Marília e região

Febre do momento, bebês reborn são fabricados em Marília

Núria e Tiago produzem bebês reborn; loja ainda não tem em Marília (Foto: Arquivo Pessoal)

A onda do momento em todo o Brasil são os bebês reborn, bonecas hiper-realistas, que vão além do conceito de brinquedo, são verdadeiras obras de arte. Muitas se tornam companheiras dos proprietários. No país, inúmeras crianças e adultos já adquiriram uma, mas o que a maioria das pessoas não sabe é que existe uma fábrica funcionando na cidade, ou como é chamada, uma “maternidade”.

Há cerca de sete anos, Tiago Gomes e sua esposa, Núria Gomes, pais de um casal de filhos, iniciaram a importação de produtos infantis para uso próprio. Alguns desses itens, como roupas e produtos infantis usados, eram posteriormente vendidos nas redes sociais. Essa prática inicial gerou uma base de clientes interessados em artigos infantis, o que os levou a criar uma pequena loja online.

Nessa época, o casal começou a importar produtos para vender para a clientela e, por acaso, um dos produtos importados foi o bebê reborn. Tiago ainda não sabia do que se tratava. Foi então quem Núria teve a ideia de criar enxovais diferenciados para essas bonecas “reborneadas”, antes mesmo de conhecerem a fundo a arte reborn.

Ao se aprofundarem neste universo, vendiam razoavelmente bem, mas a qualidade das bonecas importadas da China não satisfazia. Decidiram então buscar conhecimento, fizeram cursos e começaram a produzir bebês reborn com mais detalhes e aperfeiçoando a técnica.

As vendas iniciais ocorriam em São Paulo, principalmente via marketplace do Facebook, com a entrega das bebês sendo feita no metrô pelo sogro de Tiago, que era taxista. Posteriormente, o casal expandiu para lojas online como Mercado Livre e Magalu, e criaram seu próprio e-commerce.

Equipe que produz bebês reborn em Marília; loja de fábrica em Marília é para mostruário (Foto: Arquivo Pessoal)

PÚBLICO INFANTIL E ADULTO

Embora o público predominante sempre tenha sido infantil, a fábrica notou um aumento significativo de compradores idosos e mulheres.

“O público sempre foi predominantemente infantil, mas hoje percebemos um aumento significativo de idosos e mulheres que estão sofrendo a ‘síndrome do ninho vazio’, quando os filhos crescem e vão embora de casa. Notamos uma tendência de crescimento de mercado, principalmente porque conseguimos a popularização do bebê reborn”, explica Tiago.

Para proporcionar uma experiência única na aquisição de um bebê reborn, a empresa criou em outras cidades as lojas físicas chamadas Berçário Mágico. O conceito é simular um berçário ou maternidade. Na loja, o cliente pode escolher o bebê que mais se identifica, dar um nome, personalizar a roupinha e passar por um “procedimento de alta”.

“Esse procedimento é conduzido por uma ‘especialista em reborn’, que atua como uma enfermeira. Ela realiza uma higiene no bebê, coloca talco e fralda, pesa, mede o perímetro cefálico e a altura, ‘ausculta’ o coraçãozinho, verifica o ouvido com otoscópio e faz o ‘teste do pezinho’, carimbando-o no livro do bebê. Ao final, é entregue uma certidão de nascimento personalizada”, revela o empresário.

Toda essa encenação visa criar um vínculo imediato entre o comprador (especialmente a criança) e o bebê. O cliente também leva para casa um livro do bebê com diversas atividades e espaços para registrar momentos e fotos.

FABRICAÇÃO MARILIENSE

Um dos grandes diferenciais da fábrica, segundo o empresário, foi a capacidade de “abrasileirar” o bebê reborn. Enquanto os kits reborn importados sempre foram caros e não previam, por exemplo, a cultura brasileira de dar banho nos bebês, a fábrica de Marília inovou.

Com escultores e ferramentas próprias, a empresa conseguiu modelar as peças de forma que braços e pernas se encaixam perfeitamente no corpinho de vinil, criando dispositivos internos não feitos de tecido para possibilitar o banho, algo específico para os consumidores brasileiros.

A fábrica de Marília, que conta com mostruário próprio, produz em média 60 bebês reborn por dia. Cada bebê, no entanto, leva em torno de três a quatro dias para ficar pronto, passando pelas etapas de forno, pintura, implante de cabelo e finalização. Além dos bebês, a empresa também fabrica ou terceiriza a produção de acessórios, como roupinhas e chupetas magnéticas, que agregaram valor nas vendas.

“Faz quatro anos que estamos com o galpão em Marília, sempre vendemos em marketplace e e-commerce próprio. Faz um ano e meio que a gente lançou a loja Berçário Mágico, vendendo não só o bebê reborn, mas também a experiência. A nossa primeira unidade da loja foi em Bauru, e dali a gente foi para a Grande São Paulo, mas a nossa base (fábrica) continua sendo Marília. Neste ano, nós já temos o projeto da sede própria. Se Deus quiser vamos ‘startar’ a sede própria em Marília. Eu fui criado em Marília, meus filhos estão todos aí, meus pais, então nossa ideia é continuar em Marília mesmo”, conclui o empresário.

A fábrica de Marília, que está instalada no Parque São Jorge, zona sul da cidade, conta com uma loja que funciona como mostruário para os clientes.

REALIDADE X FANTASIA

Além das oportunidades de novos negócios e empregos, o mercado de bebês reborn acabou arrastado para muito além das lojas, e passou a ser assunto recorrente nos consultórios médicos, em audiências judiciais e no Congresso Nacional. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) publicou em suas redes sociais que ter esse tipo de boneco não dá direito a licença maternidade, por exemplo.

Ou seja, o que era uma relação de comércio se transformou em problema de saúde mental. É o que aponta a presidente do conselho diretor do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Marília e região (GEP), a psicanalista Cibele Maria Brandão. “Torna-se preocupante quando o brinquedo substitui o bebê humano. Aí pode haver situações patológicas, se não se conseguir separar mais o que é real ou fantasia”, afirmou.

Segundo Cibele, o fenômeno está vinculado “à maneira como estamos nos estruturando e vivendo”, que “sempre traz consequências”. “Esse tipo de vida não favorece tanto a criação de vínculos reais bem próximos, nem intensos. Por isso, aparecem as substituições, como essa que vemos agora”, concluiu.

Alcyr Netto

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