Polícia

Fundação Casa: por dentro da unidade de Marília

Jovem conta que em outras unidades violência é comum

“Aqui ainda é bom. O duro era a Fundação Casa que fica no Brás, em São Paulo. Ali era tapa na cara todo dia”, conta um menor infrator que completou 18 anos e está atualmente instalado na Unidade Casa, em Marília, onde a equipe do Marília Notícia fez uma visita monitorada.

Essa é uma das unidades da Fundação Casa no município, voltada para internação e que abriga mais jovens do que permite sua lotação. Originalmente, eram 88 vagas, mas com uma tolerância de 15% a capacidade estendida passou a ser 101.

No entanto, hoje são abrigados 110 adolescentes ali – nove a mais. Na outra unidade localizada na cidade, que funciona no esquema semiliberdade, a situação é diferente: 26 vagas com algumas não preenchidas.

Recentemente, o jornal Folha de São Paulo denunciou a superlotação em dois terços de todas as unidades da Fundação.

Em entrevista ao Marília Notícia, o coordenador regional Júlio César Padovan argumentou, porém, que existe diferença entre “superlotação” e “excesso” de capacidade.

De acordo com ele, a Fundação Casa tem autonomia para definir sobre questões de lotação e, nas unidades onde a administração entender ser possível ir além da capacidade estendida, isso é feito. Como no caso de Marília.

Tanto Padovan, quanto o diretor da unidade, Carlos Augusto Martim Júnior, explicam, no entanto, que isso não prejudica em nada as atividades oferecidas aos jovens infratores.

Em todos os quartos um colchão é colocado no chão na hora de dormir.

CAMA NO CHÃO

É fato que em todos os quartos um dos adolescentes que divide o quarto precisa colocar o colchão no chão para dormir. Mas os responsáveis garantem que isso não é um problema.

De acordo com eles, apesar desse “detalhe” ninguém fica de fora das horas do ensino formal com professores da rede estadual, das atividades de lazer, educação física, curso profissionalizante oferecido pelo Senac e atividades como aulas de música por meio do Projeto Guri.

Ao Marília Notícia, todos os relatos dos menores infratores foram no sentido de que são respeitados pelos funcionários e que são bem tratados, apesar da exigência de uma disciplina rígida.

Ali dentro, eles recebem atendimento médico, odontológico e acompanhamento sócioasistencial e psicológico. Eles também têm acesso à biblioteca onde muitos realmente disseram passar as horas livres.

O objetivo é que sejam cumpridas as metas do PIA (Plano de Atendimento Individual) – acompanhado pelo Judiciário.

Para isso, cada vez mais as famílias são vistas como parceiras e convidadas a estarem sempre presentes na Fundação Casa, além dos finais de semana quando as visitas ocorrem via de regra.

Tráfico de drogas é o principal ato infracional cometido

REINCIDÊNCIA

Um dos jovens ouvidos pela reportagem recebia durante todo o dia a visita programada de seus pais, que faz parte do processo de fortalecimento de vínculos.

“Já passei por quatro internações desde os 14 anos, quando comecei a mexer com droga. Por conta de tráfico e roubo para comprar mais droga”, conta o mesmo rapaz que aparece no início desse texto abrindo a matéria.

O mais novo entre quatro irmãos, ele é o único que teve problemas com a polícia, disseram os pais. Uma das irmãs acabou de se formar como assistente social. Outros dois irmãos mais velhos são vigilantes, assim como o pai.

Abraçado à mãe e ao pai, o adolescente garante que agora quer mudar de vida. “Não dá pra ficar no crime não. Se eu errar de novo, é cadeia. Quero arrumar um trabalho e ser alguém na vida”, garante o jovem.

Maior parte dos jovens na Unidade Casa é primário

ATOS INFRACIONAIS

O caso é emblemático, pois é a mesma situação da maior parte dos jovens que estão ali dentro. O perfil dele, no entanto, é uma exceção em Marília no quesito reincidência já que a unidade é voltada principalmente para primeiras internações.

Dados do NUPRIE (Núcleo de Produção de Informações Estratégicas), mostram que os principais atos infracionais na Unidade Casa são tráfico de drogas e o roubo qualificado, respectivamente, com quase 50% e 40% casos.

Mesma os roubos, dizem os funcionários, quase sempre estão relacionados ao tráfico de drogas.

***

Esta é a primeira parte de uma série de reportagens sobre o tema produzidas pelo Marília Notícia. Na semana que vem, o assunto continua com nova matéria.

Confira abaixo algumas imagens da Fundação Casa em Marília.

Jovens têm aula com professores da rede de ensino do Estado, além de música, edução física e outras atividades

Horários são rigidamente controlados

Lotação supera em 9 pessoas o limite estendido de 101 vagas; inicialmente eram 88

Jovens têm acesso á biblioteca e cursos profissionalizantes do Senac

Leonardo Moreno

Leonardo Moreno é jornalista e atualmente cursa Ciências Sociais. Vê o jornalismo de dados como uma importante ferramenta para contar histórias, analisar a sociedade e investigar o poder público e seus agentes.

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