Polícia

Justiça recebe denúncia contra policial em morte de funileiro

Daniel caiu na frente de uma igreja (Foto: Daniela Casale/Marília Notícia)

A Justiça de Marília recebeu denúncia do Ministério Público (MP) contra o policial militar acusado de matar o funileiro Daniel Luís da Silva de Carvalho, de 29 anos, em fato ocorrido em junho do ano passado.

De acordo com o juiz Paulo Gustavo Ferrari, da 2ª Vara Criminal, há demonstração da “materialidade delitiva” de acordo com os documentos analisados (peça de instauração do inquérito, boletim de ocorrência, relatório de investigação e desenho técnico pericial, entre outros).

Por meio da decisão fica determinada a proibição de o PM se aproximar ou manter contato com qualquer uma das testemunhas arroladas na denúncia, por qualquer meio de comunicação – sob pena de decretação de prisão preventiva.

Por fim, o juiz acatou o pedido feito pelo advogado José Cláudio Bravos, que representa o policial militar, e decretou segredo de Justiça nos autos. De acordo com ele, a medida visa resguardar, especialmente, a colheita de provas.

SEGREDO DE JUSTIÇA

No dia 12 de agosto, o advogado José Cláudio Bravos pediu que o processo do caso fosse colocado em segredo de Justiça. A solicitação foi feita depois que o Marília Notícia divulgou o vídeo que mostra parte da confusão que terminou com a morte.

A ocorrência foi registrada em 19 de junho do ano passado em uma oficina localizada na avenida Sampaio Vidal, zona Sul de Marília.

A defesa alegou que “a divulgação do oferecimento da denúncia por mídias como o Marília Notícia e Facebook faz repercutir nas redes sociais comentários injuriosos e ameaçadores à sua [do policial] integridade física e de seus familiares.”

O assessor jurídico cita que houve inclusive o registro de um novo Boletim de Ocorrência devido aos comentários.

Segundo o texto, “frente a tais acontecimentos, será prudente que o juízo determine o sigilo dos autos, enquanto que, de outro lado, vai se buscar na jurisdição adequada as providências cabíveis para obstar a propagação dos eflúvios de ódio que – de fácil detecção – estão sendo irradiados a partir de comentários tendenciosos iniciados nada mais nada menos pela ex-companheira de Daniel Luís da Silva de Carvalho, o insano que tentou assassinar o funileiro.”

Daniel Luís da Silva de Carvalho de 29 anos (Foto: Arquivo)

PEDIDO DO MP

A denúncia da Promotoria pediu que o policial militar fosse pronunciado pelo crime e submetido ao Tribunal do Júri. O autor alega legítima defesa de terceiro.

No documento, o MP aponta que o PM é amigo do proprietário da oficina, que possuía pendências financeiras com a vítima,  envolvendo a negociação de um veículo Chevrolet Corsa. O dono do estabelecimento vinha cobrando Daniel e teria o ameaçado, inclusive, com a possibilidade de envolver “seus amigos policiais militares”.

A denúncia do MP contraria inquérito da Polícia Civil, que absolve o policial militar de culpa no ocorrido.

No dia dos fatos, segundo a Promotoria, o dono da oficina realizou nova ligação telefônica para Daniel, para cobrar acerca da referida pendência. Encerrada essa ligação, o policial militar também teria ligado para o funileiro, minutos depois, quando o convidou para ir até a oficina para resolverem a questão, o que foi feito.

No local, porém, houve alteração das partes, com ofensas mútuas, entre o dono da oficina e a vítima, dissipada com a intervenção do policial militar.

Em determinado momento, o dono da oficina passou a arremessar peças de carro contra a vítima, sendo um capô e pneu, quando Daniel reagiu e investiu contra o homem com uma faca que trazia consigo, e desferiu golpes nas pernas e no rosto do rival.

O vídeo obtido com exclusividade pelo Marília Notícia mostra o momento exato em que o dono da oficina arremessa as peças contra Daniel, que em seguida corre para dentro do estabelecimento. No local ocorrem as facadas e os disparos de arma de fogo.

Segundo o MP, neste momento, o descontrole da situação já recomendava a solicitação de reforço policial. Contudo, o militar usou a arma de fogo particular e efetuou um disparo em Daniel, que o atingiu no abdômen.

Em seguida, ainda de acordo com o MP, sem adotar qualquer outra postura não letal, o PM fez outros dois disparos contra o funileiro, tendo um deles atingido o ombro da vítima, transfixando o pulmão, o que causou derrame pericárdico hemorrágico e lesão de vasos da base do coração.

Alvejado, Daniel ainda tentou correr, mas acabou caindo na via pública há alguns metros, vindo a óbito em razão dos disparos recebidos.

Pelas imagens, é possível ver que pouco tempo depois começam a chegar viaturas da Polícia Militar. O dono da oficina é então socorrido, enquanto a vítima já se encontra morta no local. O circuito da câmera de segurança mostra toda a movimentação.

O PM afirma que estava no local para reparo do veículo do irmão, que tinha sofrido um acidente, e acabou presenciando a confusão, sendo necessária intervenção com tiros para evitar a morte do proprietário do estabelecimento.

VERSÃO DO PM

Segundo o Boletim de Ocorrência registrado na época, o policial militar de folga – que trabalhou por muitos anos na Rocam em Marília – relatou que tinha levado a van do irmão ao local da morte para consertar. O irmão havia acabado de se acidentar e estava no Hospital das Clínicas. Ele deixou a cunhada no hospital e foi até a funilaria para providenciar os reparos no veículo.

O PM afirma que, por problemas anteriores, Daniel chegou ao local já discutindo com o dono do estabelecimento. Pouco depois, a vítima saiu irritada e retornou, iniciando nova discussão.

Em determinado momento, de acordo com a versão do policial, Daniel retirou uma faca da cintura e passou a golpear o proprietário do estabelecimento. O sargento, que estava de folga, teria gritado “parado, polícia” e desferido um disparo da própria arma (particular) contra Daniel, quando ele não obedeceu a ordem.

Ainda conforme a versão do PM, o funileiro não parou as agressões, sendo necessário mais dois disparos. Daniel teria saído correndo com a faca na mão e caído em frente de uma igreja. O policial de folga ligou para outro PM, que informou o Copom sobre o ocorrido e acionou o socorro.

Uma testemunha confirmou a versão do policial, afirmando que presenciou a briga de Daniel com o dono do estabelecimento por duas vezes.

Conforme a testemunha, ambos se ofenderam durante a discussão e Daniel saiu do local, voltando armado com uma faca. Eles discutiram de novo, até o rapaz golpear o rival com a arma branca. A testemunha narrou que, em dado momento, Daniel quase se ajoelhou para dar a facada na região do abdômen, e então foi possível ouvir três disparos. Em seguida, o agressor foi visto saindo correndo com a faca na mão e caindo na calçada.

Após os fatos, a testemunha tomou conhecimento que os tiros tinham sido dados por um policial de folga. A perícia esteve no local e foram recolhidos o celular do dono da oficina e o revólver do sargento, com duas munições intactas e três deflagradas.

Michele Correia

Recent Posts

Homem morre atropelado na Rodovia do Contorno em Marília

Vítima teve óbito constatado ainda no local (Foto: Alcyr Netto/Marília Notícia) Um acidente de trânsito…

1 hora ago

Bild entrega o Villá e marca transição do segmento premium em Marília

Bild promoveu coquetel para compradores do Villá (Foto: Geovana Rodrigues/Marília Notícia) Há bairros que carregam…

6 horas ago

Jovem é sequestrado e obrigado a realizar transferências Pix por dois dias

Um jovem de 29 anos afirma ter sido vítima de sequestro relâmpago no bairro Jardim…

10 horas ago

Motorista é preso por embriaguez ao volante após bater carro em trator

Um homem de 48 anos foi preso em flagrante por embriaguez ao volante na noite…

10 horas ago

Justiça publica sentença contra acusados por crimes na ‘guerra do tráfico’ em 2011

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) publicou a sentença do júri…

10 horas ago

Grupo MC3 celebra o Dia do Síndico em noite de reconhecimento

Ver essa foto no Instagram Um post compartilhado por Marília Notícia (@marilianoticia)

10 horas ago

This website uses cookies.