Unimar. Trabalhamos muito nos anos de 2019, 2020 e 2021. Mandamos o projeto em 2022, que foi aprovado agora em 2023, como único mestrado profissional com foco em inovação do interior.
MN – Como surgiu a possibilidade de participar do Codem?
Carlos – No começo desse ano, juntamente com o Rangel [Pietraroia Filho], com a Fernanda [Mesquita Serva], fomos convidados pelo Adriano Martins para compor uma nova mesa diretora e trabalhar o Codem, que é o Conselho de Desenvolvimento Estratégico de Marília, que é responsável por pensar o futuro de Marília. Ele é um conselho consultivo que foi estabelecido em 2021. Ele é um conselho apolítico, que visa pensar Marília para os próximos 30 anos. Todos os projetos, todos os planos que são feitos, são pensando em Marília no futuro.
MN – Mas e até chegar daqui 30 anos?
Carlos – A mesa de diretora anterior fez um bom trabalho de pensar Marília para os próximos 30 anos, mas até chegar nessa Marília, a gente tem os objetivos a médio prazo. O objetivo dessa diretoria do Codem é justamente fazer com que as nove Câmaras Técnicas, que trabalham cada uma com a sua temática, façam propostas para Marília, mas não adianta só pensar no futuro. O futuro é agora. A gente está vivendo o hoje. Podemos fazer uma viagem para Marte, mas a gente tem que passar por Lácio, depois São Paulo, para os Estados Unidos e só então ir para o espaço.
MN – Então já existe alguma definição para ver resultados antes dos 30 anos?
Carlos – Definimos agora os objetivos para as nove câmeras técnicas. Elas terão de construir projetos, mas não só a ideia. Qualquer um tem ideia, mas como ela será executada? Serão ofertados projetos das câmaras para a Prefeitura de Marília, explicando como será feito, de que forma, como poderá ser financiado. Vamos apresentar os caminhos para a execução do projeto. Conforme ficam prontos, vamos protocolar na Prefeitura, encaminhar para o vice-prefeito e também para todos os vereadores, para que tenham noção do que está nas mãos da Prefeitura de Marília.
MN – Algum projeto já foi apresentado para a Prefeitura?
Carlos – Com certeza. Apesar de não termos elaborado o Plano Diretor, fizemos vários apontamentos, que foram acatados e estão lá. Nem todos foram aceitos, mas a gente não consegue fazer tudo de uma vez. Outros dois projetos estão tramitando e muito provavelmente serão aprovados. O Pacto pela Inovação foi desenvolvido no final da mesa diretora anterior. Queremos transformar a Prefeitura em um ponto de referência para saber onde existe inovação em Marília. Tudo é feito de maneira fragmentada. Precisamos centralizar essas informações. Isso reflete num espaço virtual onde o cidadão consegue ver todos os momentos de inovação em Marília. Hoje vai ter um evento de inovação no Senac, mês que vem vai acontecer em outro lugar. Todos vão ter oportunidade de acessar.
MN – Você disse que o projeto também é apresentado para os vereadores?
Carlos – A gente oferece para o executivo, mas trabalhamos com o poder legislativo, para virar Projeto de Lei. Nosso trabalho independe de quem seja o prefeito ou quem são os vereadores. Ninguém vai ficar sem.
MN – Como está a questão do 5G em Marília?
Carlos – Estamos finalizando um projeto sobre o 5G. As cidades precisam se adequar a uma série de regras e exigências da Anatel, para que tenha a implantação do 5G. Já existem 15 antenas da Vivo espalhadas pela cidade, aguardando a homologação da Anatel. Alguns projetos construídos possuem uma insegurança jurídica muito grande. Tivemos precaução de não criar uma situação que amanhã ou depois pudesse ser questionada posteriormente. Ofertamos um plano para a Prefeitura executar e o legislativo está trabalhando para que tenhamos a legalização do 5G.
MN – Quem faz parte do Codem?
Carlos – O Codem é formado por entidades e as instituições como o Ciesp, Acim, Universidade de Marília, Univem, Santa Casa de Marília. São várias instituições, que cedem o que eles tem de mais valioso, que é o capital intelectual. Então os componentes do Codem são pessoas que estão nas câmaras técnicas, com experiências reais, diferenciadas como profissional, mas também de conhecimento. As propostas saem de especialistas. O mais legal é que o Codem é formado por marilienses mesmo, de gente que ama essa cidade, tem filhos e até netos. O objetivo de tudo isso, lembrando que são voluntários, é justamente deixar uma Marília melhor para o futuro.
MN – Você acha que a força de Marília está mais em qual setor ou área? O que podemos esperar para os próximos anos?
Carlos – Eu acho que, inevitavelmente, a Tecnologia de Informação é uma área que está em plena expansão. Marília já vem nesse movimento há algum tempo, então é uma área muito importante. Saúde é uma coisa que a gente está em expansão absurda. Temos a ampliação do HBU, da Santa Casa, que são referência, o próprio Hospital das Clínicas. Outro segmento que a gente acredita muito, que se bem explorado, pode dar resultado para a gente, é o turismo de negócios, pois Marília é um polo importante regional para isso.
MN – Qual é a expectativa de vocês sobre o novo programa de mestrado da Unimar?
Carlos – O programa de mestrado vem sendo um sonho. Porque a gente propôs o mestrado numa área que aprova pouquíssimos. Quando falei com amigos da USP e FGV, que são os lugares que eu acabo compartilhando pesquisa e experiência profissional, dizendo que eu ia montar um mestrado profissional de Administração em Marília, eles riram. Falaram que era um delírio e que não daria certo, mas tem que ser um pouco maluco para isso. Me reuni com a reitoria, sempre tive muito apoio. As pessoas que me falaram, você não vai conseguir, agora me ligam. Até pesquisadores brasileiros que estão fora do país já me deram parabéns. Tudo isso aconteceu graças ao apoio incondicional do reitor da Unimar, o Márcio, da dona Regina, da nossa vice-reitora, da Fernanda Mesquita, e do Jefferson Dias, que sempre esteve do nosso lado, desde 2019, acompanhando todo esse processo.
MN – Quando começa?
Carlos – A perspectiva é de começar em novembro desse ano. Com a turma em novembro e uma outra turma já no começo de 2024. Estamos com uma perspectiva muito legal, porque é o único mestrado no interior do estado. O mais perto que nós temos está a 425 quilômetros, em Campo Limpo Paulista, quando a gente fala de mestrado profissional. Já um mestrado em Administração, em um raio de 300 quilômetros não existe outro. Já temos recebido alguns contatos da região, Presidente Prudente, Araçatuba, São José do Rio Preto, Ourinhos, Assis e outras cidades, de gente perguntando como vai funcionar o mestrado. Acredito que vai ser algo bastante concorrido. Inicialmente serão 15 vagas.
MN – Como esse mestrado pode ajudar a cidade e a região?
Carlos – A gente acredita muito que esse mestrado vai ajudar demais a região de Marília. Em especial na área de Gestão. Porque quando falamos de inovação, a gente pensa em muita coisa. Pensa em software, tecnologia. Na verdade, a inovação vem antes do software. Quando a gente pensa, por exemplo, no Uber. O que é o Uber? Ah, é o aplicativo. Mas antes do Uber ser um aplicativo, ele é um modelo de negócio inovador. Foi construído por gestão e otimização de recursos de pessoas. Isso é gestão. O software é o resultado. Acredito muito que é uma grande oportunidade de virar a chavinha para as indústrias, empresas de tecnologia e de serviço da cidade.
MN – Essas empresas poderão se beneficiar desse conhecimento adquirido pelos participantes?
Carlos – Eu tenho conversado muito com algumas instituições aqui da cidade, para levar o mestrado como uma ferramenta pra organização. Então, o colaborador que vai fazer o mestrado, caso ele tenha algum suporte da empresa ou da indústria, ele pode trabalhar com o produto final do mestrado dele, se tornando uma melhoria pra empresa. É uma troca. A empresa pode financiar uma parte, então o seu trabalho final tem que devolver pra empresa algo inovador, algo diferente. Essa é a vantagem do mestrado profissional, ele devolve para os espaços organizacionais, pras empresas, a inovação.