Houve uma dessas coincidências que só a história é capaz de nos impor. Concluí a leitura de Colposcópica, dramaturgia produzida a quatro mãos pelos meus conterrâneos Angela Maria Zanirato Salomão e Claudmar Gonçalves Costa, na manhã de domingo, 28 de dezembro de 2025 — exatamente o dia em que o mundo se despedia da atriz e modelo Brigitte Bardot.
No auge da maturidade, aos 91 anos, Brigitte já não exibia a sensualidade e a beleza magnética que a consagraram como símbolo sexual mundial entre as décadas de 1950 e 1970, especialmente nos anos 1960.
A francesa mais desejada do mundo em décadas passadas — responsável por colocar Búzios, no litoral fluminense, na rota internacional do turismo de praia — sintetiza muito do que se encontra no prólogo e nas 10 cenas que compõem a peça de Angela e Claudmar.
A engrenagem no centro do palco, descrita pelos dramaturgos de Paraguaçu Paulista, ora assume a forma do cinema, ora da moda ou, por fim, do cancelamento digital imposto à musa internacional.
Ainda que suas declarações tenham sido polêmicas e suas posições políticas, passíveis de críticas, Brigitte era um ser humano livre para pensar e agir como desejasse. Contudo, assim como em Colposcópica, muitas vezes quem ousa desconstruir a moenda acaba recebendo um “cala-boca”.
Brigitte, ao que tudo indica, tentou desconstruir aquilo que a visão alheia imprimiu sobre ela. Afinal, quando se estrela um filme, a atriz ou o ator não representa a si mesmo, mas a personagem.
E que personagem draconiana é a voracidade do consumo, do desejo desenfreado e hedônico e da objetificação do corpo feminino. Diferentemente da biografia de Bardot — que ela continuou a escrever diariamente desde 28 de setembro de 1934, quando, às margens do rio Sena, em Paris, veio ao mundo —, uma obra extensa em volumes, camadas e páginas, Colposcópica apresenta um enredo curto, com pouco mais de 50 páginas.
Engana-se, porém, quem a prejulga como uma obra rasa: é profunda como uma fossa abissal no meio do Atlântico. Em cena, uma moenda e três mulheres reconhecidas e chamadas apenas por suas iniciais — coincidência ou não, Brigitte Bardot também era conhecida como BB.
Embora determinadas falas, à primeira vista, ressoem como clichês, Colposcópica ousa na densidade e provoca ao expor, quase pornograficamente, as vísceras da opressão vivenciada direta ou indiretamente por toda menina, toda mulher e toda idosa — seja ela Brigitte Bardot, BB, Cícera, Raimunda, Caroline, Helena, Maria ou Ana.
Essa experiência se estende até mesmo ao exame ginecológico que dá nome à peça. Publicada em 2025 pela editora Caravana, Colposcópica teve dois lançamentos: um em São Paulo e outro em Paraguaçu Paulista, cidade que, nesse mesmo ano, chegou aos 100 mil habitantes.
O texto, como destaca a contracapa do livro, “é um manifesto que celebra a resiliência feminina e chama à ação contra extremismos e desigualdades” — extremismos que marcaram a vida de BB.
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Ramon Barbosa Franco é escritor e jornalista, autor dos livros ‘Canavial, os vivos e os mortos’, ‘A próxima Colombina’, ‘Contos do Japim’, ‘Vargas, um legado político’, ‘Laurinda Frade, receitas da vida’, ‘Quatro Patas, a história de Pituco’, ‘Nhô Pai, poeta de Beijinho Doce’, ‘Dias de pães ázimos’, e das HQs ‘Radius’, ‘Os canônicos’ e ‘Onde nasce a luz’, ramonimprensa@gmail.com
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