Logística travada gera falta de insumo no RS e atrasa indústria que tenta operar

O desastre das enchentes segue provocando gargalos logísticos no Rio Grande do Sul. Indústrias que tentam operar sofrem com a falta de parte dos insumos e registram atrasos na entrega de pedidos, dizem lideranças empresariais ouvidas pela Folha.

As fortes chuvas bloquearam rodovias, arrancaram pontes e inundaram o aeroporto Salgado Filho, que foi fechado para pousos e decolagens em Porto Alegre.

Tudo isso dificulta a chegada e a saída de mercadorias das fábricas que não estão alagadas e que buscam manter as operações.

“Tem algumas coisas que já começaram a faltar”, diz Claudio Bier, presidente do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul), ao tratar das dificuldades no abastecimento de insumos.

Segundo ele, o maior gargalo logístico para o setor no momento é o bloqueio de estradas, embora o fechamento do aeroporto também atrapalhe, já que uma parcela das matérias-primas é transportada por aviões.

De acordo com o empresário, o Rio Grande do Sul responde por cerca de 65% da produção nacional de máquinas e implementos agrícolas.

“Temos indústrias espalhadas no estado inteiro. Em algumas zonas, a enchente não foi tão violenta como na Grande Porto Alegre e nos vales do [rio] Caí, do Taquari e do Jacuí”, afirma.

“Há empresas que ficaram debaixo d’água e empresas que não estão debaixo d’água, mas os funcionários não conseguem chegar. O terceiro problema, que está afetando quase todas, é a logística”, completa.

Os impactos da crise também atingem a indústria elétrica e eletrônica. “É uma situação bem complicada, tanto para importação quanto para exportação”, aponta Regis Haubert, diretor regional da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) no Rio Grande do Sul.

O setor depende bastante do transporte aéreo e marítimo para obter insumos, já que cerca de 80% dos componentes eletrônicos são importados, principalmente da Ásia, diz o empresário.

“Algumas empresas já estão com o atendimento a clientes atrasado. Como o caos da enchente atingiu muitas cidades, muitas empresas estão operando com 50%, 60%, 70% da capacidade.”

“Isso implica diretamente na produção e na capacidade de pedidos e contratos. É uma somatória de fatores que vai complicando cada vez mais as indústrias em geral no estado”, acrescenta.

Com o fechamento do Salgado Filho, companhias do setor elétrico e eletrônico buscam alternativas para driblar as dificuldades. Uma saída é recorrer a importações via transporte aéreo até o aeroporto de Guarulhos (SP), segundo Haubert.

Em seguida, as cargas são levadas em caminhões até o Rio Grande do Sul, diz o empresário. “De certa forma, a gente está conseguindo suprir [a demanda] com alguns atrasos inerentes à logística.”

Outra indústria com relevância no estado é a de móveis. A Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul) afirma que a maioria do setor trabalha com estoque de matérias-primas. Apesar disso, vê possibilidade de “ruptura na produção” por falta de alguns itens no prazo de 15 a 20 dias.

“Em geral, empresas que possuem centro de distribuição em outros estados mantiveram seu faturamento e entrega”, declara a entidade em nota assinada pelo presidente Euclides Longhi.

“As centradas no Rio Grande do Sul estão buscando rotas alternativas para escoar a produção e já conseguem realizar entregas em São Paulo –mesmo que os prazos possam ser um pouco mais longos.”

A Movergs diz que ainda está realizando um levantamento sobre os efeitos da crise. Com sede no Rio Grande do Sul, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) também está produzindo uma pesquisa sobre o tema.

“Sabemos que o impacto é muito forte na cadeia produtiva, mas será somente com a pesquisa que poderemos ter noção exata do número de fábricas e trabalhadores atingidos pelas enchentes”, afirma o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, em nota.

Segundo a entidade, o Rio Grande do Sul é o maior exportador e o segundo maior produtor de calçados do país. O estado tem em torno de 1.800 empresas, que empregam diretamente cerca de 85 mil pessoas.

A Abicalçados também participa de um movimento recém-lançado, o Próximos Passos RS. A iniciativa busca reconstruir o ecossistema de couro e calçados no estado.

A Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) declara em nota que não vê risco iminente de desabastecimento no Rio Grande do Sul.

A entidade, porém, reconhece que as condições climáticas têm afetado as operações logísticas. Ainda de acordo com Abia, isso poderá impactar tanto a população local quanto os demais estados que recebem produtos gaúchos.

Além do destaque na produção de arroz, o Rio Grande do Sul também tem relevância no abastecimento de proteínas animais (carnes), laticínios, óleos e gorduras vegetais, chocolates, moagem de trigo, suco de uva e frutas de clima temperado, sinaliza a associação.

POR LEONARDO VIECELI

Alcyr Netto

Recent Posts

Resultados do Enamed e do Revalida serão divulgados na próxima semana

Os resultados do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) 2025 e da 1ª…

11 horas ago

Saques na poupança superam depósitos em R$ 2,85 bilhões em novembro

As retiradas em contas de poupança ao longo de novembro de 2025 superaram em R$…

11 horas ago

Quase 20% da população de favelas vivem em vias onde não passam carros

Para 3,1 milhões de moradores de favelas brasileiras, a chegada de uma ambulância na porta…

11 horas ago

Defesa de ex-PM acusado de morte no rodeio de Marília recorre ao STJ

Moroni Siqueira Rosa, ex-PM acusado de homicídio (Reprodução: Redes Sociais) A defesa do ex-soldado da…

12 horas ago

Dupla armada invade casa, rende irmãos e foge com R$ 10 mil e relógio na zona norte

Dois homens armados invadiram uma casa na tarde desta quinta-feira (4), no bairro Maracá III,…

13 horas ago

Homem em situação de rua bate no rosto e rouba pedestre no Centro de Marília

Um homem de 26 anos foi preso em flagrante na tarde desta quinta-feira (4) após…

14 horas ago

This website uses cookies.