Entrevista da Semana

‘É uma época em que precisamos muito de ajuda’, diz diretora do Hemocentro

Médica Bruna Carvalho é diretora do Hemocentro de Marília (Foto: Arquivo pessoal)

O Hemocentro de Marília enfrenta um período de estoques críticos, especialmente dos tipos sanguíneos O e A, e reforça o apelo à população para que compareça e doe.

A médica pediatra, oncopediatra e hematologista Bruna Carvalho, que assumiu a direção da unidade em julho, destaca que a queda nas doações durante o inverno e as férias escolares agrava a situação, exigindo mobilização urgente para garantir o atendimento seguro de pacientes da cidade e da região.

Com experiência na instituição desde 2011, Bruna enfatiza que a equipe atua com rigorosos protocolos de segurança e qualidade, desde a captação de doadores até o fracionamento e distribuição do sangue para hospitais de Marília e cidades vizinhas.

Além de suprir demandas imediatas, o Hemocentro mantém controle rigoroso para descartar bolsas que apresentem risco e acionar rapidamente os doadores em casos de exames positivos.

O Marília Notícia conversou com a diretora, que explica a rotina de trabalho, o processo de doação, as exigências para doadores e a importância do engajamento comunitário.

Ela também relata como a triagem e os exames ajudam não apenas a salvar vidas, mas, em alguns casos, a detectar precocemente doenças desconhecidas pelo próprio doador, reforçando que cada doação é um ato de solidariedade com impacto direto na saúde de muitos pacientes.

***

MN – Como é trabalhar no Hemocentro de Marília, coletando sangue e sabendo que esse trabalho beneficia tantas pessoas?

Bruna Carvalho – É a nossa motivação diária. Foi o que escolhemos fazer. Desde o trabalho da assistente social na captação até a infusão do produto final, nos empenhamos dia e noite para que nossos clientes recebam o melhor produto possível naquele momento. Queremos atender a todos com qualidade exímia, sem nenhum risco à saúde.

MN – Como é a rotina?

Bruna – Trabalhamos com doações tanto no Hemocentro quanto em centros de coleta da região, como Lins. Uma bolsa de sangue pode gerar três componentes: hemácias (que carregam oxigênio), plasma (com fatores de coagulação) e plaquetas (que estancam sangramentos).

Médica Bruna Carvalho destacou que o Hemocentro está precisando de novas doações de sangue (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Essa doação é fracionada?

Bruna – Sim. O sangue total é fracionado nesses três hemocomponentes. Depois, fazemos a fenotipagem, que determina o tipo sanguíneo de cada bolsa.

MN – Como é feito o controle de qualidade?

Bruna – Seguimos normas rigorosas do Ministério da Saúde para garantir que o paciente receba um produto seguro. Avaliamos infecções bacterianas, virais (como hepatites) e parasitárias (como a doença de Chagas). Todas as bolsas são analisadas.

MN – Vocês também distribuem essas bolsas?

Bruna – Sim. Além de produzir, distribuímos para hospitais de Marília, como o HCFamema, Santa Casa, Hospital da Unimar, e cidades da região, como Tupã e Promissão.

MN – Como funciona o processo para quem nunca doou?

Bruna – A pessoa chega com um documento. É necessário ter mais de 18 anos. Entre 16 e 18, pode doar com responsável legal. Não pode estar grávida ou amamentando. Após o cadastro, é encaminhada à triagem com um questionário de segurança.

MN – Qual a função do questionário?

Bruna – Ele protege tanto o doador quanto o receptor. Depois, fazemos um teste rápido para verificar se há anemia, garantindo segurança ao doador.

MN – E depois?

Bruna – Confirmamos se a pessoa está alimentada e hidratada. Se necessário, oferecemos lanche. A coleta é feita em veia periférica e, após o procedimento, o doador permanece alguns minutos sob observação. Depois, vai para a sala de lanche e é liberado.

Bruna explicou que os meses de férias e que fazem frio costumam derrubar as doações de sangue (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Qual o intervalo entre doações?

Bruna – Homens podem doar a cada 90 dias, até quatro vezes por ano. Mulheres, a cada 120 dias, até três vezes ao ano.

MN – O inverno e as férias afetam as doações?

Bruna – Sim. Nessas épocas, há queda nas doações porque as pessoas viajam ou se sentem menos dispostas a sair de casa. Mas é justamente quando mais precisamos da colaboração.

MN – Os estoques estão críticos?

Bruna – Sim. Alguns tipos já estão em nível crítico. Por isso, pedimos a colaboração de todos que puderem fazer esse gesto de amor.

Bruna Carvalho e equipe do Hemocentro de Marília (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Quais os tipos mais necessários?

Bruna – Os tipos O e A, que são os mais comuns na população e, por isso, os primeiros a faltar.

MN – Vocês identificam doenças nas análises?

Bruna – Sim. Caso o exame aponte algo, a bolsa é descartada, e o doador é chamado para consulta com a hematologista. Ele é orientado e encaminhado ao tratamento adequado.

MN – Isso ocorre com frequência?

Bruna – Felizmente, não. A triagem e os exames garantem uma taxa baixíssima de resultados positivos.

MN – Mas pode ajudar na detecção precoce?

Bruna – Sim. Principalmente no caso de infecções assintomáticas, a doação pode revelar problemas ainda não diagnosticados.

Equipe de trabalho do Hemocentro na sala de doações (Foto: Arquivo pessoal)

MN – Quantos doadores vocês recebem por dia?

Bruna – Varia muito. Em dias bons, entre 70 e 80 doações. Mas em períodos como o atual, há dias com menos de 20. Isso compromete os estoques. Ainda assim, contamos com muitos parceiros e apoio da nossa assistente social.

MN – E no caso de sangues raros?

Bruna – Temos colaboradores com fenótipos raros, que são acionados em situações especiais. Eles fazem parte de uma carteira de doadores estratégicos.

MN – Qual o horário de funcionamento?

Bruna – De segunda a sábado, das 7h às 13h. Esperamos contar com o apoio da população neste momento crítico.

Alcyr Netto

Recent Posts

CPMI do INSS convoca dono do Banco Master e governador Romeu Zema

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) aprovou,…

13 horas ago

Brasil tem potencial para minerais críticos, aponta estudo do Ipea

O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que o Brasil tem grande…

13 horas ago

App deve ajudar agentes públicos a trocarem informações de forma segura

Uma ferramenta de comunicação elaborada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ajudará agentes públicos e…

13 horas ago

Motorista capota carro na pista e veículo invade quintal de casa em Quintana

Toyota Corolla seguia no sentido do interior à capital (Foto: Mais Tupã) Uma motorista ficou…

15 horas ago

Comércio de Marília estende horário em dezembro para período do Natal

Comércio deve receber grande movimentação de clientes em Marília (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia) O comércio…

15 horas ago

Reunião alinha cronograma do 13º e rescisões de funcionários terceirizados da Educação

Funcionários da empresa terceirizada GF foram recebidos na Secretaria Municipal da Educação (Foto: Divulgação) A…

16 horas ago

This website uses cookies.