A dedicação de Isabella Manna à causa animal começou há 15 anos, quando decidiu transformar compaixão em ação. Professora da rede municipal de ensino em Marília, ela concilia o trabalho na Secretaria da Educação com a rotina intensa de cuidados a dezenas de animais resgatados — entre gatos, cães e até cavalos.
O abrigo mantido por ela, em um terreno cedido pelo pai, é hoje um dos principais refúgios de animais vítimas de abandono e maus-tratos na cidade.
Com 80 gatos, 12 cães e nove cavalos sob seus cuidados, Isabella enfrenta diariamente os desafios de mantê-los. Apesar das limitações estruturais, o abrigo Comunidade dos Gatinhos é reconhecido pela limpeza e pela atenção dada aos animais, recebendo visitas frequentes da Divisão de Zoonoses.
Os custos mensais apenas com os gatos ultrapassam R$ 2 mil em ração, além das despesas veterinárias que se acumulam com o tempo. Para Isabella, a causa animal segue sendo “a mais carente e a mais difícil” entre as pautas sociais. Mesmo com o aumento de ONGs e ativistas engajados, ela afirma que o abandono ainda é constante.
Apesar das dificuldades, segue firme na missão de proteger os animais e conscientizar a população, acreditando que a educação é o caminho para reduzir o sofrimento nas ruas.
MN – Os cavalos também são resgatados?
Isabella Manna – Sim. Hoje temos nove cavalos em situação de maus-tratos. Fui a primeira pessoa em Marília a fazer resgates de animais de grande porte. Não existia isso aqui antes.
MN – E como é a estrutura do abrigo?
Isabella Manna – Não é um espaço ideal em termos estruturais, mas aqui eles estão protegidos do frio, da chuva, têm água, ração e atendimento veterinário sempre que precisam. Prezo muito pela limpeza. A Divisão de Zoonoses já veio várias vezes e sempre elogia, porque, apesar de ser tudo improvisado, é muito limpo.
MN – Quanto você gasta por mês?
Isabella Manna – Só com ração para os gatos gasto entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil por mês. Na clínica veterinária, não há um valor fixo: deixo uma conta aberta e vou pagando aos poucos. Hoje devo cerca de R$ 4 mil. A minha sorte é que o terreno é do meu pai, que me permitiu usar.
MN – Onde ficam os cães e os cavalos?
Isabella Manna – Os cães ficam parte comigo e parte com a minha mãe. Já os cavalos ficam em um sítio, e eu pago um valor mensal para mantê-los lá. Meu sonho seria ter uma chácara, um espaço adequado para todos eles.
MN – Você trabalha fora daqui?
Isabella Manna – Sim. Sou professora concursada da rede municipal e atualmente trabalho na Secretaria da Educação, em período integral.
MN – Há voluntários que ajudam no abrigo?
Isabella Manna – Sim. Tenho voluntários e também recebo pessoas encaminhadas pela Central de Penas e Medidas Alternativas — aquelas que cumprem horas de serviço comunitário. Eles me ajudam na limpeza e manutenção. É um grande alívio, porque já precisei fazer tudo sozinha, e é muito difícil.
MN – O que te motivou a começar esse trabalho?
Isabella Manna – Desde criança eu dizia que não sabia o que seria quando crescesse, mas queria recolher animais da rua. Sempre me sensibilizei muito com o sofrimento deles. Chegou um momento em que eu decidi agir.
MN – Qual é a maior dificuldade hoje na causa animal?
Isabella Manna – A causa animal é a mais carente, a mais difícil. Mesmo com tantas ONGs e pessoas engajadas, é como enxugar gelo: o abandono não para. Recebo gatos de todos os bairros.
MN – Você já enfrentou casos graves?
Isabella Manna – Já. Tive casos de violência sexual contra uma cadela e de uma égua que teve entorpecente colocado no órgão genital. Também fui ameaçada de morte por pessoas que exploravam cavalos. Já vieram até a porta da minha casa dizendo que iam me matar porque eu resgatava os animais deles.
MN – Há algum caso marcante que você recorda?
Isabella Manna – Sim. Resgatei uma égua que estava sendo maltratada na zona sul. Levamos para um local seguro, mas próximo de onde estava. Eles foram lá, cortaram o alambrado e a levaram de volta. Eram pessoas perigosas e queriam me intimidar.
MN – Você conseguiu recuperá-la?
Isabella Manna – Consegui contato com alguém do grupo e mandei recado: queria o animal de volta na manhã seguinte, ou chamaria a polícia. Acionei a Polícia Militar Ambiental e divulguei nas redes sociais.
MN – E como foi o resgate?
Isabella Manna – Recebi uma ligação de número desconhecido dizendo para eu buscar a égua no início de uma favela. Era o dia da minha formatura. Eu estava de vestido e salto alto, mas fui mesmo assim. Desci do carro e fui a pé, rezando para Deus me guardar.
MN – Essas pessoas tinham condições de manter cavalos?
Isabella Manna – Muitas vezes não conseguiam nem se sustentar e queriam ter cavalo. Animais em pele e osso, comendo lixo. Hoje a BG Zangrossi faz um trabalho importante, mas antigamente eu fazia tudo sozinha.
MN – Como eram as buscas?
Isabella Manna – Eu acordava às cinco da manhã e saía para procurar cavalos em maus-tratos. Já encontrei três dormindo no Parque do Povo. Ficavam atentos, com medo que eu aparecesse. Quando constatava a situação, chamava a polícia. Já fui a várias audiências no Fórum, porque eles queriam os cavalos de volta e me ameaçavam depois.
MN – Esse trabalho também tem impacto na saúde pública?
Isabella Manna – Sim. Além da proteção animal, a gente atua em saúde pública. Fazemos palestras em escolas, conversamos com as crianças sobre posse responsável. Cuidar dos animais é cuidar da comunidade. Por mais difícil que seja, é o que escolhi fazer e vou continuar.
MN – Você precisa de ajuda?
Isabella Manna – Sim, estou na capacidade máxima. Não posso acolher mais animais. Preciso atrair pessoas para apoiar o trabalho e ajudar na conscientização. Faço campanhas mensais para arrecadação de recursos.
MN – Todos os animais são castrados?
Isabella Manna – Todos. Também conseguimos castrar animais de famílias carentes que não têm condições de pagar. É o único jeito de reduzir o número de bichos nas ruas.
MN – Como as pessoas podem ajudar?
Isabella Manna – Pelo meu Instagram, onde faço campanhas mensais. Muitos apoiadores contribuem com doações fixas. Essa ajuda é essencial. Quem não pode doar, pode divulgar o trabalho. Compartilhar já faz diferença.
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